quinta-feira, 8 de dezembro de 2022


03 DE DEZEMBRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

NA SAÚDE, O TEMPO É DECISIVO

São alarmantes os dados levantados pelo Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) sobre os atendimentos e procedimentos represados na área. Conforme a entidade, os dois primeiros anos da pandemia legaram 11,6 milhões de cirurgias eletivas e ambulatoriais atrasadas em todo o país. Outros 1,3 milhão exames diagnósticos deixaram de ser feitos. As conclusões foram levadas à equipe de transição do novo governo, que agora tem de se debruçar sobre as informações e encontrar meios para começar a recuperar este déficit.

Procedimentos como cirurgias ou exames, quando não são feitos no momento certo, tendem a levar ao agravamento do quadro de saúde da pessoa que necessita do atendimento. Tratamentos iniciados tardiamente têm menores chances de alcançar o resultado esperado. São vidas que estão em jogo. Note-se que, do total de 1,3 milhão de exames abaixo da média no período, 1 milhão são mamografias. Essa é a averiguação mais adequada para descobrir o câncer de mama de forma precoce, antes da detecção clínica. O diagnóstico feito no início do surgimento do problema eleva significativamente as chances de cura. Mesmo assim, é a principal causa da morte por câncer em mulheres no país.

Esse gargalo era previsível. Hospitais, demais unidades de saúde e profissionais da área centraram esforços, nos dois anos iniciais da pandemia, no atendimento às questões relacionadas à covid-19. O temor de contaminação também diminuiu a procura por outros serviços. Será necessário, agora, encontrar estratégias para acelerar a retomada desses procedimentos, um atraso que certamente se concentra entre a população mais carente e dependente do Sistema Único de Saúde (SUS).

Para o enfrentamento deste quadro preocupante, o Conass reivindica um aporte extra e emergencial de R$ 3 bilhões pelo Fundo de Ações Estratégicas e de Compensação (Faec), o que tornaria possível começar a recuperar a defasagem a partir do início de 2023. Mais recursos, por certo, ajudam bastante, mas é preciso ter em vista que o espaço orçamentário é limitadíssimo e, neste momento, há diversas outras áreas da administração pública disputando verbas para as suas demandas. Aguarda-se do novo governo uma análise acurada para a definição das prioridades. Trata-se aqui, por exemplo, de casos cujo pior desfecho pode ser evitado.

Verbas são necessárias, mas também são imprescindíveis ações que assegurem efetividade às medidas e alocação eficiente dos recursos. Melhorar a gestão, qualificar a parceria do governo federal com Estados e municípios, buscar maior resolutividade da atenção básica, aperfeiçoar a regulação, identificar prioridades regionais e a utilização da telessaúde são algumas das estratégias complementares possíveis para alcançar melhores resultados. Na saúde, o tempo é decisivo.

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