Da frustração ao ressentimento
O maremoto trumpista de 2024 levantou uma série de semelhanças com o bolsonarismo do passado, mas também foi além. A eleição de Donald Trump e as dificuldades de uma candidata que seguiu o manual das boas maneiras políticas antecipam muito do que se verá no Brasil nos próximos anos.
Com a tática em mente, discursos divisivos, ataques abaixo da linha da cintura e, sobretudo, a promessa de resolver os desconfortos desse eleitorado, alguns dos quais politicamente incorretos, encontram em Trumps, Bolsonaros e Marçais os novos paladinos de multidões que não se veem retratadas em candidaturas alienadas daqueles sentimentos mais íntimos.
A imigração é um exemplo. Esse é um não problema no Brasil, mas causa evidente incomodação a grande parte do eleitorado americano. Em vez de equacionar um problema óbvio, os democratas, e em especial a esquerda do partido, carimbam os que se opõem à imigração ilegal como preconceituosos, elitistas, malvados e por aí vai. A resposta veio nas urnas.
Não precisaria se chegar a um El Salvador para que políticos de todos os matizes finalmente reconheçam e resolvam as angústias mais profundas do eleitor. Do contrário, como identificou o jornal The New York Times, que ao longo dos últimos três anos, auscultou 680 eleitores em 61 pesquisas qualitativas, o que era frustração se transforma em ansiedade e depois em ressentimento. E ele, como se viu, desaguou na vitória acachapante de Donald Trump. _
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