sábado, 11 de janeiro de 2020


11 DE JANEIRO DE 2020
INFORME ESPECIAL

Harry, Meghan e o fim da inocência


"Papai Noel não existe" é fichinha. A semana nos brindou com o maior anticlímax de todos os tempos no encantado mundo dos contos de fadas. Um príncipe e uma princesa que não querem mais andar de carruagem, usar coroas e distribuir bondades entre os súditos. Harry e Meghan estão mais é a fim de curtir as maravilhas da América.

Tente explicar ao seu filhinho que ser príncipe é um saco. Tem que sorrir o dia inteiro, vestir roupas estranhas, ser simpático com pessoas que você não conhece e pelas quais tem, de fato, zero interesse. Ouvir dezenas de discursos chatos sem bocejar e fazer de conta, sempre, que você é justo e bonzinho.

Tente explicar para a sua filhinha que ser princesa é um tormento. Fotógrafos e fofoqueiros xereteando o tempo todo. Até tomar um banho de sol é complicado. Os drones estão em todas as partes. Sair na rua despenteada é pecado capital. Passear no shopping com as amigas? Nem pensar. E ainda tem uma rainha-mãe imortal, símbolo onipresente de regras rígidas de comportamento. Harry e Meghan renunciaram ao que gerações e gerações de crianças sonhavam ser. É o fim definitivo da inocência.

Nem mesmo a monarquia inglesa resistiu aos incômodos da era da superexposição. Harry e Meghan têm tudo o que milhões de mortais sonham ter. É certo que jamais enfrentarão problemas financeiros. Se derem meia dúzia de palestras por ano, por exemplo, terão mais do que o suficiente para viver bem. Além de tudo o que já possuem. Mas o que eles querem, aposto, é poder acordar num domingo e, de roupão, tomar café na sacada. Não conseguirão. Sempre haverá uma lente e um olhar atento, prontos a expor a intimidade alheia em troca de alguns clics e de uns poucos minutos de fama. Pelo menos, estarão livres de agendas oficiais e das xaropices pomposas de uma vida de faz de conta. E que Deus, sempre, salve a Rainha!

Joga pedra no Abraham Weintraub

Discordo de boa parte das ideias do ministro da Educação, Abraham Weintraub, mas julgá-lo pelos erros de português que comete é tão condenável como quando se fazia o mesmo com Lula. Falar certo ou errado não é indicativo de caráter ou de honestidade. A língua é viva e o conceito de erro muda de acordo com o ambiente e com a situação. Tanto que, em determinadas circunstâncias, a gramática acaba aceitando e acolhendo o que era erro, transformando-o em acerto.

Até mesmo escritores famosos e professores erram. Talvez, no caso do ministro, a maior falha tenha sido a de não passar seus textos por um revisor. Mas nada que justifique esse linchamento público. A língua portuguesa é difícil, cheia de regras e exceções. Ainda mais quando se trata das redes sociais, nas quais há mais flexibilidade e uma abundância de expressões e abreviaturas que não são regidas pela gramática formal.

Escrever "imprecionante", trocando os "ss" pelo "c" é errado. Mas alguém lembra da mensagem? Lá vai: "Caro @BolsonaroSP, agradeço seu apoio. Mais imprecionante: não havia a área de pesquisa em Segurança Pública. Agora, pesquisadores em mestrados, doutorados e pós-doutorados poderão receber bolsas para pesquisar temas, como o mencionado por ti, que gerem redução da criminalidade." Responda aí: é ou não é uma inissiativa que meresse aplauzo?

Encolhimento do PT atrapalha Bolsonaro 

Não foi Jair Bolsonaro quem ganhou a eleição. Foi o PT que perdeu. Boa parte dos votos dados ao hoje presidente da República foi motivada não pelos seus méritos, mas pela aversão a Lula e ao gigantesco esquema de corrupção que o cercava. O desgaste do petismo gerou uma onda de rejeição. Na época, Bolsonaro era o único, de acordo com as pesquisas, capaz de tirar a esquerda do poder. Então, liberais, conservadores, empresários e evangélicos se uniram em uma aliança de engenharia complexa, mas vitoriosa nas urnas. De olho na reeleição, Bolsonaro precisa de um PT. Lula desapareceu e seu partido encolheu. A ameaça socialista, um dos motes preferidos do ex-capitão durante a campanha, hoje é bem menor.  Nesse contexto, três cenários se desenham.

1 Bolsonaro ressuscitará Lula, dando a ele o protagonismo no papel de vilão.

2 O presidente encontrará um outro inimigo de igual poder.

3 O terceiro cenário é do vácuo. Com a esquerda murcha  e o centro esfacelado, Bolsonaro correrá sozinho.


O tempero definitivo dessas possibilidades é a economia. Se ela estiver bem – e os sinais são de que estará – a reeleição será mais fácil. No fim, é possível que Jair Bolsonaro tenha apenas um adversário com o qual se preocupar. Ele é poderoso, faz estragos e ocupa espaços. O nome dele é Jair Bolsonaro.

TULIO MILMAN

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