sábado, 2 de maio de 2020


02 DE MAIO DE 2020
OPINIÃO DA RBS

FALTA UM PLANO FEDERAL

O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, parece ter despertado para a dura realidade do país. Ou ao menos sentiu-se um pouco mais encorajado a admitir publicamente que o quadro de aumento acelerado de pessoas infectadas pelo novo coronavírus e a escalada do número de mortes não permite falar neste momento, em nível nacional, em um afrouxamento mais amplo das medidas de distanciamento social. Mesmo que possa contrariar seu chefe, na quinta-feira, duas semanas após assumir, pela primeira vez Teich foi mais enfático na defesa da ideia de que, por enquanto, seria irresponsável tratar de medidas que liberassem um número maior de atividades econômicas devido à curva ascendente de casos no Brasil.

Antes disso, o ministro se limitava a ressaltar a necessidade de ter mais dados sobre a pandemia no país e a comentar medidas como envio de respiradores e equipamentos para os hospitais. Ou seja, transparecia preocupar-se mais com o tratamento dos doentes e o preparo da estrutura de atendimento, o que também é vital, mas silenciava quanto à relevância do distanciamento social e a importância de evitar aglomerações, a melhor prevenção conhecida até agora para deter uma disparada descontrolada dos casos e o colapso da rede de saúde. 

A omissão parecia confirmar as inquietações de que Teich, tutelado, estaria mais interessado em não entrar em colisão com o presidente Jair Bolsonaro. O primeiro compromisso de um ministro da Saúde, no entanto, deve ser o bem-estar da população, e não adular quem o nomeou, ainda mais se o subproduto dessa subserviência for corroborar posturas que colocam brasileiros em risco. A nova postura, porém, traz os primeiros dissabores para o ministro, que passou a ser um novo alvo dos ataques de bolsonaristas mais radi­cais nas redes sociais.

Lamentavelmente, porém, Teich demora em mostrar seu plano de contenção da pandemia e ainda peca pela pouca coordenação com os Estados. Não precisaria muito para ter uma bússola e recomendá-la, no momento possível. O governo do Rio Grande do Sul já ofereceu repetidas vezes sua sensata proposta de distanciamento controlado ao Planalto. Com adaptações, é uma estratégia que poderia ser replicada sem grandes e inúteis complexidades em toda a federação. No Estado, as medidas previstas obedecem a um caminho iluminado pelo farol da ciência, com um planejamento detalhado. São possíveis neste momento pelo número de casos bem abaixo da média nacional e pela disponibilidade de leitos de UTI, mas levando em conta também particularidades regionais e diferentes graus de risco de ati­vidades. Quando chegar a hora, seria um plano de saída viável também para outras partes do Brasil.

Em vez de apresentar ou adotar uma ideia sólida, porém, o Executivo federal segue em sua atitude errática, na qual o ministro da Saúde parece a cada dia mais perplexo com a evolução do coronavírus, e o presidente, cada vez mais preocupado apenas com seu futuro político.

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