sábado, 9 de maio de 2020


09 DE MAIO DE 2020
RODRIGO CONSTANTINO

Temer melhorado

Bolsonaro foi eleito com um discurso de mudança e nova política, apesar de ter sido deputado por três décadas e emplacar três filhos na política. De fato, montou um ministério técnico, com nomes de peso como Paulo Guedes e Sergio Moro, sem divisão feudal entre caciques partidários. Apostou nas "bancadas temáticas" para ter governabilidade, assim como na pressão popular. Era uma aposta ousada.

A renovação do Congresso foi alta, mas restaram muitos ícones da velha política, do centrão fisiológico. Numa democracia tão fragmentada, era quase utópico imaginar o fim do "presidencialismo de coalizão". E Bolsonaro não estava disposto a partir para o "presidencialismo de cooptação", ou seja, para o mensalão petista. Restavam poucas alternativas concretas.

Uma delas era abrir mão de parte da agenda e montar uma base de apoio programático, ou seja, compreender que governar é priorizar as pautas mais relevantes e contemporizar. Afinal, em que pese a representatividade questionável num país sem voto distrital, os parlamentares também foram eleitos, representam parcela do povo tanto quanto o presidente.

Mas o estilo de Bolsonaro sempre foi o do confronto. Sua mentalidade militar enxerga apenas aliados fiéis ou inimigos mortais, sem região cinzenta. Construir consensos não é sua área, e sim implodir pontes. Influenciado pelo guru de Virgínia, a cizânia era inevitável. Começou rachando o PSL ao meio. É verdade que alguns ali eram oportunistas traidores mesmo, mas as constantes intrigas em nada ajudaram.

Veio a pandemia, e a postura do presidente se mostrou bastante inadequada. Ele tinha um ponto ao chamar a atenção para o lado econômico, mas fez isso de forma bem atabalhoada e até irresponsável. Ficou mais isolado ainda. Em meio à crise da saúde e ao desastre econômico contratado, Bolsonaro ainda conseguiu produzir uma enorme crise política. Perdeu o ministro Moro, um dos pilares cruciais que representava o lavajatismo no governo. Quase perdeu Guedes, que se sentiu traído em vários momentos.

Restou, para sobreviver, o baixo clero, blindando-se contra o impeachment. Na melhor das hipóteses, será um novo governo Temer, um pouco melhorado. Uma grande oportunidade perdida para o país. Uma pena!

RODRIGO CONSTANTINO

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