sábado, 9 de abril de 2022


09 DE ABRIL DE 2022
OPINIÃO DA RBS

A INDÚSTRIA TATEANDO NO ESCURO

Chama atenção a sondagem realizada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) junto a associadas que revelou setores com desempenhos díspares e uma grande variedade de problemas enfrentados pelas empresas. Enquanto há segmentos com bom desempenho e crescimento, outros estão estáveis ou enfrentam uma série de percalços das mais distintas naturezas e, em alguns casos, somadas.

Dessa forma, a entidade classifica o quadro atual como uma crise inédita. Não por sua profundidade, mas pela complexidade. Em resumo, há perplexidade com a significativa multiplicidade de incertezas. É possível afirmar que mesmo ramos que passam por uma conjuntura favorável têm de manter certa cautela, pela volatilidade do cenário. E isso traz uma dificuldade agoniante para o planejamento, algo essencial para companhias de qualquer porte.

O Brasil e o mundo vivem dias tensos. No cenário externo, há a guerra no Leste Europeu e a inflação global. A alta do juro nos EUA alimenta ainda mais hesitação. A maior economia do mundo entrará em recessão? Como se comportará o câmbio? O conflito na Ucrânia manterá por quanto tempo as commodities, como o petróleo, em alta? Existe chance de paz em quanto tempo? Qual será o impacto do recrudescimento da covid-19 na China em relação às cadeias de insumos? Os custos logísticos seguirão estratosféricos?

A miríade de dúvidas é também interna. A inflação doméstica é persistente, como mostrou ontem a alta muito acima do esperado do IPCA, com variação de 1,62% em março, acumulando 11,3% em 12 meses. Na agricultura, não há certeza quanto ao fornecimento de fertilizantes. Os preços das matérias-primas industriais sobem de maneira consistente, a taxa de juro está em patamar altíssimo, a economia permanece claudicante e a cereja indigesta no bolo é a eleição extremamente polarizada e nervosa que se anuncia. Com a atividade trôpega, repassar custos é um dilema. Com tantas inseguranças e interrogações sem resposta, a indústria parece estar tateando no escuro. A elevada oscilação do dólar ilustra a situação. No final do ano passado, a moeda norte-americana era negociada acima de R$ 5,70 e na última semana tocou nos R$ 4,60. Um negócio que hoje seria rentável, em poucos meses, pode se transformar em prejuízo.

Mesmo que a indústria venha nos últimos anos perdendo participação no PIB, tanto no país quanto no Estado, é um setor essencial para a economia brasileira. É fonte de inovação, desenvolvimento de tecnologias, remunera acima da média e exige maior qualificação da mão de obra empregada. Seu desempenho segue crucial para o Brasil. Os próximos meses, no entanto, se mostram desafiadores, e a inconstância que nubla o horizonte torna qualquer projeção temerosa. Tamanhas urgências lamentavelmente deixam em segundo plano pautas modernizantes de interesse do setor, como reforma tributária, melhoria da infraestrutura e medidas na área trabalhista. O ano em curso, repleto de desafios, parece cada vez mais um período de transição, à espera da redução das tensões internas e externas.

OPINIÃO DA RBS

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

14 de Setembro de 2024 MARTHA Mar e sombra Entre tantos títulos, cito dois: o magnífico Misericórdia, da portuguesa Lídia Jorge, e Nós, da b...

Postagens mais visitadas