sábado, 3 de julho de 2021


03 DE JULHO DE 2021
MARCELO RECH

Contra a desinformação pandêmica

Como nunca antes, jornalismo e ciência médica estiveram tão entrelaçados. Não é coincidência que jornalismo e medicina - duas atividades tão distintas - tenham reforçado na pandemia seus laços de dependência em favor da informação correta, da prevenção e da busca de menor sofrimento para a sociedade.

Além da falta de horário e da pressão constante, as profissões de jornalistas e de médicos compartilham uma série de similaridades, entre elas o fato de que navegam por mares de incógnitas mas têm por finalidade o acerto. Nem sempre diagnósticos de jornalistas e médicos estão corretos. Só que nenhum deles vive do erro. A reputação de jornalistas e médicos é o divisor de águas no sucesso das carreiras. Assim como na medicina, no jornalismo há centros de referência e outros nem tanto. Até o fato de se considerar boa prática se recorrer a outras opiniões é mais uma semelhança entre a turma de jaleco com a do bloco e da caneta.

Dependendo da cultura local, médicos e jornalistas têm formações e hábitos peculiares, mas são universais alguns conceitos de ética, como a regra primária de que não se pode mentir ou enganar pacientes e público. Há diferenças marcantes, contudo. Nem sempre é cristalino se identificar quem exerce jornalismo profissional daqueles que, na realidade, atuam no ramo da propaganda e das relações públicas - duas nobres atividades, mas que exigem transparência absoluta no propósito de suas mensagens. No Brasil, há um método simples para saber se um veículo ou jornalista faz jornalismo independente: se ele foi atacado durante anos pela esquerda no poder e hoje é hostilizado pela extrema-direita no governo, muito provavelmente ele se encaixa na definição de independência.

Embora trabalhem sem tréguas para que vidas sejam salvas, médicos e jornalistas também estão no centro de controvérsias nesta era de desinformação pandêmica. Muito justificadamente, os brasileiros aplaudem a dedicação dos profissionais de saúde, mas agora a 10ª edição da pesquisa de confiança na imprensa do Reuters Institute, ligado à Universidade de Oxford, também reconheceu o papel crucial do jornalismo. Realizada com 92 mil usuários de notícias online em 44 países, a pesquisa apurou que 44% dos entrevistados confiam na imprensa, seis pontos a mais do que na edição anterior, contra 24% dos que acreditam em notícias nas redes sociais. O Reuters Institute apontou ainda que o Brasil é o sétimo país em que mais se confia na imprensa - 54% de confiança, 14 pontos percentuais acima da Colômbia, segundo lugar na América Latina.

No fim, a pandemia acabou destapando o que devia ser uma obviedade. Na hora da doença, procure um médico para se tratar. E um veículo de comunicação profissional para se informar.

MARCELO RECH

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