sábado, 6 de novembro de 2021


06 DE NOVEMBRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

CLIMA, DISCURSO E PRÁTICA

A atenção dos mais importantes líderes e nações à Cúpula do Clima, que transcorre em Glasgow, na Escócia, mostra que o mundo de fato despertou para a inevitabilidade de ações para conter o aquecimento global e os eventos extremos que resultam desse desequilíbrio. O tempo está se esgotando. Os acordos, compromissos e acenos vão no sentido esperado de buscar metas mais ambiciosas para a redução das emissões de gases de efeito estufa, antecipando o atingimento de objetivos. No papel e nos discursos, pode-se dizer que a COP26 vai cumprindo a tarefa a que se dispôs.

O grande desafio, no entanto, estará posto quando esses mesmos líderes - presidentes, primeiros- ministros e ministros - retornarem para suas casas. Sem se colocar em prática as promessas, o planeta continuará agonizando e a vida na Terra seguirá cada vez mais hostil, com maior frequência de secas, ondas de calor, enxurradas e furacões, entre outros fenômenos. Cartas de intenções genéricas não ajudarão a mitigar o aquecimento do planeta. Muitos desses representantes de nações, de volta a seus países, terão de enfrentar seus problemas e afazeres domésticos. Crises políticas, turbulências econômicas e eleições. Corre-se o risco de virar uma agenda secundária, apesar de as resoluções definidas no Acordo de Paris, em 2015, serem um trato entre Estados, e não de governos passageiros.

Devem ser celebrados acordos como o fechado entre mais de cem países, entre eles o Brasil, para reduzir em até 30% as emissões de metano até 2030. Da mesma forma, é preciso exaltar o compromisso para acabar com o desmatamento também até o final da década. As economias mais ricas, no mesmo sentido, acertaram eliminar o uso de carvão também no horizonte até 2030. Para os países mais pobres, o limite será 2040. Mas é preciso lembrar que, excluindo-se os países em que autocratas e grupos se eternizam no poder, muitos dos atuais presidentes ou primeiros-ministros nem sequer estarão nas mesmas funções até lá. 

Nada impede que, no meio do caminho, surjam ou voltem a dar as cartas chefes de Estado ou de governo que minimizem ou desdenhem dos alertas quanto às mudanças climáticas. E, mais importante do que isso, é preciso mostrar em detalhes como serão executadas as ações necessárias para atingir as metas definidas pelo Acordo de Paris, em 2015. A promessa para reduzir a liberação de metano, por exemplo, fica fragilizada por não terem sido definidas as contribuições de cada país. A recente crise energética ilustra o quanto o mundo ainda é dependente dos combustíveis fósseis. A migração para fontes limpas, portanto, deve ser acelerada para que essa transição seja feita sem traumas.

Os compromissos brasileiros ilustram bem um certo ceticismo. Durante a COP26, o governo Jair Bolsonaro pactuou uma redução em 50% da emissão de gases de efeito estufa até 2030. Anteriormente, a meta era de 43%. Anunciou ainda ao mundo o compromisso de zerar desmatamento ilegal em 2028, uma antecipação de dois anos. Para cumprir essas promessas, as ações teriam de ser imediatas, algo pouco crível diante do histórico recente do governo de discursos que menosprezam a emergência climática e medidas que enfraquecem órgãos de fiscalização. Cabe apenas ao governo brasileiro atuar para reverter a desconfiança. Com medidas práticas. Assim, o Brasil poderá ser de fato protagonista na luta global para limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C em relação à era pré-industrial até o final do século.

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