sábado, 13 de novembro de 2021


13 DE NOVEMBRO DE 2021
J. R. GUZZO

Lula na Europa

O ex-presidente Lula - ex-presidiário, ex-chefe de palanque em comício de operário, ex-portento mundial ("he's the man", disse Barack Obama em sua então augusta posição) e virtual candidato a presidente da República - está de viagem pela Europa em cumprimento a mais um dos seus deveres de marketing eleitoral. É sempre melhor circular por Paris, alavancado por olhares de adoração de toda aquela gente que faz o tipo "europeu de esquerda", do que amassar barro no interior da Paraíba - mas aí é que está: toda campanha também tem os seus momentos de vida boa.

Para Lula, que enfrenta um tempo de chuva e frio por aqui - onde não pode sair na rua com medo de vaia -, este passeio de milionário pela Europa, com tudo pago e tratamento cinco estrelas, é o que poderia acontecer de mais gostoso no momento. Durante uns dias, pelo menos, ele vai viver uma das fantasias preferidas da esquerda de país rico - a de que Lula é um herói da classe operária, que nunca cumpriu pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, nunca se meteu com empreiteiro de obra e nunca teve ministro que delatou crimes de ladroagem no governo e devolveu dinheiro roubado.

Onde mais Lula pode viver esse tipo de conto de fadas? Só mesmo lá, onde 30 anos de propaganda na mídia e a necessidade de criar heróis populares vindos de terras distantes (Mandela etc.) fizeram dele uma espécie de santo padroeiro de tudo aquilo que a esquerda europeia mais gosta. Lula, por lá, é o homem que "acaba com a pobreza" (embora, por alguma razão, nunca tenha acabado com os pobres). Defende os índios. Salva os quilombolas, os transgêneros e as "mulheres". Faz reforma agrária. É o protetor das florestas, das nascentes e da ararinha-azul. Combate, com as próprias mãos e o risco da própria vida, o "capitalismo selvagem".

Quem não gosta de cair de cabeça nesse tipo de Terra do Nunca, onde só tocam a sua música e é proibida a entrada de realidades? Em Paris, por exemplo, logo em Paris, ele vai ter uma recepção de papa. A prefeita municipal, justo ela, é uma devota arrebatada - deu o nome de Marielle Franco a uma praça da cidade, para se ter uma ideia de quem é a peça, da festança que vai armar para Lula e da admiração sem limites da mídia. Lava-Jato? O que é isso? Não existe Lava-Jato em Paris. Campanha eleitoral assim dá gosto de fazer.

J.R. GUZZO

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