segunda-feira, 12 de setembro de 2022

10 DE SETEMBRO DE 2022
FRANCISCO MARSHALL

ESTATÍSTICAS

Como ciência matemática que coleta, analisa e apresenta dados, a estatística aplica-se a muitos campos do conhecimento e aspectos da vida prática, mormente ao estudo de populações e como amparo a processos decisórios. O termo estatística deriva do germânico statistik, aplicando-se à descrição de um Estado ou nação. Além da persistente preocupação com a inflação e com dados epidemiológicos, ora temos as pesquisas eleitorais, assinadas por profissionais de estatística. Na falta de um censo atual, as estatísticas podem nos informar e renovar a pergunta: que país é este?

O dado mais assombroso é que cerca de 32% do eleitorado atual do Brasil identifica-se com a barbárie e apoia a agressão ostensiva à civilidade. É assustador um percentual tão alto de pessoas convictas de que excremento é perfume. Entre 2016 e 2017, achava-se que este percentual não passaria de 17%, mas na eleição de 2018, com suas manipulações e golpes, 39% dos eleitores sufragaram o estafermo, correspondendo a 55% dos votos válidos, ou 26,19% da população total, que então era de 210 milhões de habitantes. 

Esse número assombra artistas e educadores: como trazer tal multidão de volta para o mundo educado de uma democracia contemporânea, com ciência, cultura, estado laico, respeito à natureza, à mulher, aos indígenas, às minorias, à livre opção sexual e aos direitos humanos, com sensibilidade social e liberdade? Eis o grande desafio cultural do Brasil.

Aqui, 100% das pessoas decentes consideram indecente o presidente mobilizar o povo para saudar seu pênis em comício no dia do bicentenário da independência do Brasil, mas há aqueles 32%, ou 31,9%, e muitos deles acham bonito bradar para o aparelho urinário do seu líder durante a festa cívica. 100% das pessoas honestas desconfiam muito dos pagamentos em dinheiro vivo para a compra milionária de 51 imóveis pelo bando presidencial, mas o que pensarão os tais 31,8%? Sejamos otimistas: alguns dos apoiadores daquele amigo de torturadores, milicianos e assassinos podem cair na real, e restarem menos de 31,7% de cativos no cercadinho.

Da população mundial de cerca de 7,9 bilhões de pessoas, já morreram 6,5 milhões de covid-19, correspondendo a 0,082% de óbitos da população total. No Brasil, com 215 milhões de habitantes, já perdemos mais de 684 mil vidas, correspondendo a 0,318% da população; é um índice 3,87 vezes maior que o número global. Caso se verificasse aqui o percentual mundial de mortes por covid-19 (0,082%), mesmo sem descontar-se o desvio do caso brasileiro, teríamos 172.430 mortes. Logo, o genocídio aqui ocorrido, por incúria, malícia, corrupção, ignorância, incompetência e outras irresponsabilidades, pode ser aferido estatisticamente: houve mais de 506 mil mortes indevidas; são as vítimas do genocídio brasileiro, um fato histórico terrível, que não deve ser esquecido - pois tu não gostarias de figurar nesta estatística. Ainda assim, 31,6% parecem apoiar ao senhor desse gadanho inclemente.

A matemática que ora importa é a de 2/10: ao menos 50% dos votos mais um, para uma nova era de vida digna no Brasil.

FRANCISCO MARSHALL

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