sábado, 2 de outubro de 2021


02 DE OUTUBRO DE 2021
+ ECONOMIA

Crise dos combustíveis trava venda da Refap à Ultrapar

O comunicado da Petrobras de que "finalizou sem êxito" a negociação com a Ultrapar para venda da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, foi uma surpresa. As duas companhias atribuíram o fracasso a "certas condições críticas". No mercado, havia temor do impacto na privatização de refinarias das sucessivas ameaças do presidente Jair Bolsonaro de intervenção na Petrobras e na formação de preços de refino. A mais recente ocorreu nesta semana, provocando resposta imediata da estatal, que reafirmou sua política de preços.

Um dos efeitos dessa situação é a depreciação dos ativos, o que dificulta um acordo sobre o preço justo entre comprador e vendedor. Na mais recente reunião com analistas de mercado, o CEO da Ultrapar, Frederico Curado, foi indagado sobre o eventual aumento do risco do segmento, inclusive diante dos sinais de Bolsonaro, e respondeu assim:

- Vemos a refinaria como possibilidade de grande retorno sobre o investimento. A nossa proposta, que foi selecionada pela Petrobras, dá bom equilíbrio entre risco e retorno.

João Luiz Zuñeda, diretor da consultoria Maxiquim, pondera que vender refinarias, que têm margens baixas, não é fácil não só no Brasil, mas em todo o mundo. Mas avalia que a interrupção das tratativas, depois de todos os sinais da Ultrapar de que avançava, pode sinalizar um "reposicionamento" da Petrobras:

- A política de preços de combustível pode estar afetando, mas algo pode ter mudado com o novo CEO (Joaquim Silva e Luna). Se fosse problema de preço, Guedes (o ministro da Economia) e o Castello Branco (CEO demitido por Bolsonaro) bateriam o martelo.

Para Ilan Arbetman, analista de Research da Ativa Investimentos, embora a compra pudesse criar sinergias para a Ultrapar, "o momento não é propício para investimentos que passariam da casa do bilhão de dólares em setor no centro das discussões nacionais e envolto em pressões de custo que extrapolam as discussões políticas que o envolvem".

Agora, a empresa capitalizada por vendas pode se interessar por uma das fatias regionais da Braskem e pela privatização da Sulgás, como indicavam os executivos. A Petrobras não desistiu da venda da Refap. Conforme a nota, "iniciará tempestivamente (no momento oportuno) novo processo competitivo para essa refinaria".

MARTA SFREDO

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