sábado, 9 de outubro de 2021


09 DE OUTUBRO DE 2021
DRAUZIO VARELLA

A VARIANTE DELTA E AS VACINAS

A variante Delta se dissemina pelo mundo. A partir de abril, quando surgiu na Índia, deu volta à Terra e já chegou em mais de cem países.

Embora as características da transmissão e a agressividade tenham variado de um país para outro, está claro que ela se transmite com mais facilidade do que as demais, fato que explica o aumento do número de casos em locais em que a pandemia estava relativamente controlada.

Com o avanço da vacinação em alguns países, os dados iniciais mostravam que mesmo pessoas vacinadas poderiam adquirir o vírus, mas teriam mais dificuldade de transmiti-lo aos que entravam em contato com elas. O aparecimento da variante Delta, no entanto, subverteu essa ordem.

A revista Nature faz uma revisão dos últimos estudos realizados no Estados Unidos, no Reino Unido e em Cingapura, que avaliaram a carga vira presente nas mucosas nasais de pessoas infectadas pela Delta. Neles, ficou demonstrado que a carga viral: 1) chegava a ser mil vezes mais alta do que a das variantes anteriores; 2) era semelhante em vacinados ou não.

No Estado americano de Wisconsin, o estudo conduzido por David O?Connor e colaboradores, no Madison and Danny County Health Department, avaliou as características das infecções ocorridas nos meses de junho e julho de 2021, em plena epidemia de Delta.

Os autores determinaram as concentrações do material genético do vírus presente nas secreções nasais, por uma técnica laboratorial que permite amplificar o DNA, até detectá-lo por meio de um sinal fluorescente.

Foram testados 719 pacientes infectados pelo coronavírus, 311 dos quais tinham recebido as duas doses da vacina da Pfizer ou da Moderna. A maioria deles apresentava, na mucosa nasal, níveis de material genético do vírus comparáveis aos dos não vacinados. Os autores concluíram que indivíduos vacinados são igualmente capazes de disseminar o Sars-CoV-2, mas os dados não permitiram estabelecer a relevância desse achado na transmissão comunitária.

Um inquérito relatado ao Centers for Diseases Control (CDC), dos Estados Unidos, analisou 469 casos novos de infecção pelo coronavírus, ocorridos como consequência de grandes aglomerações ocorridas na pequena cidade de Provincetown, no Estado de Massachussets.

Das 469 pessoas que se infectaram nessas aglomerações, cerca de 75% haviam recebido as duas doses da vacina. Os autores sequenciaram o material genético em amostras colhidas em 133 pacientes sintomáticos: 90% pertenciam à variante Delta. As concentrações do vírus nas secreções nasais dos vacinados foram semelhantes às dos não vacinados.

Todos os pacientes acompanhados no Houston Methodist Hospital, no Texas, tiveram o material genético do vírus sequenciado. Nesse grupo, o número de infectados pela variante Delta era três vezes maior do que os das demais variantes. Havia 17% de vacinados entre os infectados por ela. Os pacientes internados por terem adquirido o vírus Delta, tiveram estadia hospitalar mais demorada, observação que sugere diferenças biológicas entre as variantes.

Em Cingapura, foi realizada uma pesquisa para comparar a carga viral nas fossas nasais, entre vacinados e não vacinados que apresentavam sintomas da covid-19. Os resultados mostraram que, no decorrer da primeira semana, ambos apresentavam as mesmas concentrações do coronavírus, mas que elas caíam mais rapidamente nos previamente imunizados.

O United Kingdom REACT-1 Programme, conduzido pelo Imperial College, de Londres, publicou os resultados da análise de amostra colhidas ao acaso nos meses de maio e junho de 2021. Como esperado, ficou evidente que a variante Delta havia deslocado as demais, mas, em aparente contradição com os estudos que acabamos de citar, a carga viral nos fluidos nasais encontrada nas pessoas vacinadas foi mais baixa do que a das não vacinadas.

A explicação mais provável é a de que no estudo inglês as amostras foram colhidas ao acaso, portanto incluiu portadores assintomáticos não avaliados nos anteriores.

Esses dados nos ensinam que, mesmo imunizados, corremos risco de adquirir o vírus e de transmiti-lo aos que entrarem em contato conosco. Evitar aglomerações e usar máscaras protetoras são medidas muito necessárias, exatamente o oposto do que insiste em fazer o atual presidente da República, comportamento criminoso ao qual adere o subserviente ministro da Saúde, quando se posiciona contra a obrigatoriedade do uso de máscaras em lugares fechados.

DRAUZIO VARELLA

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