sábado, 9 de outubro de 2021


09 DE OUTUBRO DE 2021
DIÁRIOS DO MUNDO

As juízas caçadas pelos talibãs que condenaram no passado

Em guerras civis, não são incomuns massacres praticados por grupos que, ao chegarem ao poder, passam a perseguir quem foi desbancado. Foi assim quando os kosovares albaneses, caçados outrora por Slobodan Milosevic, buscaram se vingar dos sérvios nas Guerras dos Bálcãs.

No Afeganistão atual, onde o Talibã derrotado em 2001 voltou ao poder em 2021, agora passa a perseguir seus antigos algozes. E, nesse retorno, as magistradas têm sido os principais alvo. São caçadas pelos assassinos que condenaram, segundo denúncia da rede BBC, de Londres.

Conforme a reportagem, elas foram pioneiras dos direitos das mulheres, defensoras ferrenhas da lei e buscaram justiça para os mais marginalizados. Cerca de 220 juízas afegãs estão escondidas por medo de retaliação sob o novo regime.

Os relatos obtidos pela BBC são impressionantes. Uma delas, identificada como Masooma, julgou o caso de um membro do grupo pelo assassinato de sua esposa. O homem foi con­denado a 20 anos de prisão.

- Depois que o caso acabou, o criminoso se aproximou de mim e disse: ?Quando eu sair da prisão, farei com você o que fiz com minha esposa? - contou ela.

Depois que o Talibã voltou ao poder, em 15 de agosto, ela começou a receber mensagens em seu celular:

- Ele me disse: ?Vou te encontrar para ter a minha vingança?.

Todas as juízas receberam ameaças e, agora, encontram-se escondidas. Trocam de residência de tempos em tempos. Também tiveram suas casas revistadas por combatentes do Talibã.

Além do risco de violência, elas perderam o sustento de suas famílias. Estão sem salários e com contas bancárias congeladas. Procurado pela BBC, o comando da milícia, que agora é governo, diz que irá investigar as denúncias e repetiu a promessa de "anistia geral" para todos os ex-funcionários do antigo governo afegão.

RODRIGO LOPES

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