
Por que o sabiá anda cantando cada vez mais cedo
Quem vive na zona rural costuma dizer que o despertador da família é o galo. Em Porto Alegre, só pode ser o sabiá. Desde a chegada da primavera, não falha nunca: a cantoria vara as madrugadas, cada vez mais precoce, antes mesmo do nascer do sol. Noite dessas, um dos pequenos solistas emplumados abriu o bico na minha janela. Olhei para o relógio: 2h15min. Será que é normal?
Para tirar a dúvida, conversei com Paulo Fenalti, que divide com Fernando Jacobs a autoria do livro Aves do Rio Grande do Sul (Editora Aratinga, 454 páginas). É um guia de identificação com detalhes sobre 711 pássaros encontrados no Estado, dos mais comuns aos mais raros.
Fotógrafo especializado em captar imagens desses animais, Fenalti explica que existem diferentes tipos de sabiás em território gaúcho, incluindo espécies migratórias e residentes. Entre os habitantes fixos, está o sabiá-laranjeira, tenor magnífico de peito alaranjado.
A cantata noturna, segundo Fenalti, se tornou comum nos centros urbanos, e nós, humanos, somos a causa do despertar antecipado:
- Essa época é de reprodução, e quem canta a essa hora são os sabiás da cidade. A culpa é toda nossa. Eles precisam se fazer ouvir pelas fêmeas. Cantam cada vez mais cedo para driblar os ruídos que nós produzimos diariamente.
Apaixonado pelos bichinhos, Fenalti faz um apelo aos citadinos mais impacientes.
- Muita gente se irrita, mas é preciso ter empatia. Afinal, não podemos deixar o coitado do sabiá sem namorada, né? - brinca o fotógrafo.
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