sábado, 12 de julho de 2025


12/07/2025 - 12h34min
Martha Medeiros

O que pode ser mais potente do que um primeiro beijo?

É só a vida amenizando o peso dos dias e lembrando que toda relação adulta, sempre inicia com um resgate adorável da adolescência

Mas dentro de um carro, motor desligado, coração disparado, vem tudo à cabeça em um segundo.

Conversa entre amigas íntimas sempre nos leva de volta às farras dos nossos tempos de colégio. Daí que, dia desses, veio o assunto dos primeiros beijos: onde aconteciam? Existia uma situação recorrente? Várias. Durante uma caminhada na beira da praia. Numa festa que acabou dentro da piscina. Na porta do elevador. Na cozinha da mãe de alguém, durante um trabalho em grupo. Dificilmente se fugia ao clichê. Durante uma obturação dentária, na fila da comunhão e durante um assalto é que não ia rolar. Caso eu esteja sendo inocente, me conte tudo, quero detalhes. 

Então entrávamos na maturidade e, a partir daí, o primeiro beijo quase sempre acontecia dentro do carro, ao ser deixada em casa depois de um jantar, de um show ou de onde quer que o casal estivesse antes. Perfeito: ambos pertinho um do outro, ninguém olhando, música tocando, enfim, passamos a vida assistindo a este momento-chave nas novelas, quase dá para imaginar as câmeras em volta e o diretor gritando: ação!

Uma das cenas geniais de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, filme de Woody Allen, é quando ele convida a personagem de Diane Keaton para sair e, enquanto caminham pela calçada, durante um papo aceleradíssimo, ele estanca de repente e diz a ela: “Que tal se a gente se beijasse de uma vez para terminar com a tensão?”. Ela concorda, ele a beija por alguns segundos e então voltam a caminhar, prosseguindo a conversa do ponto onde haviam parado. Resolvido.

O que pode ser mais potente do que um primeiro beijo? Há um clima no ar, mas vá saber, pode ser apenas delírio de uma das partes. Nada parece estar acontecendo, mas se estiver mesmo acontecendo, só passará a valer a partir do primeiro beijo. É o que irá transfigurar a cena. Se antes as vozes eram graves, suavizam. Se antes havia cerimônia, ela se desfaz assim que os lábios se desgrudam. Se antes eram apenas amigos, agora se instalou a indefinição. O primeiro beijo remete ao início de uma nova fase – ou de fase nenhuma, pois tem isso também: se o beijo decepcionar, a fantasia termina ali mesmo.

Quando se está no meio da rua, no meio da pista, no meio de um bloco de Carnaval, não dá tempo de pensar nisso tudo. Mas dentro de um carro, motor desligado, coração disparado, vem tudo à cabeça em um segundo: que lingerie estou usando? Quando foi a última depilação? Estarei preparada para mais um turning point? Só conferindo. É fechar os olhos e se entregar ao desfecho habitual dos encontros às escuras. Poderá acontecer de tudo depois, inclusive nada. Não é assinatura de contrato. É só a vida amenizando o peso dos dias e lembrando que toda relação adulta, não importa a idade que se tenha, sempre inicia com um resgate adorável da adolescência. 

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