sábado, 26 de julho de 2025


26 de Julho de 2025
OPINIÃO - Opinião RBS

Ainda é preciso persistir na negociação

A menos de uma semana da entrada em vigor do tarifaço contra o Brasil prometido pelo presidente dos EUA, Donald Trump, não resta alternativa a não ser insistir na tentativa de abrir um diálogo com o governo norte-americano. A despeito da falta de interesse em negociar demonstrada até aqui pela Casa Branca, do lado brasileiro é dever esgotar todos os meios possíveis para encontrar algum avanço e evitar o pior cenário. 

Valem os esforços do Itamaraty, as buscas do vice-presidente Geraldo Alckmin para ter alguma interlocução com o primeiro escalão de Trump, as articulações da iniciativa privada junto a clientes, fornecedores e entidades empresariais norte-americanas e outros canais de conversação, como a delegação de senadores que vai a Washington.

O caráter político da chantagem de Trump dificulta ainda mais essa tarefa, é verdade. Afinal, o Brasil está prestes a enfrentar uma tarifa de 50% sobre as exportações para os EUA, o maior patamar até agora imposto pela Casa Branca, não por razões comerciais. Na carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump citou os processos enfrentados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e decisões judiciais que atingem plataformas digitais norte-americanas, mas se especula também incômodo com a atuação do Brics, bloco de emergentes que tem o Brasil como um dos principais membros. As justificativas de Trump são tão estapafúrdias que, noticiou-se na sexta-feira, os EUA ainda buscam base legal para a medida.

Nos últimos dias surgiram alguns sinais incipientes de pontos que poderiam ser explorados nas tratativas. A soberania brasileira e a independência do Judiciário, convém reforçar, não estão na mesa de negociação. Mas se impõe reiterar o interesse em tratar de temas econômicos, demonstrando que ambos os países perdem com uma taxa de importação proibitiva.

Um dos indicativos de possibilidade de negociação foi revelado por Alckmin, que manteve teleconferência com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. Nas palavras do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, o tom do diálogo foi o da busca pelo "ganha-ganha". Ou seja, com vantagens recíprocas. Em outra frente, senadores de diferentes linhas ideológicas terão compromissos a partir de segunda-feira com entidades empresariais e parlamentares norte-americanos.

Também foi revelado que, em reunião com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, manifestou o interesse norte-americano nos minerais críticos e estratégicos (MCEs) do país. Surge, portanto, outra pauta que pode evoluir. Negociar não significa entregar riquezas a estrangeiros, como sugere o nacionalismo embolorado, mas buscar conciliar benefícios para ambos os lados. A retórica agressiva de Lula, nesse sentido, atrapalha.

Ainda assim, é mandatório estar preparado para o cenário de o tarifaço de Trump ser praticado. Empresas e setores afetados necessitarão de apoio extraordinário. O governo federal já diz ter um cardápio de medidas. Na sexta-feira, o BRDE apresentou uma linha de crédito com juro subsidiado de R$ 100 milhões para as exportadoras gaúchas. Mas, mesmo que o tarifaço entre em vigor, deve ser mantida a racionalidade e a disposição para o entendimento. A retaliação é o último recurso. _

Conselho Editorial

José Galló

Empresário e membro do Conselho Editorial da RBS

contatoconselhoeditorial@gruporbs.com.br

A cacofonia do nosso tempo

A probabilidade de você ler este texto até a última linha é pequena. Não porque ele é mais ou menos interessante: simplesmente porque ingressamos na Era da Pressa.

A leitura de um texto ou a atenção dedicada a uma conversa não são mais as mesmas. As pessoas mal conseguem articular uma ideia antes de serem interrompidas. Todos nós estamos ansiosos, sem paciência, fazendo várias coisas ao mesmo tempo. Os debates se tornaram fragmentados. O raciocínio complexo tornou-se raridade. O tempo da reflexão, da análise, da qualidade das ideias se perdeu na urgência da reação imediata.

Essa pressa está comprometendo a vida. A leitura rápida de um título, de uma mensagem, o consumo fragmentado das redes sociais pode nos levar a avaliações superficiais e decisões erradas. Pensamentos mais elaborados mal têm tempo de se formar antes de chegar mais um alerta sonoro ou a tela acender mais uma vez. Definir o melhor a fazer exige ponderação, raciocínio e tempo. Mas cedemos lugar ao imediatismo, à urgência e à superficialidade.

Há poucos dias alguém me perguntou se é verdade que os Estados Unidos iriam lançar uma bomba no Brasil. Mas de onde surgiu isso? Dos boatos, delírios e teorias conspiratórias que pipocam a todo momento no nosso dia a dia. Tudo vira verdade, e assim vai se levando a vida aos trambolhões. O que deveria provocar indignação nos alerta para algo ainda mais grave: a erosão da capacidade coletiva de discernir o real do absurdo.

A cultura da urgência está também nas ruas. Observo, com frequência, carros amassados na traseira - e invariavelmente há um celular no painel, distraindo o motorista. A pressa está em todo lugar, como no trânsito, nos cortes bruscos, nas ultrapassagens forçadas, nas sinaleiras não respeitadas, nos atropelamentos, nas mortes evitáveis.

É nesse cenário de ruído e urgência que o jornalismo responsável precisa reafirmar sua vocação essencial: a verificação rigorosa dos fatos, a capacidade de análise e de mostrar contexto. A imprensa não é mais uma voz no caos: é um lugar de pausa, de profundidade e de responsabilidade. Quando tudo grita e nada mais tem valor, o conteúdo criterioso de uma reportagem bem apurada pode ser a diferença. Em tempos de decisões afobadas e vida sob pressão, a informação confiável torna-se não apenas necessária, mas vital. Que o jornalismo sério permaneça como farol, na contramão da crescente cacofonia de distrações e ruídos irrelevantes. 

OPINIÃO

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