
ENGAJAMENTO
Influência das redes sociais impulsiona buscas na feira. Pela primeira vez, a Feira do Livro de Porto Alegre, que ocorre até o dia 16 na Praça da Alfândega, conta com um time de influenciadores digitais. O objetivo é atrair e engajar o público. E, de acordo com livreiros, o trabalho tem reflexo no aumento na procura por livros e nas vendas
A Feira do Livro de Porto Alegre sempre foi um espaço de conexão - com os livros, com os autores, com a própria cidade. Na 71ª edição do evento, que ocorre até o dia 16 de novembro, essa conexão é também digital, atravessada por fatores como as comunidades literárias das redes sociais e a atuação de influenciadores especializados em literatura, cujo impacto pode ser medido diretamente nas bancas.
Há mais de 20 anos trabalhando na Feira do Livro de Porto Alegre, Andrea Braga, líder de banca na AJR Distribuidora, lembra que os efeitos práticos do fenômeno digital começaram a ser percebidos nos últimos cinco anos e vêm crescendo.
A livreira cita o BookTok, como é chamada a comunidade literária nativa do TikTok, como um importante canhão de vendas. É lá que os criadores de conteúdo publicam resenhas e compartilham indicações de títulos, que passam a ser procurados pelos seguidores - inclusive, nas bancas da Praça da Alfândega.
O efeito é praticamente imediato. Quando um livro começa a bombar no TikTok, o pessoal vem atrás. Tudo o que viraliza na rede social é muito procurado pelo público, principalmente os mais jovens. E é interessante que, quando eles descobrem que temos um determinado livro que está viralizado, indicam a banca para os amigos, e isso vai se retroalimentando - diz.
Entre os nomes mais procurados, Andrea cita as escritoras Colleen Hoover, Ali Hazelwood e Freida McFadden, além de Scott Cawthon e Kira Breed-Wrisley, responsáveis pela franquia Five Nights at Freddy?s, conhecida como FNAF. Segundo ela, a banca procura incluir em seu catálogo o que vem sendo difundido nas redes sociais.
Estamos sempre de olho no que está bombando. Muitos desses autores estão em editoras grandes, com as quais já costumamos trabalhar, mas se algum título mais independente viraliza, também tentamos incorporar. Nosso objetivo é oferecer aquilo que está sendo buscado, sem deixar de lado os títulos mais tradicionais - explica.
Clássicos
Livreira da banca Magia da Leitura, Janaine Peter diz que a influência digital atua também na revigoração da literatura nacional, uma vez que obras clássicas estão voltando a fazer sucesso a partir das indicações nas redes sociais.
Como exemplos, ela cita Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro, de Machado de Assis; Vidas Secas, de Graciliano Ramos; Incidente em Antares, de Erico Veríssimo; e A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga.
- É muito interessante ver livros que estavam adormecidos voltarem a circular. Cada vez mais as editoras estão investindo em edições mais trabalhadas para os clássicos, com ilustrações e capas diferenciadas, o que também influencia muito na decisão de compra - avalia.
Para a livreira, o trabalho dos influenciadores literários impacta de maneira substancial o movimento na Feira do Livro.
- Muitos adolescentes estão vindo ao evento por causa desse novo momento da literatura. É um público que, há alguns anos, não se fazia tão presente. Algumas pessoas dizem que o livro está morrendo, mas eu acho que ele está ressurgindo - reflete. _
Aposta em criadores de conteúdo é novidade
Do outro lado da cadeia, a influenciadora literária Bia Assad, do perfil @leituramista, celebra que o trabalho dos criadores de conteúdo traga resultados para a Feira do Livro.
- Eu recebo mensagens de pessoas dizendo que compraram um livro porque viram um vídeo meu. A internet ajuda a começar a conversa, mas a presença na Feira finaliza - afirma.
Carioca que se mudou para o RS, Bia faz parte do time de influenciadores oficiais da Feira do Livro. É uma novidade desta edição, que tem valorizado a força das redes sociais e dos criadores de conteúdo.
Júlia Barros, jornalista responsável pela comunicação digital da 71ª Feira do Livro, explica que a parceria com os influenciadores começou a ser planejada muito antes da montagem das bancas.
Com o intuito de tornar o evento literário ainda mais conectado ao novo momento da literatura, a organização convidou criadores de conteúdo a atuarem na divulgação.
- A ideia era consolidar um time de pessoas que incentivam a literatura e poderiam trazer mais público para a Feira do Livro. Quando o seguidor vê que o influenciador está participando, ele também sente vontade de participar. Isso repercute no engajamento das redes sociais e na visitação em si - explica Júlia.
Os conteúdos produzidos através da parceria estão sendo publicados nas redes sociais da Feira do Livro, com o objetivo de atrair e engajar o público.
A relação da Feira do Livro com o universo da influência literária não se restringe ao digital. Há oito anos, a programação abriga o Encontro Influenciadores Literários e Leitores, organizado pelas criadoras de conteúdo Tamirez Santos, do @resenhandosonhos, e Joi Cardoso, do @estantediagonal.
A edição deste ano, que ocorreu no último final de semana, reuniu 300 pessoas, lotando o Teatro Petrobras Carlos Urbim.
- Isso mostra como os influenciadores levam público para os eventos literários. O nosso trabalho agrega esse valor e impacta também as vendas, porque muitas pessoas compram somente os livros que indicamos - explica.
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