sábado, 8 de novembro de 2025

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08 de Novembro de 2025
EUGÊNIO ESBER

O ator, a prisão, a peça (2)

Pouco mais de um ano atrás, a PF prendeu Renato Duque, o ex-diretor de Serviços da Petrobras que estava foragido depois de ter sido condenado em definitivo a cumprir 39 anos de prisão por corrupção, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Como vários executivos da Petrobras, Duque havia caído nas malhas da Operação Lava-Jato por ser personagem importante no esquema de propinas pagas por empreiteiras que tinham contratos com a gigante do petróleo entre 2003 e 2012. Duque admitiu com resignação os crimes que cometeu. Ele não tinha saída mesmo, naquele Brasil que demonstrava ao mundo ser um país com autoridades que ainda tinham vergonha na cara. Devolveu aos cofres públicos o equivalente a mais de 20 milhões de euros que possuía em contas no Exterior - uma fortuna, sim, mas menos chocante que a dinheirama duas vezes maior devolvida por Pedro Barusco, um simples gerente da estatal.

Como registrei à época em ZH (O ator, a prisão, a peça, 21/8/2024), os brasileiros assistiram em horário nobre da televisão a um vídeo da confissão que Renato Duque fez, com serenidade, à Justiça Federal brasileira.

- Eu queria deixar claro, meritíssimo, que eu cometi ilegalidades. Quero pagar pelas ilegalidades, mas quero pagar pelas ilegalidades que "eu" cometi. (...) Se for fazer uma comparação com o teatro, eu sou um ator; (...) tenho um papel de destaque nesta peça, mas eu não fui e não sou nem o diretor e nem o protagonista dessa história.

Duque relatou que em 2012, em 2013 e em 2014 teve três encontros com Lula, que lhe fez perguntas e recomendações sobre contratos com a construtora de navios SBM e sobre o projeto de sondas. Duque se disse surpreso com o nível de informação do então ex-presidente sobre esses assuntos. "Nestas três vezes", narrou Duque, "ficou muito claro pra mim que ele tinha pleno conhecimento de tudo... e detinha o comando".

A defesa de Duque pediu anulação do processo baseada na tese farsesca do "conluio" entre juiz e Ministério Público na Lava-Jato, e o caso foi parar na segunda turma do STF. Diante de tão grotesca roubalheira, nem mesmo o ministro Dias Toffoli, que se especializou em descondenar os corruptos flagrados pela Lava-Jato, aceitou a alegação da defesa. Mas Gilmar Mendes resolveu livrar Duque, e agora eis que Toffoli, chamado ao "VAR", embarcou na mesma decisão. Fosse numa partida de futebol, das arquibancadas ouviríamos um uníssono "Marmelada"!

Faltam os votos de três ministros, ainda. Sugiro que assistam aos vídeos da confissão de Renato Duque. E comecem a retirar o Judiciário brasileiro do descrédito absoluto.

É pedir muito?

EUGÊNIO ESBER 

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