Foco
Parece coreografia de piscina de resort. Todos para a direita, todos para a esquerda. Mãos para o alto, balança a cintura, dobra a perna. O Congresso tem vivido dias de dançar conforme a música tocada nas redes sociais. Na tentativa de responder a tudo, apressa debates e, muitas vezes, os abandona com a mesma rapidez com que um story desaparece do Instagram.
Quando o youtuber Felca escancarou o que muitos se recusavam a enxergar, o holofote ficou por semanas sobre a adultização de crianças e adolescentes. O tema, antes empurrado na fila, virou pauta urgente. Projeto votado, aprovado e transformado em lei para proteger menores no ambiente digital. É positivo tirar assuntos relevantes da gaveta, mas também revela que foi preciso um maestro externo para que a priorização acontecesse.
A operação da Polícia Federal que expôs a roubalheira comandada de dentro do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) nos últimos anos exigiu que governo e Congresso corressem atrás de informações e até de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Neste mesmo ano, a fila do INSS chegou ao maior patamar. O esforço para conter a corrupção acabou travando ainda mais a razão de existir do órgão, que há tempos não atende a população como deveria.
O vento também soprou forte sobre outro assunto urgente. Só depois de uma megaoperação policial no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho, com mais de uma centena de mortos e outra de presos, o Congresso voltou a olhar para o endurecimento de penas contra facções criminosas. Foi preciso o choque das imagens e dos números para que o projeto, parado havia meses, voltasse a andar. Por outro lado, as fraudes do Banco Master e do BRB, mostradas nessa semana, ainda não geraram essa reação dos parlamentares brasileiros.
Mesmo assim, prefiro olhar o lado bom. Talvez Brasília esteja finalmente ouvindo e enxergando o que acontece fora do mundo mágico dos privilégios próprios. O Brasil precisa de uma agenda estratégica, que mire o que é prioridade agora e também o que será fundamental nos próximos anos. É necessário escutar o que a população quer e precisa, e não apenas o que viraliza no calor do momento. Não são debates de três minutos nem vídeos com milhões de visualizações que vão fazer o futuro do nosso país.
Sabemos que 2026 terá pauta única. A eleição para Câmara, Senado, Presidência, Assembleias e governos estaduais vai tomar conta de todo o debate nacional. Até lá, o desafio é que os passos dessa dança não sigam apenas o ritmo da internet, mas o ritmo real do país. _
ANDRESSA XAVIER
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