sábado, 22 de novembro de 2025


22 de Novembro de 2025
PANORAMA NO RS

PANORAMA NO RS

Informalidade no Estado já atinge 1,8 milhão de trabalhadores

No Rio Grande do Sul, o desemprego atingiu o menor patamar dos últimos 13 anos. Por outro lado, atuação sem registro permanece no mesmo nível há quase uma década, cerca de 31,2% da população. Especialista aponta falta de orientação sobre processo de formalização

Em meio às movimentadas ruas de Porto Alegre, o motorista de aplicativos André Luis Silva do Nascimento, 33 anos, enfrentou um acidente de trânsito. Foi esse fato que o fez refletir sobre o desamparo da informalidade.

Há dois anos sem carteira assinada, ele encontrou nas entregas uma forma de manter as contas em dia. Entretanto, o trabalho sem registro não lhe garante acesso a benefícios sociais nem à aposentadoria por tempo de contribuição. A realidade vivida por André reflete o que enfrentam 1,8 milhão de gaúchos que atuam na informalidade.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados no segundo trimestre de 2025, o desemprego no Rio Grande do Sul atingiu a menor taxa dos últimos 13 anos. Por outro lado, a taxa de informalidade permanece estável há quase uma década, cerca de 31,2% da população.

De acordo com Walter Rodrigues, coordenador da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) no Rio Grande do Sul, o número de pessoas sendo contratadas vem aumentando, o que ajuda a reduzir o desemprego. Porém, esse crescimento não acontece de forma similar em todos os setores da economia.

- Nós temos ramos da economia, como a indústria, por exemplo, onde há uma maior formalidade, mas cresce menos do que outros ramos. Já comércio e serviços têm um crescimento maior de emprego, porém a formalização é menor, enquanto a informalidade é maior. Então, os setores da economia que mais crescem são justamente aqueles onde há maior informalidade - pontua o pesquisador do IBGE.

Por isso, mesmo com a queda do desemprego, a informalidade diminui lentamente. No RS, por exemplo, 266 mil pessoas seguem desempregadas.

Reflexos

Logo após ser demitido, André começou a trabalhar 12 horas por dia como motoboy, atuando com aplicativos de entrega para sustentar a família. Sua esposa também estava desempregada.

A partir do acidente de moto, ele não teve apenas um choque físico, também sofreu um impacto psicológico. Então, reparou que deveria regularizar sua situação profissional:

- Quando sofri o acidente, me deu um estalo. Se eu me acidentar, eu não vou ter ali um recurso, algum valor, até eu poder voltar a trabalhar. Nosso serviço é perigoso, o risco de não voltar para casa é diário.

Na sua visão, parte dos trabalhadores informais não conhece ou não tem acesso a informações que os auxiliem a sair da informalidade.

O mesmo pensa a professora de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Wendy Carraro:

- Microempreendedor Individual (MEI), por exemplo, veio como uma forma de se apoiar um empreendedor, uma pessoa que trabalha de forma informal, mas tem uma "formalização". A gente pode ter mais orientações sobre isso. Precisamos educar melhor as pessoas. A informalidade acaba causando uma certa insegurança. Ao formalizar, mesmo como MEI, a pessoa tem pelo menos uma segurança.

André afirma que só conseguiu entender como se organizar financeiramente após alguns meses, já que sua renda não era mais mensal, e sim, diária.

- Essa é uma das maiores barreiras iniciais, porque tu acaba pegando dinheiro todos os dias. Tu tens que saber administrar aquele dinheiro, saber juntar, guardar, para poder pagar uma conta, uma conta maior. Foi um desafio bem grande pra mim e só agora eu estou conseguindo me organizar melhor - reflete. _

Esta reportagem foi produzida por Madu Ferreira, aluna de Jornalismo na PUCRS, que está entre os 5 vencedores da edição 2025 do projeto Primeira Pauta RBS

Economia para equilibrar as contas

Cleyton Oliveira dos Santos, 36 anos, encontrou nas sinaleiras uma forma de sustento, após ser demitido de um emprego na área da saúde. Já são mais de seis anos trabalhando como vendedor ambulante em um cruzamento da Capital.

Seu primeiro produto foi a paçoquinha. Hoje, as opções aumentaram e vão desde água mineral até aromatizantes de carro. Ele chega ao semáforo das avenidas Borges de Medeiros e Ipiranga às 6h30min e, às 10h, segue para a segunda jornada: entregador de delivery.

Nesta área, atua há um ano, quando ampliou sua jornada buscando investir no sonho de montar o próprio negócio em um ponto comercial. Técnico em Administração, Cleyton afirma que sempre soube controlar suas despesas e que, para tirar férias, o segredo é saber equilibrar:

- Eu tiro um mês. O segredo do empreendedorismo é você saber controlar o salário. Eu tenho uma logística em cima disso, sou um cara super econômico. Procuro sempre me equilibrar - conclui, enquanto espera o sinal fechar para seguir com as vendas.

Apesar da flexibilidade, da renda mais alta do que o salário mínimo e de um paralelo com o empreendedorismo, a informalidade nem sempre gera benefícios para o indivíduo e para o Estado.

Segundo a economista Wendy Carraro, o governo deixa de arrecadar impostos e contribuições previdenciárias que garantiriam direitos básicos e investimentos públicos. Por outro lado, o trabalhador perde a proteção garantida pela CLT, a contribuição ao INSS e o acesso a benefícios que só existem na formalidade.

Ela explica que, muitas vezes, a própria situação econômica leva trabalhadores e empregadores a optarem por esse tipo de vínculo, já que a formalização pode representar custos mais altos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

22 de Novembro de 2025 DRAUZIO VARELLA O STF e os aditivos saborizantes no cigarro Misturar ao fumo produtos químicos com gosto de chocolate...

Postagens mais visitadas