
Master já deflagrou mudanças no FGC
A quantidade de compradores de CDBs superfaturados do banco Master levou o aplicativo do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) ao topo do ranking de aplicativos mais baixados por brasileiros na terça-feira. Nas contas do próprio fundo, até 1,6 milhão de aplicadores terão direito a compensação de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ.
Isso significa que o fundo terá de desembolsar R$ 41 bilhões de seu total de patrimônio de R$ 160 bilhões, dos quais R$ 122 bilhões são de recursos líquidos em caixa - todos dados oficiais do FGC. Por isso, o caso Master não é um evento, digamos, regular. Vai consumir 33,6% do volume de dinheiro disponível no instrumento que ajuda a garantir a confiança no sistema financeiro nacional. Esse terço gasto terá de ser recuperado, o que significa um custo a mais no sistema.
Os bancos vão depositar, mas não precisa muito exercício mental para saber para onde vai a conta final: os consumidores de produtos financeiros mais cautelosos vão pagar pela aventura de Daniel Vorcaro como banqueiro. E de seus clientes que apostaram em seus CDBs que pagavam muito acima da média de mercado, mesmo os que foram alertados sobre os riscos envolvidos.
Se é verdade que boa parte dos clientes não tinha a mínima ideia de como o banco pretendia pagar um rendimento tão acima da média, outros tinham consciência de que isso não se sustentaria no tempo. Logo depois do anúncio da venda do Master, o Conselho Monetário Nacional (CMN) ajustou as regras do FGC. As mudanças deveriam valer a partir de 1º de junho de 2026. Com o tranco da movimentação bilionária, podem ser antecipadas.
Risco maior, contribuição maior
O principal objetivo das mudanças é desencorajar práticas agressivas na captação de recursos, caso da promessa de retorno mais alto do que a média do mercado. Na prática, instituições com alta alavancagem - empréstimos acima de 10 vezes o valor de seu patrimônio líquido ajustado - terão de aumentar sua contribuição para o FGC. Hoje, os bancos pagam 0,01% ao mês do total dos depósitos que podem ser protegidos pelo fundo. Quem quiser ter perfil mais arriscado teria taxa duplicada, chamada de "contribuição adicional". _
Compliance zero
A operação da Polícia Federal que envolveu sete mandados de prisão e 25 de busca e apreensão é chamada Compliance Zero. A expressão vem do termo em inglês usado no universo empresarial, não só no financeiro, para designar o conjunto de práticas que garantem o cumprimento de leis, regulamentos, normas éticas e políticas internas. Ao definir os dois alvos - Master e BRB - como zero, a PF indica que era inexistente nos dois bancos.
Em dia de cautela no mercado, o dólar avançou 0,38%, a R$ 5,338. Investidores esperam com ansiedade dados da economia dos EUA que serão liberados hoje, em pleno feriado. Vão fazer preço no Brasil na sexta-feira.
13 produtos exportados do RS aos EUA têm redução de tarifa
A decisão de Donald Trump de suspender a "tarifa recíproca" de 10% só se aplica a 13 produtos exportados do RS para os EUA. Considerando os envios do Brasil todo ao mercado americano, a medida afeta 65 bens. O levantamento é do núcleo de Competitividade, Economia Regional e Internacional da Unisinos, com base em análise preliminar da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Em 2024, as exportações gaúchas desses 13 produtos somaram US$ 43,7 milhões, 2,4% do total enviado pelo Estado para os EUA no ano passado.
Um desses 13 itens, o suco de laranja, ficou livre de qualquer taxa de importação, porque já estava isento do tarifaço aplicado sobre o Brasil. Os outros 12 passaram a ter alíquota total reduzida, mas ainda vão enfrentar taxação de 40%.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), nos três primeiros meses de tarifaço, as exportações do RS para os EUA caíram 34% em relação ao mesmo período do ano anterior. Essa queda representa perda de US$ 155,6 milhões. _
produto US$ milhões
Carne bovina cong. 22,1
Processados de bovino 17,1
Extratos de café 1,9
Sucos de laranja cong. 1,1
Mate 0,6
Sucos de outros cítricos 0,6
Bebidas não-alcoólicas 0,2
Sementes 0,02
Geleias de frutas 0,01
Chá verde 0,01
Frutas de casca rija 0,005
Chá preto 0,0005
Fécula de mandioca 0,0005
Por que demorou a intervenção do BC?
Depois da liquidação do Master e da prisão de seu proprietário, Daniel Vorcaro, Banco Central (BC) e Polícia Federal (PF) passaram a expor os motivos das duas medidas. Mesmo em um país tristemente habituado a fraudes, essas surpreendem. Uma das mais espantosas é a do "esquema" da fraude que permitiu injeção de R$ 16,5 bilhões de um banco público, o Banco de Brasília (BRB), dos quais R$ 12,2 bilhões foram totalmente sem lastro, conforme a PF.
Nesse caso, segundo a investigação, "sem lastro" significa uma planilha, sem qualquer base real, de operações de crédito consignado inexistentes que o Master teria "vendido" ao BRB em troca dos repasses feitos para dar sobrevida ao banco privado. Essa foi a causa do afastamento, por decisão judicial, do presidente, Paulo Henrique Costa, e do diretor financeiro do banco público, Dario Oswaldo Garcia Júnior. Para deixar claro: os R$ 12 bilhões em operações de crédito não existiam, foram "fabricados" no papel.
A fraude é tão grosseira que fez muitos brasileiros perguntarem por que o BC não tomou antes a decisão de liquidar o Master. Uma das explicações é que, depois de descoberto, o esquema parece tosco, mas estava embrulhado em vários fundos com participação em outros fundos, em cascata. Só começou a ser desvendado quando foi feita a inusitada proposta de compra de um bancão por um banquinho. O BC pediu documentação para justificar a transação e, depois de remover muitas camadas, chegou a essa peça reveladora.
Nos cinco meses que separam o anúncio de venda, em 31 de março, ao veto definitivo do BC para a operação, em 3 de setembro, não houve só abertura técnica de fundos.
- A pressão política foi gigantesca no Banco Central - explicitou ainda na terça-feira o presidente da Associação de Auditores do BC, Thiago Cavalcanti.
Até agora, só se sabe que houve um projeto de lei apresentado em regime de urgência para permitir que diretores do BC fossem demitidos pelo Congresso, como a coluna relatou.
Se o Brasil conhecerá todas as conexões políticas do Master que levaram a esse absurdo legislativo, vai depender muito do liquidante do banco privado. Até agora, não foram quebrados sigilos, nem bancários nem os chamados "telemáticos" - aplicativos de mensagens, telefones. Caso a investigação avance o suficiente, 2026 será um ano eleitoral movimentado. _
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