
08 de Novembro de 2025
OPINIÃO RBS
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Entre a desconfiança e a esperança
A COP30, em Belém (PA), começa oficialmente na segunda-feira sob um ceticismo que é apenas fruto dos resultados das conferências do clima anteriores. O histórico mostra governos concordando com a urgência de cortar as emissões de gases causadores do efeito estufa para frear o aquecimento do planeta, mas tergiversando quando são instados a implementar as ações necessárias como uma busca efetiva para diminuir a dependência de combustíveis fósseis. Os países ricos, provocados a financiar a transição energética nos emergentes, igualmente escapam de assumir esse compromisso.
O grande desafio da COP30, portanto, é fazer com que as nações que ao menos compreendem a gravidade da situação e se dizem dispostas a fazer a sua parte passem das palavras à execução. O desfecho do evento realizado no coração da Amazônia dirá se haverá outra frustração ou se será possível acordar um mapa do caminho para enfrentar de fato os temas mais inquietantes.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente alertou, no início do mês, que é improvável alcançar a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C até o final do século, definida pelo Acordo de Paris, 10 anos atrás. O planeta, febril, se encaminha para um aumento da temperatura de até 2,5°C na comparação com a era pré-industrial. Os resultados podem ser catastróficos, como bem sabem os gaúchos, que ainda tentam se reerguer da enchente destruidora de maio do ano passado e veem estiagens recorrentes espalhar prejuízos.
Para superar a desconfiança e semear esperança, a COP30 precisaria ser finalizada com planos críveis formados por etapas bem definidas, prazos e metas. É preciso respostas sobre como viabilizar a diminuição paulatina do uso de combustíveis fósseis, como zerar o desmatamento das florestas tropicais, como estruturar mecanismos para nações em desenvolvimento financiarem a sua transição energética e como acelerar a adaptação para um clima que já mudou e, indica a ciência, tende a ficar mais hostil.
É pouco plausível, por exemplo, alcançar o financiamento de US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 que seria necessário para amparar as nações emergentes, conforme proposta das presidências da COP29, no Azerbaijão, e da COP30. Chegar a essa quantia monumental se torna mais improvável diante da postura dos EUA, país mais rico do mundo, que sob Donald Trump se afasta de qualquer compromisso climático.
O próprio Brasil, que tenta ser um líder no tema, é pródigo em contradições. Prega a necessidade de o mundo se afastar dos combustíveis fósseis, mas renova as apostas na exploração do petróleo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que a matriz suja financiará a energia verde. Esse é um exemplo da dificuldade de harmonizar o discurso idealista com a vida real, diante de uma economia ainda muito dependente do petróleo. Parece ser promissor, por outro lado, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, lançado pelo Brasil na quinta-feira, durante a cúpula de líderes, evento pré-COP.
Não são poucos ou banais os impasses que a COP30 precisa solucionar. Vencê-los dependerá, em primeiro lugar, da disposição dos países de estabelecer um ambiente de colaboração para agir em conjunto contra a crise climática.
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