sábado, 12 de outubro de 2024


De âncora a possível acelerador

Uma das âncoras que manteve a inflação dentro da meta no ano passado, os alimentos exercem pressão inversa em 2024. Com mudança climática intensa, que vai desde aguaceiros até estiagens severas, esse grupo acende alerta para o potencial da alta geral de preços no fim deste ano e possibilidade de novo estouro do teto da meta, após breve pausa no ano passado.

O ramo de alimentação em casa acumula alta de 6,27% em 12 meses fechados em setembro no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No mesmo período do ano passado, apresentava queda de 0,78%. Mas o cenário era diferente, com safra melhor, seca menos intensa, preços internacionais em retração e custos menos pesados aos produtores.

Agora, esse segmento está bem acima da média. O IPCA de setembro mostrou que a inflação acumula alta de 4,42% em 12 meses - apenas 0,08 ponto percentual abaixo do teto da meta estipulada para 2024.

Como os alimentos concentram um dos maiores pesos dentro do indicador, a escalada pode gerar projeção de inflação acima do esperado.

Um dos itens que chama a atenção dentro do grupo de alimentos em setembro é o composto pelas carnes, uma das principais fontes de proteína nas mesas das famílias. Na avaliação de especialistas e do IBGE, a falta de chuva e o clima seco afetam a oferta do produto. Além disso, o período de entressafras se soma a esse cenário, inflando os preços. O problema é de que esse aumento de preços ocorre em um cenário de demanda menor em algumas classes econômicas.

Juro no radar

Resta saber como uma eventual alta mais intensa da inflação vai afetar a dinâmica do novo ciclo de alta do juro básico no país. Para a próxima reunião, que ocorre em novembro, parte do mercado enxerga um aumento de 0,5 ponto percentual na taxa - hoje em 10,75% ao ano.

A soma de inflação acima do esperado com economia que desacelera em ritmo lento aumenta a expectativa sobre a força dos próximos acréscimos na Selic e até quando essa nova etapa de alta seguirá. _

O dólar atingiu o maior patamar em um mês, com alta de 0,5%, para R$ 5,615. Fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil voltou a afetar a percepção sobre risco fiscal.

Aluguel desacelera

O preço do aluguel em Porto Alegre subiu 0,35% em setembro, menor alta desde junho, quando começaram a ser sentidos os efeitos da enchente. Foram registrados resultados históricos em julho e agosto, com aumento de preço de 3,45% e 3,85%, respectivamente, maiores de toda a série do Índice de Aluguel QuintoAndar Imovelweb, iniciada em 2019.

- O que se vê é uma acomodação. Precisa acompanhar para entender se é tendência - afirma o gerente de Dados do Grupo QuintoAndar, Thiago Reis. _

Serviços com pé no freio

Se de um lado a Pesquisa Mensal de Serviços, divulgada sexta-feira pelo IBGE, reforça sinais de desaceleração da economia do país, com recuo de 0,4% no setor de serviços, de outro, camadas do indicador apontam que o consumo das famílias segue aquecido e freando queda maior.

Fica a dúvida de até quando esse movimento vai seguir diante de um cenário cada vez mais restritivo no horizonte. Inflação e juro iniciando novo ciclo de alta são alguns dos pontos que reforçam esse ambiente de desconfiança. _

Metade ainda luta contra enchente

Pesquisa da Fecomércio-RS mostra que 54% do setor atacadista gaúcho ainda não está financeiramente recuperado da enchente de maio. Entre as empresas que seguem operando com efeito da enxurrada, 78,3% preveem ao menos mais de três meses para se reerguer (veja tabela ao lado).

Realizada de 12 de agosto a 28 de setembro, a pesquisa ainda indica que 92,5% dos entrevistados foram atingidos pela cheia, sendo 21,3% diretamente, e 71,2% indiretamente.

Período necessário para se recuperar

tempo %

Até três meses 21,7

Três a seis meses 35,6

Seis meses a um ano 33,7

Um a dois anos 9

GPS DA ECONOMIA 

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