sábado, 12 de outubro de 2024


12 de Outubro de 2024
MARCELO RECH

Outras vozes das urnas

Além de apontar eleitos e candidatos ao segundo turno, as urnas do 6 de outubro desenharam algumas pistas sobre a realidade e o futuro político do país. Aqui alguns dos efeitos colaterais da eleição.

Abstenção - Está na hora de encarar a realidade. O alto índice de não comparecimento - em Porto Alegre chegou a quase um terço do eleitorado - demonstra que, na prática, o voto obrigatório caiu por terra. Menos de 20 países mantêm a obrigação de ir às urnas, um ato que deveria ser encarado como direito, e não como dever. A obrigatoriedade resulta também em alto número de votos nulos e em branco, além de estimular currais eleitorais. O voto facultativo tende a elevar o nível das eleições, uma vez que candidatos e partidos são compelidos a convencer primeiro o eleitor de que vale a pena comparecer às urnas.

Os grandes vencedores - Um nome consagrado nesta eleição não recebeu um voto sequer. É Gilberto Kassab, criador e mentor do PSD, partido que mais capturou prefeituras. Foram 877, entre elas o cobiçado Rio de Janeiro. Um contorcionista político de raro faro eleitoral, Kassab consegue, ao mesmo tempo, ser o principal secretário e conselheiro do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e manter três ministérios no governo Lula. Contrariando a tese da polarização, o centro foi o grande vitorioso. MDB e PSD foram os mais votados, com mais de 10 milhões de votos cada.

Marçalismo - É cedo para dizer que o estilo mafioso de fazer campanha veio para ficar. Se não for preso ou tornado inelegível, Pablo Marçal terá uma expressão nas próximas eleições, mas sempre é bom lembrar que São Paulo, celeiro de políticos de renome, também nutre criaturas políticas exóticas, como os campeões de votos Tiririca e Enéas. O principal efeito de Marçal foi evidenciar que a extrema direita não é mais território exclusivo de Jair Bolsonaro.

Esmaecido - No mapa nacional de votos, não há mais manchas vermelhas da esquerda, mas apenas pontinhos isolados. O PT e o esquerdismo se saíram um pouco melhor do que a lavada de 2020, passando de 182 para 284 prefeituras, mas o avanço ocorreu quase todo em pequenas cidades do Nordeste. Recife é a única capital com vitória até agora de um partido de centro-esquerda, mas é difícil carimbar a marca de esquerdista no fenômeno João Campos.

Bateu asas - Os votos tucanos saíram em revoada. Na maioria dos Estados, o PSDB derreteu e, com ele, a chance de voo nacional do governador Eduardo Leite caso permaneça no partido ou não haja fusões em série nos próximos meses. É o fim de uma era, a da polarização PT x PSDB. _

MARCELO RECH

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