05 de Outubro de 2024
MARTHA
Vida: embarque imediato
Não vejo o mar há sete meses. Saudade de sua extravagância, da quantidade imensurável de água refletindo o azul do céu, do ruído que emerge de suas profundezas, produzindo ondas que dialogam com quem está sentado na areia. O mar, sustento de pescadores, desafio de remadores, caminho de navegadores, alegria de banhistas, modelo para fotógrafos, o rei dos cartões-postais, leito para pores do sol.
O mar, além disso tudo, é túmulo de poetas suicidas, roteiro de filmes-catástrofe, vista panorâmica que encarece o preço dos apartamentos. O mar, despindo-se de sua grandeza, molha nossos pés nas caminhadas de final de tarde, é quem dá o match perfeito com a música que estamos escutando, ameniza nossa melancolia e serve como cenário para uma paixão recém iniciada. O mar é um aliado, se soubermos nos aproximar e nos mantermos serenos diante de sua superioridade.
Quando não é o mar, é a montanha, ela que também redimensiona nosso tamanho, nos coloca em nosso lugar. Alta, emergente, de uma imponência vertical, é uma onda gigante que não arrebenta, uma ameaça cinematográfica, um deslumbramento de pedra, forrado de verde. Obstinados, trilhamos por meio de suas florestas, esquiamos pela neve que ali repousa no inverno, buscamos seus picos, viramos alpinistas que competem por uma majestade que jamais abandonará sua dona. Cenário que também atende aos apelos dos fotógrafos, que encarece igualmente as vistas dos chalés, que nos acorda com a pureza do ar matinal e induz a sonos profundos, nenhum relevo consegue ser tão quieto. Montanhas guardam segredos eternos.
Distantes dos grandes ecossistemas terrestres e aquáticos, nos resta uma praça, um parque, um lago, pequenas recompensas em meio à urbanidade, prêmios de consolação. Mas é só junto ao mar e à montanha que nossa pulsação muda, que nossa respiração desintoxica, que nossos olhos se arregalam e que a vida encontra seu verdadeiro sentido. Não é no cimento, no asfalto, no trânsito.
Desculpe se abusei do romantismo, mas se você concordou com cada linha, se por pouco não chorou, toque aqui: como eu, também deve estar precisando urgentemente de férias.
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