sábado, 26 de outubro de 2024


26 de Outubro de 2024
ANDRESSA XAVIER

Ouvia na rádio Gaúcha a mãe do João, de 17 anos, sobrevivente do acidente que matou nove pessoas no Paraná na semana que passou. João Pedro Milgarejo estava dormindo no momento do acidente e não teve lesões graves. Ao tentar sair da van, notou que ninguém respondia a seu pedido de ajuda. Naquele momento ele entendeu a gravidade do que acontecera.

Graciele Nolasco não tem como não estar feliz de ver seu filho vivo. Ele não ter morrido é um milagre, ela mesma disse. Graciele, ao mesmo tempo, não tem como não estar arrasada com a perda dos melhores amigos do João. Ela também disse nessa entrevista ao repórter Frederico Feijó, no Timeline, que sente a dor dos outros pais e mães e que eles se consideram família uns dos outros. Velar e enterrar um filho não é a ordem natural da vida, mas quem sabe explicar o mistério de viver e de morrer?

Essas famílias se preparavam para receber seus filhos e suas sete medalhas conquistadas no campeonato em São Paulo. Na terça, precisaram fazer, como se fosse um soco no estômago, um velório coletivo. Essa é uma dor que podemos tentar imaginar, mas somente eles vão sentir, para sempre. O vazio dos sonhos de adolescentes que queriam competir no remo e se tornar alguém na vida. A lacuna deixada por vidas interrompidas numa fatalidade no trânsito. Mais do que os nove, morrem um pouco seus familiares e amigos. Morrem um pouco as mães, que sentem junto e inevitavelmente se colocam no lugar das que perderam seus maiores amores.

A Angel Vidal faria 17 anos em duas semanas. A Helen Belony, de 20 anos, era uma promessa do remo nacional. O Henri Guimarães, aos 17 anos, mais do que praticar, acreditava no esporte como ferramenta social para jovens como ele. O João Pedro Kerchiner da Silva, também tinha 17 anos e ganhou o ouro com os colegas no sábado passado. A Nicole da Cruz tinha só 15 anos, assim como o Samuel Benites Lopes. Os caçulas da viagem tratavam o esporte como coisa muito séria. Vitor Fernandes Camargo, de 17 anos, dizia que o remo lhe dava motivação para acordar cedo e dar o seu melhor. O treinador, Oguener Tissot, de 43 anos, respirava, comia e dormia pensando no remo. O Ricardo Leal da Cunha, 52 anos, era o motorista da viagem. São nove famílias. É uma comunidade inteira.

As circunstâncias nada têm a ver com a Kiss, mas mais uma vez nos lembramos, por falar de jovens, do que aconteceu naquela madrugada em Santa Maria. Uma ferida que continua aberta e que só o tempo ajuda a cicatrizar e seguir em frente. Pelotas precisará seguir em frente. O Remar para o Futuro terá, mais do que nunca, que olhar para o horizonte e encontrar formas de seguir e de continuar ajudando jovens de escolas públicas. A dor continuará, o trauma estará presente, mas o legado do esporte como alternativa precisará prevalecer. 

Andressa Xavier

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

09 de Novembro de 2024 MARTHA MEDEIROS Etarismo flexível Na época em que assistia shows inteiros em pé, na pista do estádio, como aconteceu ...

Postagens mais visitadas