sábado, 27 de setembro de 2025


O atrapalhador

Por vias tortas, o deputado Eduardo Bolsonaro entrou para a história. À frente de seus lugares-tenentes, ele lidera a orquestra que, em sua turnê pelos EUA, desafinou a pauta da direita brasileira. Tudo o que o deputado pretendia - forçar uma anistia a seu pai e parceiros de quartelada - se reverteu em trapalhadas que, com ou sem uma conversa promissora entre Lula e Donald Trump ali adiante, serão lembradas pela posteridade como um tiro de canhão no pé da direita.

Não há dúvida de que Eduardo Bolsonaro e companheiros refugiados nos EUA conseguiram atrapalhar, e muito, a relação de 200 anos entre Brasil e EUA. Ao alugar os ouvidos próximos a Donald Trump, eles tiveram pleno sucesso em atrair sanções à economia brasileira. Só que as tarifas não escolhem cor política: elas atingem tanto o produtor do Centro-Oeste bolsonarista que deixou de exportar para os EUA quanto o empregado demitido da processadora de peixes congelados do Nordeste lulista. Convenhamos: prejudicar o próprio país e seus eleitores e ser tachado de traidor da pátria não é a melhor forma de se conquistar adeptos para uma causa.

Em rompante de sinceridade chula, o pastor Silas Malafaia, conselheiro de Jair Bolsonaro, só faltou soletrar para o ex-presidente o que pensa do filho dele e suas manifestações emanadas dos EUA. "Babaca", definiu Malafaia para um pai que, sabe-se lá por quê, permaneceu calado diante da alcunha desairosa. O desabafo é resultado da bolha da bolha em que Eduardo Bolsonaro e turma passaram a viver. Em sua realidade paralela, o filho 03, que tinha como credencial fritar hambúrgueres nos EUA quando pediu ao pai a nomeação como embaixador em Washington, se declara agora o herdeiro político e, portanto, candidato a presidente pelo clã em 2026.

Se Eduardo puder pisar no Brasil novamente sem ser preso por obstrução de justiça, terá sorte. Ele esquece que governos e mandatos passam, mas o STF e o Judiciário ficam. É, no fundo, constrangedor se ver o deputado, prestes a perder o mandato e a fonte de renda, comemorar o fato de que o ministro Alexandre de Moraes e esposa não poderão usar cartões de crédito de empresas norte-americanas por conta da Lei Magnitsky, uma iniquidade que só serve para indignar a magistratura e fadada a cair no primeiro dia pós-trumpismo.

Por fim, mas não menos relevante: a movimentação atabalhoada de Eduardo Bolsonaro ameaça a PEC que pode soltar os baderneiros do 8 de Janeiro, tornou a vida legal do pai mais delicada, soprou um vento de cauda na esquerda enrolada na bandeira do Brasil e esfriou por ora a candidatura de Tarcísio de Freitas ao Planalto em 2026. Só falta Lula e Trump se entenderem. Será difícil superar o atrapalhador em quantidade e voltagem de mancadas políticas em tão pouco tempo. _

MARCELO RECH 

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