sábado, 2 de agosto de 2025


02 de Agosto de 2025
ANDRESSA XAVIER

João da Penha

Nessa semana assistimos, atônitos, ao vídeo que mostra um homem enchendo uma mulher de socos no elevador. Lá no Rio Grande do Norte, mas tão próximo da realidade que a gente acompanha diariamente. Ver os socos é materializar o que ouvimos no noticiário, entender os gritos de uma vizinha, o controle travestido de ciuminho quando o cara quer escolher a roupa ou as amizades da sua parceira ou desmerecer as realizações dela. É como levar aqueles socos junto com a vítima. É sentir um enjoo e, depois, uma raiva. Ver um covarde como este é aflorar sentimentos ruins.

O desrespeito à mulher muitas vezes vira agressão, física ou psicológica. Muitas vezes a mulher agredida acaba morta por quem ela achava que seria amada. Sua honra é colocada em xeque por quem deveria ajudar a defendê-la porque ainda tem quem pergunte o que ela fez para levar 60 socos ou um puxão de cabelo. Como se houvesse alguma justificativa para o que os imbecis fazem.

Uma sociedade machista empurra o preconceito para o colega do lado porque nunca vem da gente, afinal. Diz que ama as mulheres, que até é filho de uma. Que tem amigas mulheres. Mas uma sociedade machista ainda faz piada com o papel da mulher. Ainda deixa que elas lavem a louça e sirvam seus pratos com o almoço. Ainda pergunta na entrevista de emprego se ela pretende engravidar. Ainda diz que tinha que ter a lei João da Penha, afinal não são somente os homens que matam mulheres e o contrário também ocorre.

Sim, ocorre. Mulheres matam homens eventualmente. É preciso olhar as estatísticas para dizer, sem errar, que os homens são muito mais violentos. Você já viu uma mulher dando 60 socos no marido, até ele sangrar e precisar fazer plásticas para voltar a ter um rosto?

Você pode dizer também que há os casos de mulheres que sentem ciúmes ou que fazem falsas denúncias. De fato, há. Nessa semana fizemos um debate de altíssimo nível na Gaúcha sobre como combater a violência contra a mulher. A promotora Ivana Battaglin trouxe um dado que escancara o tamanho do mito. Estudos mostram que, no mundo, apenas entre 2% e 8% dos casos registrados por mulheres não se confirmam. Pode ser por mentira ou por falta de provas.

Calcula-se que vai demorar 150 anos para existir algo próximo a condições ou oportunidades iguais para homens e mulheres. Para isso acontecer, nesse século e meio precisaremos evoluir, e muito. Começa nas escolas, sem o medo de debater gênero, sem medo de educar as crianças contra o discurso de ódio que se propaga pelos algoritmos das redes sociais. 

Passa por não achar graça da piada machista. Por assumir responsabilidades que não são somente de homens ou mulheres. De mudar a cabeça e o comportamento. Passa por ver homens falando e postando sobre o monstro dos 60 socos sem questionar a vítima ou não falando do tema porque é um problema das mulheres, e não seus. _

ANDRESSA XAVIER

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