
Nós e o tribunal chinês
Aos brasileiros que sentem a temperatura da água subir, mas ainda consideram estar em uma tépida piscina e não em uma panela, recomendo prestar atenção ao termômetro. Os fatos, sempre eles, são implacáveis com quem os despreza, e os avisos do lento e progressivo cozimento das liberdades no Brasil se sucedem há pelo menos seis anos, quando a suprema corte brasileira se tornou o braço judicial do Partido dos Trabalhadores e a longa manus de perseguição aos dissidentes e de livramento dos corruptos apanhados pela Operação Lava Jato.
Tudo o que se passou desde março de 2019, com a instauração do interminável e obscuro "Inquérito das Fake News", dá a medida de como uma pequena elite de burocratas pode subjugar um povo pela troca de favores com atores políticos, empresariais e intelectuais cujo cinismo foi magistralmente retratado por Verissimo em seu personagem "Queromeu, o corrupião corrupto", baseado nos corrupiões, aquele pássaro de peito laranja e que parece vestir um capuz preto.
A menos que as sanções norte-americanas funcionem para inibir os donos do poder, é do capuz do STF que sairá a decisão sobre quem pode concorrer a presidente em 2026; quem, se eleito, pode tomar posse; e quem, se empossado, pode governar sem a monolítica oposição do bloco STF-PT. O voto popular, portanto, torna-se secundário, e só não digo que é inócuo porque ainda atende a uma finalidade: produzir, para o mundo, a imagem de milhões de brasileiros acorrendo às cabines de votação. Uma bela coreografia, sem dúvida, a inspirar manchetes-clichês, como "Festa da democracia". Mas, passada a quarta-feira de cinzas, as alegorias são recolhidas. A real engrenagem do poder opera longe e à revelia das ruas.
A caminho de consolidar um regime de partido único, o STF, em coro com reiteradas manifestações de Lula, faz sucessivos acenos à China. Depois de Lula se dizer muito feliz por ter conseguido "colocar na suprema corte um ministro comunista", em referência a Flávio Dino, o futuro presidente do STF, Edson Fachin, recebeu ministros da suprema corte popular da China em abril.
Os dois tribunais já haviam conversado em 2024, e agora firmaram um acordo de cooperação cujos termos exatos o STF decidiu manter em sigilo. Diante da estranha manifestação do ministro Gilmar Mendes em sessão do tribunal ("... nós todos somos admiradores do regime chinês, né?"), resta perguntar o que a mais alta instância do poder judiciário brasileiro tem a aprender com a corte que serve às diretrizes e interesses ditatoriais do Partido Comunista Chinês.
Não tente exigir, na justiça, o porquê do sigilo. A resposta será algo como "Porque sim. E não amola". _
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