sábado, 30 de agosto de 2025


30 de Agosto de 2025
MARCELO RECH

Um basta ao Estado mafioso

A megaoperação de asfixia financeira ao PCC é um daqueles momentos em que o país precisa parar para ver onde estamos e como se conserta a situação. A descoberta da imensa rede de trambicagem levanta uma batelada de indagações sobre como, em última análise, chegamos até aqui - e se este é o ponto final ou inicial de algo maior.

É para lá de louvável a união de forças e o trabalho meticuloso dos órgãos de fiscalização para que fosse desfechado na quinta-feira o mais duro golpe nas finanças do crime organizado. Mas o fato de que o PCC estava se adonando dos postos de gasolina de São Paulo com métodos mafiosos era sabido e comentado há anos, com pouca ou nenhuma resistência à ação da facção.

Em abril do ano passado implodiu-se em São Paulo a infiltração do PCC no comando de duas das maiores empresas de ônibus da cidade. A velocidade com que o crime organizado se espraiou para refinarias, usinas de açúcar e o mercado financeiro assusta pela facilidade com que passou a movimentar bilhões nas sombras. A Receita Federal, a Comissão de Valores Mobiliários, o Banco Central, o Ministério Público, a Polícia Federal e entidades que representam o mercado honesto e legal tinham conhecimento das frestas e também há anos trabalham para fechá-las por meio de instrumentos legais, sem que eles conseguissem avançar.

E aqui é preciso parar e perguntar de novo. Por que não avançaram? A ex-senadora Ana Amélia Lemos apresentou há mais de seis anos um projeto sobre devedores contumazes que ajudaria a desmantelar as práticas criminosas de sonegação. Forças estranhas bloquearam o projeto. Agora, o senador Efraim Filho é relator de projeto semelhante. Segundo ele, 1.200 CNPJs devem mais de R$ 200 bilhões - e não por dificuldades financeiras mas porque tais empresas são criadas e fechadas exatamente para burlar o fisco. Com os holofotes acesos, ao menos será mais difícil agora que as forças do mal se movimentem no Congresso para barrar o projeto mais uma vez.

Outra história por ser contada é a resistência que se ergueu, sobretudo nas redes sociais, quando a Receita corretamente tentou aumentar a fiscalização sobre o Pix. Quem espalhou ou reproduziu a fake news de que o governo pretendia taxar o Pix acabou fazendo o trabalho sujo, ainda que indireta e involuntariamente, para que o crime organizado seguisse se valendo de fundos bilionários em fintechs suspeitas.

Agora, espera-se que os órgãos de fiscalização ganhem mais força e instrumentos para dar um basta ao Estado mafioso paralelo. Mas, como dito lá em cima, esse pode ser o ponto de partida. Quando as redes do tráfico, do contrabando e da pirataria forem atacadas com o mesmo vigor, talvez não se precise cobrar ainda mais impostos de quem já os paga e o Brasil ingresse de vez no rol dos países decentes. _

MARCELO RECH

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