sábado, 2 de agosto de 2025


02 de Agosto de 2025
TENSÃO DIPLOMÁTICA

TENSÃO DIPLOMÁTICA

Após tarifaço, Trump afirma que Lula pode falar com ele "quando quiser". Em resposta a uma jornalista da TV Globo, republicano afirmou que "ama o povo brasileiro". Declaração pode indicar uma abertura por parte da Casa Branca, que até agora se fechou à negociação com Brasília. Planalto já sinalizou disposição para uma conversa, mas quer foco na questão comercial

Após confirmar o tarifaço de 50% sobre parte das importações brasileiras, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na sexta-feira que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode falar com ele "quando quiser".

A declaração ocorreu em resposta a uma jornalista da TV Globo. Questionado se estaria disposto a uma conversa com Lula, Trump afirmou:

- Ele pode falar comigo quando quiser. Na sequência, a jornalista perguntou o que seria passível de negociação com o Brasil.

- Bem, vamos ver o que acontece, mas eu amo o povo brasileiro - afirmou o republicano.

Trump ainda foi questionado sobre por que uma tarifa tão alta, e que não parece ter fundamentação econômica, contra os produtos brasileiros.

- As pessoas que governam o Brasil fizeram a coisa errada - alegou Trump, sem dar maiores detalhes.

Na quarta-feira, Trump assinou o decreto que institui a tarifa adicional de 40% - que se soma à taxa de 10% em vigor desde abril - a partir do dia 6 de agosto.

O impacto econômico do tarifaço foi minimizado com as exceções a quase 700 produtos inseridas no decreto, incluindo alguns dos principais itens da pauta de exportações do Brasil aos EUA, como suco de laranja, aviões, petróleo e aço. Ainda assim, outros itens de peso na balança comercial, como café e carnes, terão a sobretaxa, e entidades empresariais projetam prejuízos relevantes em alguns setores, o que pode gerar demissões.

No início da semana, Lula já havia indicado que está disposto a uma conversa direta com Trump. O governo, porém, quer garantias de que o diálogo será focado em comércio e de que Lula não será submetido a nenhum constrangimento público, a exemplo do que ocorreu nos últimos meses com os presidentes da Ucrânia, Volodimir Zelensky, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa, que tiveram bate-bocas durante reuniões com Trump.

A declaração de Trump pode ser um sinal de abertura da Casa Branca - que, até então, mantinha-se fechada a qualquer negociação com o governo brasileiro.

Na quarta-feira, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, se encontrou com o chanceler Mauro Vieira em Washington. Um dia depois, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a Secretaria de Tesouro dos EUA procurou a pasta para marcar uma agenda com o objetivo de discutir o tarifaço. A conversa com o secretário Scott Bessent deve ocorrer na próxima semana.

- Finalmente nós vamos ter uma reunião mais longa e mais focada na decisão, até aqui unilateral dos EUA em relação ao Brasil - disse Haddad na sexta-feira.

"Sempre estivemos abertos"

Ainda na noite de sexta-feira, Lula respondeu à declaração de Trump em uma manifestação em rede social. O presidente afirmou que o Brasil "sempre esteve aberto ao diálogo".

"Quem define os rumos do Brasil são os brasileiros e suas instituições. Neste momento, estamos trabalhando para proteger a nossa economia, as empresas e nossos trabalhadores", escreveu. _

Moraes diz que vai ignorar sanções e critica intervenção

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou na sexta-feira que vai ignorar as sanções aplicadas contra ele pelo governo dos Estados Unidos.

- As ações prosseguirão o rito processual do STF, não se adiantará, não se atrasará. O rito processual do Supremo irá ignorar as sanções praticadas. Este relator irá ignorar as sanções praticadas e continuará trabalhando - afirmou o ministro.

Na quarta-feira, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Tesouro dos EUA confirmou a decisão de sancionar Moraes com base na Lei Magnitsky, que autoriza sanções contra pessoas ou entidades estrangeiras acusadas de violações graves contra os direitos humanos, mas jamais havia sido utilizada contra um juiz de Suprema Corte.

A medida bloqueia contas bancárias e bens de Moraes em solo norte-americano, além de proibir a entrada dele no país. A Casa Branca o acusa de decisões arbitrárias contra o ex- presidente Jair Bolsonaro e empresas de tecnologia americanas.

A manifestação de sexta-feira ocorreu durante a cerimônia de abertura do semestre do Judiciário.

Moraes disse que todos os réus pela tentativa de golpe de Estado em 2022 , entre eles Bolsonaro, serão julgados ainda neste semestre.

- Nós julgaremos todos os responsáveis, absolvendo aqueles onde não houver prova de responsabilidade, condenando aqueles onde houver prova, mas julgando, exercendo nossa função jurisdicional, e não nos acovardando por ameaças, seja daqui ou de qualquer outro lugar - alegou.

Moraes também criticou a tentativa de interferência e chamou de "pseudo-patriotas" os que buscaram articular sanções contra ele e contra o país - no caso do tarifaço imposto às importações brasileiras.

- É uma verdadeira traição à pátria. Uma traição covarde e traiçoeira - disse.

Jantar no Alvorada

Na véspera, em um jantar no Palácio da Alvorada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros ministros, Moraes afirmou, segundo o jornal Folha de S. Paulo, que dispensa atuação do governo em sua defesa nos EUA. Lula havia determinado que a Advocacia-Geral da União (AGU) atuaria na representação do ministro. _

Fiergs: RS será o Estado mais afetado

Bruna Oliveira  - O Rio Grande do Sul é o Estado mais afetado pelo tarifaço de Donald Trump, mesmo com as exceções. A avaliação é da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs). A entidade aponta que as exceções têm efeito mínimo, pois somente 15% da produção gaúcha foi incluída na lista, contra uma média nacional de 45%.

Os cálculos da entidade preveem impacto em pelo menos 20 mil empregos diretos e queda de R$ 1,5 bilhão no PIB estadual.

Um comitê de crise com representantes do setor esteve reunido na manhã de sexta-feira na Fiergs. Na próxima terça-feira, haverá uma reunião com as secretarias de Desenvolvimento Econômico e da Fazenda na tentativa de renegociar créditos de ICMS retidos na exportação.

Em coletiva de imprensa após o encontro, Bier demonstrou preocupação em relação aos empregos. Uma possibilidade é a de buscar aumentar a linha de crédito de R$ 100 milhões assegurada pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). A entidade também pede a liberação de créditos do ICMS Exportação para indústrias que tiverem suas vendas aos EUA afetadas.

Outro pedido é por medidas de alívio tributário e trabalhista, como ocorreu na pandemia.

- Vamos ter situações tão preocupantes como foi visto na pandemia e na enchente - afirmou Guilherme Scozziero, coordenador do conselho de relações do trabalho da Fiergs.

Os EUA são os maiores parceiros comerciais da indústria do RS. São 1,1 mil empresas que exportam ao país. _

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

30 de Agosto de 2025 ANDRESSA XAVIER Jogo jogado Há julgamentos que começam antes de o tribunal se reunir. O do ex-presidente Jair Bolsonaro...

Postagens mais visitadas