sábado, 16 de agosto de 2025



16/08/2025 - 13h11min
Martha Medeiros

É ou não é bacana ver o mundo mudar? 

Rotem e Lior são amicíssimos e queriam dar uma desconectada da vida em família e do trabalho. Então saíram em férias como se fossem dois brothers.

Até ontem, o Quirguistão estava na lista dos cem países que eu podia morrer sem conhecer, mas tudo mudou depois que assisti à série documental Offroad, na Netflix. Em seis episódios, mostra a viagem de 30 dias que a modelo israelense Rotem Sela fez ao lado de seu grande amigo, o ator Lior Raz. Eles alugaram um 4x4 e desbravaram o cenário deslumbrante deste país tão pouco conhecido, e desconfio que foi o Ministério do Turismo que patrocinou: as filas de embarque para lá devem estar gigantes. 

Em um mundo tomado por governantes insanos e guerras absurdas, fugir para as montanhas – e que montanhas – se tornou emergencial. Mas entre tantas cenas de encher os olhos, fico com a última, quando Rotem e Lior se sentam no chão de um centro urbano, brindam o fim da aventura e declaram-se: te amo. Não, não é uma história de amor. Mas, sim, é uma história de amor.

Um homem e uma mulher, héteros, casados e com filhos, vivenciaram uma experiência intensa juntos. Rotem e Lior são amicíssimos e queriam dar uma desconectada da vida em família e do trabalho. Então saíram em férias como se fossem dois brothers. Só que não. É um homem e uma mulher, ambos atraentes – ela, linda de morrer. Posso imaginar que muita gente, enquanto assistia, se perguntou: quando é que esses dois vão se pegar? 

Nesse sentido, Offroad soa inovador. Celebra a amizade, mas não a romantiza: um mês rodando dentro de um carro é uma experiência íntima, e como tal, sujeita a desgastes e irritações, como em qualquer relação. Mas a palavra que norteia essa expedição é confiança. Enfrentar penhascos, lugares ermos e pessoas desconhecidas exige união, troca de informações através do olhar, saber ceder quando não há consenso. 

Além disso, foi preciso contar com a confiança dos que ficaram em casa, torcendo para que o pai que partiu com a amiga, que a mãe que foi viajar com o astro de Fauda, se divertissem, aprendessem mais sobre si mesmos e voltassem sãos e salvos. O marido de Rotem confiou. A mulher de Lior confiou. Mesmo sem aparecerem na série, provaram que também são grandes amigos de seus amores. 

Dedico essa crônica ao Marcelo, meu “irmão” há 40 anos. No início da nossa amizade, quando trabalhávamos na mesma agência, fomos acampar em Floripa e, na viagem de volta, ele pediu: mente para o pessoal que eu te comi, ou minha reputação já era (a gente ri disso até hoje). E dedico também ao Dinho, outro amigo íntimo que, em 1994, voltando do Taiti, fez uma conexão surpresa em Santiago do Chile, onde eu morava, e se hospedou em meu apartamento, justo quando meu marido estava viajando a trabalho. Outra reputação que foi para o beleléu: a minha. Virei o assunto do prédio. É ou não é bacana ver o mundo mudar? 

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