sábado, 5 de julho de 2025



04/07/2025 - 13h51min
Martha Medeiros

Viajar é um vício, um prazer, um tratamento de saúde mental

Não é porque se está fora de casa que se pode agir feito um ogro, desrespeitando o silêncio alheio e a cultura de cada povo

Com adesão voluntária é melhor não contar: ninguém vai deixar de renovar o passaporte.

Gilmar Fraga / Agencia RBS

A pandemia trancou 7 bilhões de pessoas em casa. Quando acabou, éramos 7 bilhões de estressados, com abstinência de liberdade e craques em trabalhar online. Debandamos, claro. As vielas de Veneza hoje parecem formigueiros humanos, comprometendo o patrimônio histórico e elevando o custo de vida de quem lá nasceu, mas quem se importa, além dos moradores? Veneza é só um exemplo da invasão em massa. 

Protestos têm sido feitos nos mais cobiçados destinos turísticos, mas levantar cartazes têm pouco efeito prático. Alguns nativos reagem infantilmente, como os barceloneses que apontam pistolas d’água para os turistas. Com os termômetros batendo os quarenta graus, fazem até um favor a quem se arrasta pelas Ramblas com uma mochila pesada nas costas.

Alguns londrinos adotaram uma forma mais radical de expulsar os chatos. Desde quando foi lançado o filme Um Lugar Chamado Notting Hill, o bairro passou a concentrar alto índice de visitantes que fazem questão de conhecer a livraria “do Hugh Grant” e o conjunto de casas coloridas que dá um ar brejeiro à região. Pois alguns moradores, exaustos de verem seus jardins invadidos por turistas em busca do melhor ângulo para fotografar as fachadas, resolveram pintar suas casas de preto. Adeus, amarelinho, rosinha, azulzinho. Casas pretas. Notting Hill versão Família Addams.

Em Paris, há duas semanas, funcionários do Louvre organizaram uma greve relâmpago e fecharam as portas, deixando os turistas do lado de fora, com ingresso na mão, sem entender nada. Reivindicavam um limite de visitação, antes que o caos se instale no famoso museu. E nos aeroportos, na entrada das salas vip, as filas também andam gigantes. O que era para ser uma área destinada a poucos, se tornou acessível a todos, devido a ampliação das vantagens oferecidas pelos cartões de crédito. O benefício é vendido como “premium”, mas o que se vê é uma horda disputando o pão de queijo grátis.

Seria pedir demais que voltássemos a ter uma vida amena, ponderada, sem tanta ansiedade? 

Difícil reverter a situação, uma vez que o turismo impulsiona a economia mundial. Estudam-se paliativos, como exigir taxas de entrada nas cidades, impedir a construção de novos hotéis em zonas centrais e estimular a visita a lugares ainda não explorados, os tais paraísos secretos. 

Com adesão voluntária é melhor não contar: ninguém vai deixar de renovar o passaporte. Viajar é um vício, um prazer, um tratamento de saúde mental. Eu adoraria que Porto Alegre recebesse mais turistas – até que alguém invada meu jardim e perturbe a minha paz, logo, educação turística vai ter que entrar na pauta. Não é porque se está fora de casa que se pode agir feito um ogro, desrespeitando o silêncio alheio e a cultura de cada povo. Mas enquanto não se organiza essa barafunda, pistola d’água em nós. 


Casamento entre CLT e PJ

Foi-se o tempo em que os pais tinham emprego fixo e saíam de férias nos meses certos - no recesso escolar, seja no verão ou no inverno.

O dilema era contar com condições de viajar. Mas não havia dúvida de que existiria um período definitivo para descansar. Não se disputava folga com colegas, nem se negociavam acordos profissionais. O recesso beneficiava a todos.

Hoje, o cenário mudou: é comum um casal ser formado por CLT e PJ. Um com carteira assinada. O outro, pessoa jurídica. É assim no meu casamento.

Beatriz é advogada de banco. Precisa planejar seus 30 dias corridos de férias com antecedência. Já eu sou por minha conta e juízo. Não desfruto de férias, décimo terceiro, rescisão. Meu vínculo é pela minha empresa. Se eu adoecer, não há sentido em apresentar atestado. Vou entregá-lo para mim?

Minha esposa tem emprego. Eu tenho trabalho. São dimensões distintas na organização do calendário.

Tornei-me um workaholic sem escolha. Relaxo em semanas entre palestras, de modo repentino, ou aproveito algum pedaço de janeiro, algum naco de julho. Por sua vez, ela é condicionada por lei a usar o descanso antes que vença.

Não dá para fazer tudo junto. Senão, vamos enlouquecer em crises de ciúme e inveja. Remakes de lua de mel são inviáveis. Eu a deixo ir. E mais do que isso: incentivo. Saber que ela está feliz me traz alívio para me concentrar nas tarefas.

Que viaje com suas amizades e com sua família. Que viva dias leves enquanto eu sigo focado na lida. Ofereço apoio. Porque ela merece - trabalha tanto quanto eu. E porque prender a parceira não é justo - é avareza emocional.

Já não é mais possível uniformizar horários, ritmos e necessidades. Um acorda cedo, o outro vira a madrugada. Um tem fim de semana, o outro, plantão. O casamento é obrigado a se reinventar com as agendas desencontradas.

É perder o lazer para não pôr a perder os sonhos. É confiar nos projetos compartilhados, mesmo diante das situações adversas. Acredite no amor mais do que nas circunstâncias. A verdadeira afeição não compete por descanso. Você torce pela pessoa, ainda que esteja sobrecarregado.

É ajeitar dentro de si aquele desconforto contraditório: por que ela está na praia e eu preso numa planilha? É não se enganar pelas aparências. É relevar as restrições de cada um. É sentir o orgulho silencioso de manter a casa funcionando enquanto o par viaja. Realizar o invisível com alegria. Demonstrar a elegância do discernimento.

Pois a retaguarda também é cuidado. Não se deve sucumbir ao mito da simetria e da dependência. Nas diferenças, perdura a reciprocidade de intenções. Que minha esposa descanse sem carregar culpa na bagagem.

Tem gente que viaja e manda lembrança. Tem gente que fica, e é lembrança, e é saudade.

Que aceitemos o novo mundo do trabalho. É um privilégio vadiar a dois, mas é um dever permitir que quem amamos usufrua de seus direitos. CLT e PJ: os opostos se atraem - e se respeitam. 

CARPINEJAR

05 de Julho de 2025
COM A PALAVRA - Thomas Traumann

Analista político e autor do livro "O Pior Emprego do Mundo", no qual disseca as vicissitudes enfrentadas por 14 ex-ministros da Fazenda. "Lula tem problema de popularidade e reage atacando"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vive o período mais delicado de seu 3o governo. Para o analista político Thomas Traumann, que foi ministro-chefe da Comunicação Social no governo Dilma Rousseff, isso ocorre por erros de gestão e falta de articulação política. Veja a entrevista.

Fábio Schaffner - Lula conseguirá reconstruir sua base no Congresso?

Esquece. Acabou. O presidente da Câmara, Hugo Motta, é hoje o líder da oposição. A origem disso foi a decisão, única e pessoal do presidente Lula, de antecipar o período eleitoral quando ele anunciou a reforma da renda junto com o ajuste de gastos. A partir dali, ele deixou claro que 2025 não existia, já era 2026. Todo mundo passou a olhar o que o outro estava fazendo em função da eleição. Perdeu-se o terceiro ano de governo.

O quanto o decreto do IOF agravou a crise?

A questão do IOF começa ruim da forma como a Fazenda fez, sem discutir com os outros ministérios e com o Congresso. Nem o Banco Central sabia. Depois, o Congresso dá sinais de que vai ter espaço de negociação mas, surpreendentemente, sem avisar o governo nem tentar alternativa, decide derrubar o decreto. Os dois lados estão muito radicalizados.

Que peso tem nessa crise a ausência de Lula na articulação política?

A primeira responsabilidade do presidente foi antecipar o processo eleitoral. A segunda foi não fazer uma reforma ministerial. A derrota que a esquerda teve na eleição municipal indicava a necessidade de composição. Ele só fez mudanças no PT, não fez na base. Tem uma questão de postura também.

O Congresso aprendeu com a eleição municipal que emendas elegem prefeito. Se elegem prefeito, elegem deputado. Então, não dá para imaginar que vai dar certo chegar até junho com R$ 200 milhões em emendas liberadas quando, no mesmo período do ano passado, já tinham soltado R$ 6,5 bilhões. Em uma semana agora liberaram R$ 4 bilhões. Ou seja, dava para ter feito mais. Então, há um problema de gestão também.

É possível reverter esse empoderamento do Congresso?

Só se isso for um tema do próximo presidente. Se na campanha ele disser: "Se for eleito, vou mudar isso". Assim se ganha legitimidade da urna. Voluntariamente, o Congresso não vai devolver esse poder.

O PT divulgou um vídeo em que diz defender os pobres enquanto o Congresso defende os ricos. Isso não acirra ainda mais os ânimos?

É natural. O governo está acuado, tem minoria no Congresso e nenhum relacionamento com a elite financeira e econômica do país. Nenhum empresário conversa com Lula. Ele tem problema de popularidade e reage atacando. Tem que engajar sua torcida, né? Como os discursos do Bolsonaro para o cercadinho. Nós contra eles. Deu certo em 2006, logo depois do mensalão, deu certo em 2010 e deu certo em 2014, quando Dilma se reelegeu numa crise de popularidade enorme. É aquela tática de colocar três centroavantes e jogar a bola na área. É bonito? Não. Mas, às vezes, dá certo.

Mas, em 2015, Dilma praticamente não governou e teve o impeachment em 2016. Isso não pode se repetir?

É um grande risco, porque o risco fiscal para 2027 é muito maior. Em 2015, o Brasil era um país rico comparado com hoje. Não lembro aqui, mas a relação dívida x PIB em 2015 era em torno de 60%, hoje tá indo quase a 80%. Quem quer que seja o presidente em 2027 terá de fazer um forte ajuste.

Como serão os 18 meses que restam para o governo?

Nada vai ser feito. Daqui até lá é só tiro, porrada e bomba. Alguma ou outra pauta vai ser resolvida, mas será exceção.

A queda na aprovação do governo e na popularidade de Lula é por falhas na comunicação ou por erros de gestão?

Pode-se melhorar a comunicação, mas o governo não entendeu que não foi Lula que venceu a eleição, Bolsonaro que perdeu. Ao não entender, Lula montou um governo cuja base era repetir os melhores momentos do governo Lula 1. Não se podia ter ideias novas, projeto novo. É um governo que começou desatualizado, com agenda que não excitava mais ninguém. Programas como Minha Casa, Minha Vida, Farmácia Popular, Mais Médicos, que tiveram enorme impacto quando lançados originalmente, agora não surtem tanto efeito.

Por quê?

As necessidades são diferentes hoje. O mercado de trabalho é digital. O rapper Mano Brown falou um negócio ao entrevistar o Lula semanas atrás que devia estar escrito no Palácio do Planalto: "Antes a luta era contra a fome. Agora é pelo iPhone". Se o governo não entender essa frase, não consegue entender o que está acontecendo. Porque a luta pelo iPhone significa que o sujeito se comunica, vende, compra, ganha o seu dinheiro, tudo no celular. Vive no celular. E o celular não pode ser roubado. É um modo de vida. Faltou ao governo entender isso. Não basta colocar mais propaganda. O governo é lento, a gestão é mais fechada.

? Isso explica porque esse motim é liderado por aliados e não pela oposição?

Exatamente. Porque eles se sentiram alijados do poder. É surpreendente que um governo com a caneta na mão não vai conseguir colocar um partido a mais na sua aliança para a reeleição do que tinha em 2022.

Por que há essa discrepância entre os números da economia, que não são tão ruins, com a percepção da sociedade sobre o cenário econômico?

O governo não notou o que estava acontecendo com o governo Joe Biden nos EUA. Biden conseguiu sair da pandemia de forma brilhante. O desemprego caiu para nível baixíssimo, começou a baixar a inflação, mas a sensação de insatisfação continuou e foi o que o derrotou. Lula não conseguiu ver que aquilo podia se repetir no Brasil. Se você pegar o último ano do governo Bolsonaro, os dois primeiros anos do Lula e este ano agora, o Brasil é um dos países que mais cresceu no mundo. Temos um dos mais baixos índices de desemprego da história e a massa salarial cresceu.

E por que há insatisfação?

Porque as pessoas não comem PIB. O PIB cresceu, mas como isso chega nas pessoas? Alguns grupos ganharam muito, algumas regiões ganharam mais que outras. Mas como o governo mostrou que ele estava do lado das pessoas? Como ajudou quem estava abrindo um negócio, como influenciou na segurança pública? Como o governo fez coisas de verdade? Faltou gestão.

Bolsonaro não vai apoiar o governador de SP, Tarcísio de Freitas?

Os sinais que a família Bolsonaro dá é que eles não confiam em outra pessoa que não seja na família Bolsonaro. Só teremos essa decisão no final do ano, depois da condenação e antes do cumprimento da pena.

O senhor enxerga Bolsonaro preso até o final do ano?

Ele provavelmente vai ser condenado e vai para prisão domiciliar. A decisão do Supremo em relação ao ex-presidente Collor é um indicativo, acho que se repetirá com Bolsonaro.

? Há espaço para uma terceira via, como sonha Eduardo Leite?

Zero, zero, zero. Nenhum. Em 2026, zero.

? E até quando vai essa polarização no país?

Enquanto tiver Lula e Bolsonaro. Pode ser que dê uma esfriada em 2030. _


05 de Julho de 2025
OPINIÃO RBS

Precaução a entraves previsíveis

Dois imbróglios que vieram à tona nos últimos dias, relacionados a obras de proteção contra cheias, reforçam a relevância de melhorar a interlocução entre os diferentes órgãos responsáveis por esses projetos e as instituições que de alguma forma são chamadas a se posicionar para dirimir conflitos. Amplo diálogo, antecipação a entraves previsíveis e precaução são ainda mais necessários nas intervenções voltadas a salvaguardar áreas densamente povoadas contra grandes enchentes. Como a natureza mostrou outra vez, novos eventos de chuva extrema voltarão a ocorrer. Só o quando é incerto.

Retomados no dia 27 de junho, os trabalhos de reforço do dique do bairro Sarandi, na zona norte da Capital, estavam parados desde março devido a uma decisão judicial que impedia o avanço do serviço executado pela prefeitura de Porto Alegre antes da remoção de todas as famílias da área e pela inexistência de estudo técnico que apontasse risco imediato à estrutura. 

Há duas semanas, enquanto as águas voltavam a subir e a ameaçar a região, ainda em meio a uma infiltração no dique, outra decisão dos tribunais manteve o impedimento a ações emergenciais no local, também pela falta de um laudo sobre o impacto da cheia na barragem e pela ausência de um plano de alocação das famílias que ainda ocupavam a área. Com a apresentação dos laudos, a reintegração de posse para o Executivo foi decidida pela Justiça e as obras foram reiniciadas.

Em outro episódio, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Estilac Xavier suspendeu a concorrência para a elaboração do anteprojeto do futuro dique de Eldorado do Sul, enquanto novamente o Rio Jacuí invadia parte da cidade e deixava milhares de pessoas fora de casa. O certame estava em fase de homologação. Segundo o TCE, a licitação foi feita pela modalidade de menor preço, mas o entendimento - a partir da denúncia de supostas irregularidades feita por um sindicato - foi de que a modalidade correta da licitação seria a que leva em conta também a qualificação técnica da proposta.

É possível inferir, em ambos os casos, que um pouco mais de cuidado e de presteza poderia ter evitado os impasses. Seria possível providenciar antes laudos sobre o dique do Sarandi, assim como elaborar uma estratégia de alocação emergencial das famílias que resistiam em abandonar as residências irregulares onde viviam há bons anos - também por omissão histórica do poder público. No caso de Eldorado do Sul, não seria excesso de zelo uma consulta prévia sobre a modalidade de concorrência mais indicada.

Licitações são sempre passíveis de recursos administrativos e judiciais. Obras com remoção de famílias, da mesma forma, são sinônimo de solução intrincada. Não há surpresa também em tribunais serem provocados nessas situações. Esses episódios ao menos servem de lição para futuras concorrências e intervenções. Espera-se que o mesmo empecilho não se repita nos demais projetos de diques metropolitanos. 

Como não é possível saber quando será a próxima grande enchente e se se está diante de uma recorrência alarmante, cada dia importa para diminuir as vulnerabilidades a que milhares de pessoas estão expostas. Ganhar agilidade também depende de se precaver ao máximo das intercorrências comuns em obras públicas. 


05 de Julho de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Um 0x0 para forçar negociação necessária

A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes sobre o impasse entre governo e Congresso sobre o aumento de IOF estipulou um 0x0: suspendeu tanto o decreto do Executivo quanto o do Legislativo que já havia derrubado a medida. E ainda forçou uma negociação já timidamente ensaiada ao convocar audiência de conciliação para o dia 15.

São 11 dias de prazo para encontrar uma saída para o impasse que, há vários dias, não é mais sobre o IOF, mas sobre o balanço de poder no Brasil e a necessidade de buscar uma solução mais robusta para o rombo do orçamento, não só deste ano, mas dos próximos.

Embora Moraes não tenha avaliado o mérito do decreto do governo, citou o uso arrecadatório do imposto regulatório para criar a dúvida que escancara a porta para a negociação. Uma janela já havia sido aberta com a aprovação, na Câmara dos Deputados, da urgência para votar um projeto que propõe cortes nos benefícios fiscais - uma proposta do governo.

Corte de gasto tributário é oportunidade

A combinação das duas medidas, a do STF e a da Câmara, dá oportunidade para o governo Lula desescalar o confronto com o Congresso - sob pena de tomar café frio mais de um ano antes da eleição - e para o Legislativo mostrar, de fato, que tem compromisso com o ajuste fiscal.

Na véspera, ocorreram conversas, como entre o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, seguidas de declarações pacificadoras de Lira, que propôs "um passo atrás". Uma das interpretações dessa sugestão foi a de que o governo retirasse o decreto do IOF. A decisão de Moraes poupa esse trabalho ao Planalto.

A urgência vale para projeto do senador Espiridião Amin (PP-SC) que propõe só revisar critérios de concessão de benefícios, com mais monitoramento e transparência. Mas há possibilidade de agregar outro, do deputado Mauro Benevides (PDT-CE), que prevê cortes graduais, de 5% neste ano e 5% em 2026. A estimativa de alívio no rombo é de R$ 70 bilhões. _

Depois de tocar no menor patamar em um ano na véspera, o dólar subiu 0,36%, para R$ 5,424, na sexta-feira. Mas a bolsa renovou recorde histórico em pontos: subiu 0,24%, para 141.264. A decisão salomônica do STF ajudou.

Inside job, o fator humano do risco

Com a prisão de João Nazareno Roque, funcionário da empresa de tecnologia C&M Software, ganhou força a suspeita de que o desvio de recursos do Pix tenha sido um "inside job" (trabalho interno, crime praticado com cumplicidade de alguém de dentro).

Nesse caso, o diagnóstico de especialistas é de que o roubo seja mais baseado em engenharia social e menos em hackers. A diferença está no acesso: Roque confessou que entregou uma senha, que deu entrada aos criminosos. Disse ter recebido R$ 15 mil para permitir o golpe estimado entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão.

Qualquer que seja o nome, um dos lemas da segurança da informação é de que os sistemas são tão fortes quanto seus elos mais fracos, eletrônicos ou humanos. Como sinal de que o sistema do Pix segue seguro, o Banco Central relaxou a suspensão da C&M de cautelar para parcial. _

Mais prazo para hidrogênio verde

Os prazos do edital do governo do Estado para atrair a indústria de hidrogênio verde ficaram um pouco menos desafiadores. As inscrições foram prorrogadas por 10 dias. Interessados têm agora até o dia 26 para submeter propostas à chamada pública.

O cronograma final, no entanto, não sofrerá alterações, garante o governo estadual. O prazo apertado era uma reclamação de interessados em participar do edital. As propostas terão prazo de até 24 meses para execução após a assinatura do contrato. _

Acordo vai baratear chocolate suíço?

O acordo de livre-comércio entre Mercosul e Associação Europeia de Livre-Comércio (Efta, formada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein), anunciado quarta-feira, prevê cotas para chocolates suíços - parte das importações a ser definida será livre de tarifas quando o acordo Mercosul-Efta entrar em vigor.

Hoje, os chocolates importados pelos sul-americanos pagam imposto de 20%. Adilson Reis, analista da consultoria Mercado do Cacau, diz que a alta do cacau (300% em um ano e meio) e a posição de mercado de marcas suíças, como Lindt, Milka e Toblerone - produtos mais caros para um público específico - podem impedir queda de preços ao consumidor.

Devido à forte alta do cacau, prevemos aumentar os preços - afirmou um porta-voz da Lindt, umas das três empresas consultadas pela coluna (as outras duas não responderam). 

GPS DA ECONOMIA

Xandão manda para o cantinho do pensamento

Cada interessado leu como quis a decisão do ministro Alexandre de Moraes, suspendendo tanto o decreto que aumentou o IOF quanto o decreto legislativo aprovado pelo Congresso revogando a elevação. Na prática, o ministro lavou as mãos e mandou o governo e o Congresso para o cantinho do pensamento. Os dois poderes têm até o dia 15 para conversar e chegar a um entendimento.

O presidente da Câmara, Hugo Motta, comemorou a decisão do ministro como uma vitória do Congresso. Os governistas aplaudiram a ordem para a negociação. Ainda que neste momento Xandão pareça a voz do adulto na sala, o que ele fez foi adotar a conhecida decisão salomônica - não enterrou o aumento do IOF, mas determinou que a administração federal explique tim-tim por tim-tim as motivações e os impactos do aumento do imposto.

Com isso, o ministro deu tempo ao governo e aos líderes do Congresso para buscarem um acordo até o dia da audiência de conciliação.

Aumento do IOF para arrecadar tem precedentes

Xandão reconhece que elevar o IOF é prerrogativa do governo, mas faz a ressalva de que isso não pode ser feito para aumentar a arrecadação. É esta a tese do Congresso: o IOF é um imposto "regulatório".

Outros governos aumentaram esse tributo para incrementar a arrecadação, mas a oposição não aprovou decreto legislativo suspendendo a medida. No governo de Jair Bolsonaro, o IOF subiu por decreto com finalidade confessa de arrecadar mais para cobrir os gastos com o novo Auxílio Brasil (nome dado ao Bolsa Família à época). Ninguém esperneou.

O ministro Fernando Haddad precisa do dinheiro para tapar parte do rombo no orçamento e assim cumprir as metas do arcabouço fiscal, o que tanto pode ser feito pelo aumento da Receita quanto pela redução de despesas. Se o IOF cair de vez na audiência de conciliação e não for encontrada outra forma de aumentar receita, as despesas terão de cair. E como o governo não pode demitir funcionários de carreira, terá de cortar na saúde, na educação, nas rodovias. _

Sempre citadas pela oposição, as viagens da primeira-dama Janja da Silva deveriam ser racionalizadas como medida simbólica, mas não fazem diferença no conjunto das despesas que impactam de fato no déficit público.

Porto Alegre será sede de evento da Unesco sobre água

Deu resultado a viagem do governador Eduardo Leite a Paris, na sequência da participação do Fórum de Lisboa, o evento apelidado de "Gilmarpalooza" e que reuniu políticos e juristas na capital portuguesa.

Leite retorna domingo com a garantia de que será em Porto Alegre o seminário internacional Águas em Transformação: Diálogos Globais para Resiliência e Cooperação, iniciativa do Programa Hidrológico Intergovernamental da Unesco, com apoio do governo do Estado. O local exato do evento será definido na próxima semana.

Leite fez o anúncio depois de se reunir na França com representantes da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

O encontro discutiu os preparativos para o evento e aprofundou parcerias em outras frentes de cooperação - como os geoparques reconhecidos pela entidade e o fortalecimento da resiliência diante de desastres meteorológicos.

- O Rio Grande do Sul tem respondido aos impactos da crise climática com responsabilidade, planejamento e ação. Por meio do Plano Rio Grande, estamos reconstruindo o Estado com base em novos padrões de resiliência. Sediar esse evento internacional é uma oportunidade de compartilhar nossa experiência com o mundo e fortalecer parcerias em torno de soluções concretas - disse Leite.

O fórum que precede a COP30, em Belém (PA), terá a presença de mais de mil pessoas, representantes de 35 países e participação de 300 prefeituras brasileiras. São esperados líderes de instituições públicas e privadas, cientistas, jovens, organizações sociais e comunidades tradicionais. _

Dinheiro direto para hospitais

Sancionado no ano passado, o projeto que permite às empresas destinarem 5% do ICMS para hospitais filantrópicos e públicos está mais perto de sair do papel. Na sexta-feira, o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) aprovou o programa intitulado Pró-Hospitais, que agora terá de ser regulamentado pelo Estado.

Os deputados Airton Artus (PDT), Claudio Tatsch (PL) e Thiago Duarte (União Brasil), autores do projeto em parceria do secretário de Desenvolvimento Social Beto Fantinel (MDB), comemoraram a aprovação pelo Confaz. _

Raio X da saúde

Depois de percorrer emergências e entrevistar mais de cem profissionais da linha de frente e pacientes, o vereador Alexandre Bublitz (PT) vai apresentar um diagnóstico da saúde de Porto Alegre, na próxima quarta-feira.

Pediatra, Bublitz quer mostrar os principais gargalos na rede de atendimento que levam as pessoas a buscarem as emergências. _

MIRANTE

O ex-presidente da Famurs Marcelo Arruda assinou ficha de filiação ao PSD na noite de quinta-feira, em ato com a presença do deputado Danrlei e participação de quase 500 pessoas, em Erechim. Arruda planeja concorrer a deputado estadual em 2026.

O deputado Mateus Gomes (PSOL) vai recorrer da decisão do Ministério Público que isentou a prefeitura de Porto Alegre de responsabilidade pela enchente de 2024. Foi ele quem denunciou a prefeitura ao MP.

POLÍTICA E PODER 


05 de Julho de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Municípios gaúchos não têm políticas para riscos climáticos

Na COP29, realizada em novembro do ano passado em Baku, no Azerbaijão, o governo do Estado lançou uma plataforma digital para diagnosticar as estratégias dos municípios gaúchos no enfrentamento às mudanças climáticas.

A quatro meses da COP30, que acontecerá em novembro, em Belém (PA), dos 497 municípios gaúchos, 435 já participaram da pesquisa. Desse total, 92% não possuem políticas específicas para lidar com riscos climáticos.

Chamada de Roadmap Climático, a plataforma tem como objetivo mapear as ações climáticas municipais e promover iniciativas de apoio para a implementação de práticas locais. O questionário abordou diversos aspectos, incluindo situações de emergência enfrentadas pelos municípios, orçamento destinado à agenda climática, existência de planos de ação climática e plano diretor, além de programas de incentivo a políticas relacionadas ao clima.

A coluna reúne abaixo as principais perguntas e respostas do levantamento. 

Questões do levantamento e as respostas

O município possui comissão de mudanças climáticas?

Sim - 310 Não - 125

O município enfrentou situação de emergência climática nos últimos cinco anos (mesmo sem decreto)?

Sim - 425 Não - 10

O município decretou situação de emergência ou calamidade em decorrência de eventos climáticos nos últimos cinco anos?

Sim - 414 Não - 21

O município possui orçamento alocado para o enfrentamento de eventos climáticos extremos?

Sim - 123 Não - 312

O município possui análise de riscos climáticos?

Sim - 55 Não - 380

O município possui dados ou estudos sobre as projeções de mudanças climáticas para o território?

Sim - 6 Não - 429

Existe política ou plano específico para lidar com os riscos e vulnerabilidade climáticas?

Sim - 34 Não - 401

O município possui plano diretor?

Sim - 252 Não - 183

O município possui um Plano de Ação Climática?

Sim - 6 Não - 429

Dilma cutuca tarifas de Trump

A ex-presidente Dilma Rousseff, atual chefe do Banco do Brics, defendeu, durante a 10ª reunião anual do New Development Bank (NDB), na sexta-feira, o financiamento climático para países mais atingidos por mudanças do clima, destacou a pauta do fortalecimento das moedas locais e criticou o uso de tarifas como instrumento de "subordinação política".

Embora não tenha citado nominalmente os EUA, Dilma fez alusão indireta ao presidente Donald Trump já no início de seu discurso:

Tarifas, sanções e restrições financeiras estão sendo usadas como ferramentas de subordinação política. 

Entrevista Simone Lahorgue Nunes - Advogada

"As plataformas digitais ganham dinheiro e não se acham responsáveis?"

Autora do livro Manual de Direito da Mídia e do Entretenimento, a advogada gaúcha Simone Lahorgue Nunes trabalhou por 11 anos como diretora jurídica das Organizações Globo. É professora da FGV-Rio. Na quinta-feira, palestrou na Faculdade de Direito da UFRGS, na Capital, sobre liberdade de expressão e de imprensa na era digital. Veja a entrevista.

A quem se destina o livro?

É uma área pouco conhecida, que nem se estuda na faculdade de Direito: direito autoral, direito da mídia e do entretenimento, não existe. O que existe é Direito Constitucional, aí você vê um pouquinho de liberdade de expressão, mas dentro de 500 mil outros assuntos da Constituição. Quando comecei a lecionar essa disciplina, me vi em situação muito desagradável, que não tinha nenhuma obra pra indicar. Pensei: não é possível que estejamos falando sobre um setor responsável por um percentual enorme do PIB, exportamos conteúdo criativo sobre as mais diversas formas, audiovisual, música, obras de artes plásticas, e que não se tenha isso compilado, de forma compreensiva. 

Tenho experiência de 11 anos de organizações Globo e mais 11 anos com clientes internacionais de empresas de mídia e entretenimento que atuam no Brasil: New York Times, The Sun, Netflix, HBO. Pensei: preciso compartilhar esse conhecimento, escrever tudo o que aprendi. É um tema muito controvertido: estamos falando da ponderação entre dois princípios constitucionais, liberdade de expressão e direito à privacidade.

Como a senhora avalia direito autoral diante da inteligência artificial (IA)?

Há várias vertentes importantes. Uma delas, sem dúvida, é direito autoral, questões como quem é o autor de um material produzido pela IA. A nossa lei diz que o autor tem de ser uma pessoa física, diferentemente dos EUA, onde pode ser pessoa jurídica. No caso da IA, então, não teria autoria? Estaria em domínio público? Então, todo mundo pode copiar? Outra questão importantíssima é o treinamento dos sistemas de IA. O que essas máquinas usam para serem treinadas? São obras protegidas? Os jornalistas do The New York Times estão dizendo: "Como assim? Você está usando os meus artigos, todo o meu material, que é de minha titularidade? Tenho copyright sobre isso". A OpenAI está dizendo: "Não reproduzo. Estou usando só um pedaço". Essas discussões estão ocorrendo.

Como estão as discussões em relação ao entretenimento?

Nos EUA, há decisões que avaliam o quanto de IA foi usada em determinada criação. Todo mundo está usando. Mas o quanto se exige em uma criação em que se utilizou de um sistema de IA para que aquilo seja considerada criação humana e não criação da máquina? Já houve decisão sobre fotografia em que um autor utilizou IA e tentou registrar nos EUA com copyright. A decisão foi: feita a análise, verificamos que a intervenção humana foi mínima. 

Há quem defenda que criações de IA são feitas a partir de tudo o que já está no conhecimento humano. Portanto, deveria estar em domínio público. Há correntes acadêmicas fortes defendendo isso, de A a Z. Outra questão importante é a da remuneração do jornalismo tradicional. Os jovens se informam pelo TikTok. Então, precisamos analisar o que é o TikTok, o que nos leva a outro tema, o da responsabilidade das plataformas pelo conteúdo gerado por terceiros.

Qual a sua opinião sobre a decisão do STF em relação ao Marco Civil da Internet?

Estamos em ambiente de terra de ninguém nas plataformas digitais. Há, inclusive, ameaça muito grande ao Estado democrático de direito. Então, infelizmente, o nosso Congresso é um mercado livre: as coisas andam ou não andam de acordo com os interesses dos grupos que lá estão fazendo lobby. Acho que os ministros se viram diante de situação de ter de fazer alguma coisa. Tanto é que a tese começa dizendo: "Até que seja editada uma lei, nós determinamos...". Reconhecendo que isso tem de ser regulamentado por lei e que há um projeto parado no Congresso sobre redes sociais. Isso tudo se deve a esse cenário no Brasil, em que o Congresso se omite e o Supremo acaba tendo de tomar posições no sentido de evitar uma catástrofe maior.

Alguns setores dizem que regulamentação implica violação de liberdade de expressão.

Esses movimentos se apoderam do discurso da liberdade de expressão. Se olhar a Constituição, há pelo menos cinco artigos que falam da liberdade de expressão. Mas nenhum princípio constitucional, nem a liberdade de expressão, é absoluto. O que quer dizer que, algumas vezes, vai ceder em razão de outros princípios constitucionais mais importantes em casos concretos. A liberdade de expressão é importantíssima porque visa proteger a sociedade, mas é óbvio que será limitada. 

Antes do Marco Civil, as pessoas notificavam as plataformas, e elas tinham moderação interna e baixavam os conteúdos. Quando veio o Marco Civil, as plataformas passaram a lavar as mãos. (...) E vão lá e impulsionam o conteúdo, ganham dinheiro com isso. Então, como não são responsáveis? Elas, inclusive, ganham dinheiro criando bolhas de informação. 

INFORME ESPECIAL

sábado, 28 de junho de 2025


28 de Junho de 2025
CARPINEJAR

Shutdown

Ernesto deixou de pagar a fatura do cartão de crédito e continua comprando, acumulando juros. Tampouco quita o condomínio. Mantém em ordem o aluguel e as contas de água e luz para seguir vivendo.

Tem um salário de R$ 3 mil para um emprego de 39 horas semanais, numa rotina típica de segunda a sexta-feira, com oito horas de trabalho por dia e um intervalo para descanso. Só que, no mesmo período, os gastos atingem R$ 5.394. Está devendo R$ 2.394 todo mês.

A dívida acumulada, com um déficit mensal de R$ 2.394 e com cartão de crédito rotativo a juros médios de 44% ao mês, chegaria a um valor em torno de R$ 427 mil em 12 meses.

Ernesto não revela isso para a esposa (é casado em regime de partilha de bens). Ela nem sabe das suas finanças, mas logo ele estará com o nome no SPC e Serasa, sem perspectiva de retomada. Não terá mais conta hábil ou possibilidade de realizar transações.

Precisará de aproximadamente 142 salários inteiros de R$ 3 mil para quitar a dívida de R$ 427 mil, acumulada em um ano de uso do cartão de crédito rotativo - quase 12 anos de trabalho, sem gastar um centavo com mais nada.

Ernesto vive para pagar o passado. E o passado só avança e engole o futuro. Agora faça de conta que Ernesto é o governo federal, e que sua esposa desinformada é o eleitor, o contribuinte. É o que o governo está fazendo: arrecada mais, mas gasta ainda mais - e termina o mês no vermelho.

Neste ano, a arrecadação está prevista em R$ 2,3 trilhões. Ao longo do terceiro mandato de Lula, as despesas cresceram R$ 344 bilhões, encaminhando-se para R$ 2,415 trilhões, segundo dados da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado e do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do Tesouro Nacional.

Com os gastos sucessivos e galopantes acima da receita, o governo pode encerrar 2025 com um déficit primário (sem somar os juros para rolar débitos) equivalente a 0,77% do PIB, incluindo o pagamento de precatórios. O fato gera impacto direto sobre o crescimento da dívida pública, principal termômetro de solvência dos países. Projeções da IFI indicam que o governo Lula acrescentará cerca de 12 pontos percentuais à dívida em quatro anos.

Existe o arcabouço fiscal, um limite estabelecido entre 0,6% e 2,5% acima da inflação para o crescimento da despesa primária, que não pode ultrapassar 70% do crescimento da receita. Assim, para cada R$ 1 em novas receitas, devem ser gastos R$ 0,70, respeitando-se o teto de alta de 2,5%.

Só que ele é fictício. Uma das estratégias é liberar recursos do orçamento como despesas financeiras, que não são computadas como primárias e ficam de fora da regra fiscal.

Dinheiro do chamado Fundo Social (abastecido com rendas da União provenientes do pré-sal) tem servido para irrigar os programas do BNDES, o Minha Casa, Minha Vida e o Fundo de Investimento em Infraestrutura Social, com desembolsos estimados em R$ 74 bilhões neste ano.

O que considero como problemático: programas que cabiam no orçamento federal agora necessitam de recursos do fundo. Nossa trajetória inconsequente de gastos que excedem a receita líquida promete nos levar ao shutdown em 2027, com a paralisação da máquina pública por falta de recursos orçamentários.

Caso esse quadro se concretize, haverá interrupção de serviços públicos, atraso no pagamento de servidores e suspensão de programas sociais. Estamos quebrados. Por isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou elevar desesperadamente as receitas com o aumento das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), mas o decreto presidencial foi derrubado com maioria esmagadora na Câmara Federal em sessão de quarta-feira.

O divórcio entre governo e eleitor é iminente. 

CARPINEJAR

28 de Junho de 2025
ANDRESSA XAVIER

Sanguessugas

Aumentar o número de deputados virou urgência nacional, mas só para quem vive da política, não para quem vive no Brasil real. Foi com uma agilidade comovente que o Congresso Nacional se debruçou sobre esse projeto. Um empenho raro, que não se vê quando o assunto é importante para a população.

Um país de área territorial continental, cheio de desigualdades, que empilha problemas no atendimento à saúde, educação, habitação e segurança pública. Um país que precisa de reformas profundas e robustas. Acontece que, quando é para aprovar medidas que melhorem a vida do cidadão comum, o processo emperra, a pauta trava, o calendário complica, não tem quórum. Agora, quando é para ampliar o próprio poder e o acesso a mais verbas, cargos e emendas, o tema se torna prioridade. O IBGE de fato mostrou que os números populacionais mudaram, e é praxe corrigir, mas a ideia era redistribuir a representação. Quer dizer, aumentar para onde tem mais gente, diminuir onde a população encolheu. Para não perder nem desagradar ninguém, o Congresso entendeu que era o caso somente de aumentar as cadeiras.

Uma medida como essa só não vai indignar quem está anestesiado. O Brasil, após as eleições de 2026, passará de 513 para 531 deputados federais supostamente representando o povo no Congresso. São 18 cadeiras a mais. Mas não é só isso. São mais 18 gabinetes. São mais gastos com assessores, carros, apartamentos funcionais, passagens aéreas.

O site da Câmara informa que o valor mensal da verba de gabinete é de pouco mais de R$ 133 mil. Esse valor é para o pagamento de salários dos secretários parlamentares que ganham entre R$ 1,5 e R$ 9 mil. São funcionários que não precisam ser servidores públicos e são escolhidos diretamente pelo deputado. Ah! Cada parlamentar pode ter entre cinco e 25 secretários parlamentares para prestar serviços de secretaria, assistência e assessoramento direto e exclusivo nos gabinetes dos deputados, em Brasília, ou nos Estados de origem.

Trata-se de inchar ainda mais um Congresso que custa bilhões aos cofres públicos, em um país que sequer consegue garantir os direitos básicos. Estamos falando de um escárnio. Um deboche. Mais um tapa na cara do cidadão simples mortal.

É mais um capítulo da velha política brasileira do toma lá dá cá, das emendas escandalosas, do governo refém de um Congresso de sanguessugas. Não há justificativa moral nem econômica para aumentar o número de deputados. Ao contrário, deveriam diminuir, talvez pela metade. Garanto que não haveria prejuízos à democracia ou aos interesses da população. O Congresso, em vez de agir a serviço do Brasil, faz tudo como se fosse dono dele. 

ANDRESSA XAVIER

28 de Junho de 2025
MARCELO RECH

Enigma no Irã

Só há uma maneira de se descobrir se a trégua entre Israel e Irã será duradoura ou se, em breve, assistiremos a uma nova saraivada de bombas e mísseis no Oriente Médio. A resposta a esta questão, com implicações na vida de todos os habitantes do planeta, está na real identificação do grau de destruição das centrais nucleares iranianas e na sua capacidade de seguir enriquecendo urânio para construir ogivas atômicas.

Até agora, o que se tem são versões divergentes e contaminadas por interesses políticos. O presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, asseveram a devastação do programa nuclear e delimitam em anos o atraso do enriquecimento. As duas convicções contradizem um relatório da Agência de Inteligência e Defesa do Pentágono que enfureceu Trump. Pelo Pentágono, o ataque dos EUA bloqueou as entradas da central de Fordow, mas não destruiu suas instalações subterrâneas.

Pelo lado do Irã, qualquer informação oficial tem o valor de uma nota de três dólares porque o interesse imediato é evitar o prolongamento da pancadaria a que foi submetido por Israel. Proclamar que as centrais foram "gravemente danificadas", como disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, não tem validade, portanto. Dissesse ele o contrário, estaria atraindo novos ataques. Já a estimativa do diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, é de "danos muito significativos" em Fordow.

Todas as avaliações têm baixo valor na bolsa de apostas sobre uma nova fase da guerra até que uma comissão independente da AIEA possa acessar de forma presencial e com passe livre as instalações iranianas. Como o parlamento iraniano rompeu com a agência nesta semana, o enigma da verdadeira situação do enriquecimento de urânio, ainda que a espionagem esteja tentando fazer seu trabalho, deverá perdurar um bom tempo pela frente.

A trégua obtida por Trump é uma vitória pessoal dele, mas que precisa ser seguida pela retomada de negociações para o fim do programa iraniano. Desde que o porrete saiu da mesa e desceu sobre o Irã por 12 dias, o argumento ficou mais forte. O máximo que Teerã pode fazer agora é embromar o resto do mundo enquanto decide o destino dos 408 quilos de urânio enriquecido a 60% - a apenas um terço do necessário para 10 ogivas nucleares -, dos quais ninguém sabe, ninguém viu, o paradeiro.

Ao longo de décadas, o regime dos aiatolás vendeu a balela de que o seu programa era pacífico, como se isso fizesse sentido quando se enriquece urânio 12 vezes acima do necessário para a produção de energia elétrica e, ainda mais, quando o faz sob centenas de metros no subsolo. Neste conto, ao menos, espera-se que ninguém caia mais. 

MARCELO RECH

28 de Junho de 2025
OPINIÃO RBS

OPINIÃO RBS

Os gaúchos despertam neste sábado receosos com as consequências de mais um episódio de chuva volumosa previsto pela meteorologia. Confirmando-se os prognósticos, inundações por precipitação excessiva em áreas urbanas e transbordamentos de cursos d?água são iminentes. Os riscos crescem pelo fato de rios e outros corpos como o Guaíba já estarem cheios devido ao aguaceiro da semana anterior. É mais uma advertência da natureza de que as providências para reduzir danos por acontecimentos semelhantes no futuro próximo precisam ser aceleradas.

Ainda que este novo evento climático fique bem abaixo do de maio de 2024 em termos de transtornos, prejuízos e vítimas, assusta a quantidade de cheias e enxurradas expressivas enfrentadas pelo Estado em menos de 24 meses. Não é alarmismo irresponsável reiterar que se deve considerar seriamente a possibilidade de a sequência de chuvaradas bastante acima das médias históricas se repetir nos próximos anos, espalhando perdas materiais, revivendo traumas e ceifando vidas.

Como as hostilidades do clima ganham assiduidade, cumpre ao poder público imprimir o mais rápido ritmo possível a todas as obras, projetos e planejamentos destinados a minimizar os efeitos da chuva que cai em quantidades muito acima do que seria o normal. Até porque, alerta a ciência, o que seria extraordinário começa a ser compreendido como o padrão esperado.

Traz certo alento a informação de que o governo gaúcho tentará dar mais celeridade às fases preparatórias de construção e reforma dos sistemas de proteção contra cheias da Região Metropolitana. Entre essas obras estruturantes, a primeira da fila é a do dique de Eldorado do Sul, município mais atingido pela enchente do ano passado, que voltou a ter ruas alagadas com a chuva da semana anterior.

Por enquanto, a previsão é iniciar a obra em 2027 e entregá-la no fim de 2030. Segundo a Secretaria da Reconstrução, os prazos atuais são conservadores e é viável obter maior agilidade, sem comprometer um planejamento consistente e a qualidade da construção. Mas traz preocupação a informação que surgiu na sexta-feira de que o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Estilac Xavier suspendeu o pregão realizado pelo Piratini para atualizar o projeto de Eldorado.

Em meio à sensação da sociedade de que pouco foi feito desde o ano passado, também traz algum alívio a notícia da retomada na sexta-feira dos trabalhos de reforço do dique do bairro Sarandi, na zona norte da Capital, antes paradas por decisão judicial e agora retomadas por novo juízo. Um vazamento na estrutura assustou os moradores nos últimos dias. Aguarda-se que a prefeitura consiga comprovar a necessidade de remoção das casas irregulares do local para a obra seguir o seu curso e proteger a região. A gravidade da crise climática exige ação e sensibilidade dos poderes, sopesando direitos individuais e coletivos.

Com uma realidade diversa devido à topografia diferente em relação à Região Metropolitana, o Vale do Taquari, severamente castigado nos últimos dois anos, também dá novos passos para evitar novos desastres, por meio da revisão dos planos diretores de sete municípios para orientar a expansão urbana e evitar áreas de risco. A chuva deste junho intensifica o senso de urgência para a adaptação do Estado à fúria do clima. 


28 de Junho de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Haddad apoia judicialização, mas faz aceno

Na sexta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Had- dad, reforçou a possibilidade de o governo recorrer à Justiça contra a derrubada do decreto de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Mas também acenou com uma saída para "aquela noite de domingo", como se referiu várias vezes à reunião com líderes do Congresso em que pensava ter saído com um acordo mas soube pela imprensa, no dia seguinte, que não havia "compromisso" com a alternativa ao IOF.

Afirmou que a equipe econômica teria desenvolvido "solução jurídica" que permitiria o corte linear do custo tributário, com exclusão da Zona Franca de Manaus e do Simples, os "benefícios constitucionais" nos quais o Legislativo não quer mexer.

- Atende o Congresso do ponto de vista que eles têm - afirmou à GloboNews, parecendo oferecer uma ponte.

Convidado a dar detalhes, declinou: - Vou apresentar aos líderes assim que tiver oportunidade.

Haddad admitiu que não fala com os líderes do Congresso desde "aquela noite de domingo".

O peso dos interesses contrariados

Como está claro, não é divergência sobre IOF que move o Congresso. O clima ruim é resultado de interesses contrariados. O principal é a redução no pagamento de emendas parlamentares. Conforme dados do Sistema Integrado de Orçamento e Planejamento (Siop), o governo empenhou R$ 1,924 bilhão para emendas, mas o pagamento efetivo até a véspera da votação era de R$ 465 milhões. O previsto no ano é de R$ 50 bilhões.

Outra guerra envolve a ambição do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, de derrubar o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Os dois se acusam de defender interesses empresariais. Foi motivação econômica a derrubada de vetos, que gerou obrigação de contratar usinas térmicas a gás em Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O custo anual de R$ 20,6 bilhões será repassado ao consumidor e elevará a conta de luz em cerca de 7,5%. A tentativa de "criar mercado" para gasodutos existe desde a privatização da Eletrobras, em 2021, com o mesmo "jabuti", e voltou agora. _

Sem clareza sobre o futuro, o mercado financeiro nacional fechou a semana com humor misto: o dólar variou 0,27% para baixo, a R$ 5,483, e a bolsa brasileira oscilou -0,16%.

Recorde de alfajores

Um ano depois de ter sido atingida pela água embarrada de maio de 2024, com prejuízo de R$ 3 milhões, a Odara teve produção recorde em maio, de 1 milhão de alfajores em um mês.

Antes da cheia, a média era de 580 mil mensais. Salva da enchente pelos clientes - enquanto estava fechada, 3,6 mil pessoas compraram para receber só depois -, a Odara tem fábrica no bairro Sarandi, na Capital, com capacidade de 15 mil alfajores por hora. Prevê crescer cerca de 60% e alcançar faturamento de R$ 30 milhões neste ano. _

Avanço, ainda que parcial

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de considerar parcialmente inconstitucional o artigo 19 do Marco Legal da Internet não tem a abrangência ambicionada pelos estudiosos da desinformação, mas representa um avanço civilizatório. Talvez seja sábia ao escolher o "caminho do meio" e deixar claro que não envolve qualquer remoto tipo de censura.

As big techs que conseguiram impor o uso de suas ferramentas a boa parte da humanidade só precisarão retirar conteúdo sem necessidade de ordem judicial em casos bastante específicos: indução a suicídio ou a automutilação - como o caso da menina morta depois de ser pressionada a inalar desodorante -, discurso de ódio, racismo, pedofilia, pornografia infantil, incitação à violência, crimes contra a mulher, tráfico de pessoas e defesa de golpe de Estado.

Considerado o surgimento do pioneiro Facebook, há 21 anos, essa indústria alcançou a maioridade sem qualquer de regulação, espécie de menoridade penal estendida.

Ficaram de fora da decisão formal, por exemplo, os chamados "crimes contra a honra", como calúnia, injúria e difamação, que há décadas são usados para punir corretamente jornalistas que infringem a lei, mas, em muitos casos, para simplesmente constranger e barrar a circulação de informação de interesse público.

O STF incluiu na regra chatbots, marketplaces, aplicativos de avaliação e críticas, entre outros. Chatbots são movidos a inteligência artificial, com aplicações desenvolvidas por empresas como a Nvidia, cujo valor de mercado (US$ 3,78 trilhões, o equivalente ao PIB da Alemanha, quarto país mais rico do mundo) ameaça empalidecer a comparação das big techs a Estados-nações em poder econômico. _

Valor de mercado de big techs

Empresa US$

Nvidia 3,78 trilhões

Microsoft 3,7 trilhões

Alphabet 2,1 trilhões

Meta 1,83 trilhão

Twitter 41 bilhões

Fontes: Nyse e Nasdaq

GPS DA ECONOMIA


28 de Junho de 2025
ECONOMIA

Taxa de desemprego recua para 6,2% no trimestre encerrado em maio

A taxa de desemprego no Brasil caiu de 6,6% no trimestre terminado em abril para 6,2% no trimestre encerrado em maio. Trata-se do patamar mais baixo para o período em toda a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No total, eram 6,8 milhões de desempregados no Brasil no período terminado em maio, redução de 8,6% em comparação com o trimestre anterior. Em comparação ao mesmo trimestre de 2024, a queda foi de 12,3%. Naquele intervalo, a taxa era de 7,1% e eram 7,8 milhões de pessoas sem emprego.

Sem impacto do juro

Segundo o analista da pesquisa do IBGE, William Kratochwill, o resultado indica tendência sazonal de estabilidade após o período de demissões.

Conforme ele, os números sugerem que o mercado de trabalho "continua resistindo" à política monetária contracionista.

- O mercado de trabalho em si está numa situação melhor do que esteve nos últimos dez anos - disse.

Também houve recorde de rendimento dos trabalhadores. A soma das remunerações dos trabalhadores, que indica a massa de rendimento real habitual, totalizou R$ 354,6 bilhões. O rendimento médio mensal chegou a R$ 3.457, crescimento de 3,1% frente ao ano passado. 





28 de Junho de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

TCE suspende pregão para projeto anticheias em Eldorado

A prefeita de Eldorado do Sul, Juliana Carvalho, não conseguiu conter as lágrimas quando soube pelo governador Eduardo Leite da decisão do conselheiro Estilac Xavier, do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

O despacho suspendeu o pregão realizado pelo governo do Estado para escolher a empresa que fará a atualização do projeto do sistema de contenção de cheias na cidade.

A concorrência estava em fase de homologação do resultado, em que a vencedora foi a empresa Hidrostudio Engenharia, de São Paulo, tendo a Engevix em segundo lugar e a STE em terceiro.

Estilac acatou os argumentos do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva, Seccional do Rio Grande do Sul (Sinaenco), que denunciou supostas irregularidades no pregão. Para escolha do vencedor, o governo adotou o sistema de pregão por ser mais ágil. Esse modelo leva em consideração apenas o menor preço, mas o próprio edital especifica a qualificação técnica mínima exigida.

O conselheiro entendeu que deveria ter sido adotado modelo de concorrência, que combina preço e qualificação técnica. O valor de referência previsto era de R$ 3,8 milhões. A vencedora propôs R$ 3,76 milhões. O secretário da Reconstrução, Pedro Capeluppi, informa que o governo vai tentar convencer Estilac a rever sua decisão ou levar para análise da câmara que integra com mais dois conselheiros.

Avanço do Jacuí causou alagamentos

O choro da prefeita Juliana é compreensível. Eleita no ano passado, ela fez tudo o que estava a seu alcance para evitar que a tragédia de 2024 se repetisse, mas o avanço do Rio Jacuí já alagou dezenas de ruas e deixou centenas de famílias desalojadas.

Juliana foi ao gabinete de Leite pedir ajuda para resolver os problemas imediatos e lá ficou sabendo da má notícia. Entrou em desespero, porque sabe o que significa cada dia de atraso na construção do dique. 

Críticas ao modelo das concessões

Pesquisadora alerta sobre desafios da educação profissional

Congresso chantageia governo fraco no caso do IOF

Estado instala três gabinetes de crise devido às chuvas

Diante da previsão de chuvas intensas durante o fim de semana, o governo estadual decidiu pela instalação de três gabinetes avançados de crise da Defesa Civil, em Santa Cruz do Sul, Lajeado e Caxias do Sul.

Esses centros servirão como pontos de apoio e articulação regional para o acompanhamento em tempo real da situação nas áreas com maior probabilidade de impacto.

Em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo colocou as equipes de prontidão para que ninguém seja surpreendido no fim de semana. 

POLÍTICA E PODER

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04/07/2025 - 13h51min Martha Medeiros Viajar é um vício, um prazer, um tratamento de saúde mental Não é porque se está fora de casa que se p...

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