
18 de Outubro de 2025
OPINIÃO RBS
Fim da farra dos celulares nos presídios tarda
Foi notícia na sexta-feira uma operação da Polícia Civil gaúcha contra um trio acusado de aplicar o golpe dos nudes. É mais um dos tantos crimes que se espalham com a ajuda de ferramentas digitais. O detalhe é que o delito era coordenado de dentro da Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas. Dos três envolvidos, dois são detentos. Esse é apenas mais um caso que demonstra a importância de o sistema prisional gaúcho não tardar mais em contar com uma estrutura eficiente de bloqueio de sinal de celular e internet. É de amplo conhecimento que, de dentro das cadeias, líderes de facções emitem ordens a seus comandados soltos e criminosos se comunicam com comparsas nas ruas, tentam golpes virtuais e praticam extorsões.
O governo gaúcho, de fato, encara o problema, mas chamam atenção os percalços na contratação de empresas para prestar o serviço de instalação dos equipamentos e os atrasos nos cronogramas de trabalho. Os prazos prometidos são invariavelmente descumpridos, como mostrou reportagem de Carlos Rollsing e Jonas Campos que está nesta edição de Zero Hora. Desde 2021 o Piratini tenta começar a instalação dos bloqueadores. Mas, das 24 unidades prisionais que já deveriam contar com a tecnologia, apenas duas tiveram os equipamentos colocados e aprovados nos testes. A despeito da demora, convém reconhecer ao menos que, enfim, há um horizonte para acabar a farra da comunicação sem muitos embaraços entre o interior dos presídios e o mundo exterior.
Reportagem anterior do Grupo de Investigação da RBS (GDI), em maio, demonstrou que mais de um ano depois da assinatura do contrato entre o Estado e a IMC, empresa vencedora de pregão eletrônico para o serviço, nenhuma das casas prisionais do Rio Grande do Sul que deveriam já estar garantindo a incomunicabilidade atrás das grades tinha o bloqueio pleno dos sinais. A promessa da Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo, então, passou para setembro. Agora, pulou para dezembro. A primeira empresa contratada, em 2021, teve o contrato rompido dois anos depois por não conseguir cumprir o acordado.
De forma resumida, das 24 unidades previstas para receber os sistemas, 13 têm os equipamentos instalados - mas, destas, 10 ainda aguardam os resultados dos testes e em uma a verificação se não há vazamento de sinal não começou. Nas outras 11, a colocação dos equipamentos e estruturas não foi concluída. É de se esperar que exista uma cobrança firme para o novo prazo, desta vez, ser respeitado.
As estatísticas mostram uma queda consistente da criminalidade no Rio Grande do Sul nos últimos anos, o que é reconhecido pela sociedade gaúcha, mas a facilidade com que detentos usam telefones celulares se mantém como um calcanhar de Aquiles da política de segurança. São recorrentes os questionamentos da população, não apenas no Estado, sobre o fato de, apesar de existir tecnologia há bastante tempo, essa situação de descontrole perdurar. É ilustrativa a informação de que, entre janeiro e setembro, 11.977 celulares foram apreendidos nas prisões gaúchas. Aguarda-se que esse deboche acabe definitivamente.
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