
Respiro de humanidade
A semana começou com esperança de cenas menos tristes no mundo, a partir do cessar-fogo entre Israel e Hamas. Mais do que isso, foi emocionante ver reféns sendo devolvidos às suas famílias. Fiquei feliz, mesmo sem conhecê-los. A sensação veio ao pensar em suas famílias e ao ver o alívio dos abraços. Vinte homens liberados depois de viverem o inferno desde que foram arrancados de casa, de festas, das ruas, e mantidos em cativeiro. Muitos viram familiares sendo mortos ao lado. Um deles cavou a própria cova. Outros tantos não sobreviveram e jamais terão seus corpos devolvidos. As mulheres foram abusadas.
Aqui, de longe, não temos noção do que foi o 7 de outubro de 2023. Naquela madrugada, milhares de terroristas atravessaram a fronteira, burlaram a inteligência e a segurança de Israel. Mataram, estupraram, caçaram, filmaram tudo e até comemoraram. A guerra começou ali e se estendeu até o último fim de semana, com outros milhares de mortos em Gaza. Com nosso olhar ocidental e distante, jamais entenderemos plenamente o que se passa no Oriente Médio.
Os palestinos da Faixa de Gaza, mesmo com o fim da guerra, seguem sofrendo pelo próprio reflexo do conflito, ao voltarem para o que restou de suas casas, mas também pelo poder imposto pelos terroristas do Hamas, que matam em praça pública. Esse grupo não se importa com quem matou, com quem morreu, ou com quem sonha com um Estado palestino. Não há interesse em reconstruir Gaza nem em cuidar dos que morreram de fome ou sob bombardeios. As flotilhas humanitárias não apareceram no pós-guerra. Os financiadores dos ataques se lixam para a população civil, que continua pagando a conta da barbárie provocada por eles.
De longe, muitos apenas escolhem um lado e o defendem como uma causa. E está tudo bem ter causas, mas é preciso separar o que é povo do que é causador de uma guerra. Nesta semana, relembrei nas minhas redes sociais histórias que ouvi na viagem recente que fiz a Israel. As respostas vieram cobrando as histórias dos palestinos, como se fosse preciso contrabalançar dor com dor. Querendo cobrar justiça, as pessoas confundem o peso das vidas e acham que precisam torcer por um lado e desejar o mal do outro. A velha narrativa do bem contra o mal, como se o mundo fosse uma partida e cada um tivesse de escolher um time.
Mas o mundo não é um jogo. É múltiplo, complexo, cheio de nuances. Sem empatia, fica ainda mais difícil entendê-lo. Sem reconhecer o direito de o outro existir, então, torna-se impossível. Que o cessar-fogo traga, ainda que somente até um próximo conflito, um respiro de humanidade. _
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