
17 de Outubro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo
Baixa expectativa, grandes esperanças
O esperado encontro entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, confirmou o que se previa: nada concreto, mas grandes esperanças. A expectativa era baixa sobre anúncios de mudanças. Esperava-se que avançasse para definir a pauta que será debatida, em algum momento, entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva. Principalmente, que não inviabilizasse esse encontro. Desse ponto de vista, parece ter obtido sucesso. Já é muito.
Presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira avalia que pode ser o "primeiro passo" para retomar a taxa universal de 10%.
- O bom é que o canal de diálogo, que estava truncado, agora está aberto. O mundo ideal seria a notícia de retirada, mas sabemos que é difícil, ainda vai haver algumas rodadas.
Diretora-executiva da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), Cândida Cervieri observa que o Brasil deve apresentar argumentos técnicos para retirada da sobretaxa.
- É o início da negociação, quando as partes técnicas abrem o diálogo e começam a trabalhar de forma técnica.
Ex-secretário de Comércio Exterior, Welber Barral disse que o papel da reunião, já agendada para ter só uma hora, é exatamente preparar um encontro de cúpula. _
Mais promessas, menos dólares
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, anunciou que a ajuda à Argentina pode duplicar: além do swap cambial, haveria também um empréstimo de US$ 20 bilhões. Como o primeiro instrumento anunciado não envolve dinheiro novo, só uma troca de pesos por dólares, era um ponto fraco em um sistema tão desafiado.
É tudo tão fora do normal que na quarta, dia do anúncio de Bessent, o mercado de câmbio não se animou: tanto a cotação oficial quanto a paralela subiram, em vez de cair. Para ontem, havia expectativa de anúncios. Não vieram, e subiram tanto o dólar oficial (1.425 pesos) quanto o paralelo (1.470 pesos), embora ambos com discrição. _
Rombo nos Correios constrange governo
O novo buraco de R$ 20 bilhões exposto pela intervenção da Casa Civil na gestão dos Correios, que gerou prejuízo acumulado de R$ 4,4 bilhões só no primeiro semestre, constrange o governo Lula e desafia a expectativa de equilíbrio fiscal. A perda corresponde ao triplo (222% maior) da registrada no mesmo período de 2024. Uma das alegações é que a taxação das compras em sites estrangeiros abalou uma das principais receitas. Não justifica as cifras.
O plano foi anunciado pelo novo presidente da empresa pública, Emmanoel Schmidt Rondon, que assumiu há 21 dias. Inclui renegociação com fornecedores, busca de novas receitas e um plano de demissão voluntária financiado por dinheiro novo. .
O plano é buscar R$ 10 bilhões ainda neste ano com Banco do Brasil e Caixa e bancos privados, mais outro tanto em 2026. Para isso, é necessária garantia da União, o que significa que o risco da má gestão pode desembocar no mesmo lugar de sempre, o bolso do pagador de impostos. A crise não surgiu agora, mas em um país tão cheio de necessidades, ter mantido uma gestão desastrosa por tanto tempo exige explicações. _
Entrevista - Bruno Mandelli
Diretor do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (Assibge)
"Se houvesse problema de credibilidade, apontaríamos"
Quem a Assibge representa?
É um sindicato nacional dos servidores do IBGE, representa servidores ativos, aposentados, efetivos e temporários. Temos cerca de 6 mil filiados.
Qual a discordância em relação à mudança no estatuto?
A mudança pleiteada pela direção caminha no sentido de concentrar poder na presidência do IBGE em detrimento das áreas técnicas. A minuta retira do estatuto a previsão de como seriam estruturadas as diretorias. E sem determinação, o presidente do IBGE teria liberdade para, a qualquer momento, criar novas diretorias, fundir, trocar atribuições. O entendimento é bastante consensual no corpo técnico.
A Assibge é contra qualquer mudança no estatuto ou contra a proposta?
A proposta apresentada tem pontos muito graves. Então, não estamos trabalhando para emendar a proposta, mas não temos objeção à mudança de estatuto.
Não reconhecem a justificativa de que a revisão visa a permitir a modernização do IBGE?
A mudança proposta não tem nenhum traço de modernização. É bastante arcaica. O IBGE tem dificuldades de exercer o papel de coordenador, mas a mudança de estatuto não é o caminho.
As discordâncias colocam a credibilidade em risco?
Se houvesse qualquer indício de problema de credibilidade nos dados, nós apontaríamos. Não queremos que nossas críticas coloquem dúvida sobre os dados que são produzidos hoje pela instituição. Agora, o processo de fragilização do IBGE pode gerar dúvidas sobre a qualidade dos dados no futuro. _
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