segunda-feira, 20 de outubro de 2025



20 de Outubro de 2025
iNFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

O cessar-fogo não vai longe

Só o mais ingênuo dos mortais acreditaria que o cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas iria longe ou se transformaria em uma paz duradoura. Nem sua retomada traz algum alento.

A trégua não durou nem uma semana. Ontem, ataques aéreos das Forças de Defesa de Israel atingiram a região de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em resposta ao que o governo de Benjamin Netanyahu considerou violações do cessar-fogo por parte dos extremistas, que teriam disparado mísseis antitanque contra posições militares. Pelo menos 21 pessoas morreram, e Israel suspendeu a entrada de ajuda humanitária no território.

Nentanyahu diz ter ordenado que as tropas tomassem "medidas enérgicas" contra alvos terroristas, o Hamas negou ter feito disparos contra Israel e se disse comprometido com o armistício.

As trocas de disparos, por enquanto, são apenas isso: trocas de disparos. Escaramuças. Se as violações irão resultar no retorno da guerra aberta entre Israel e Hamas, os próximos dias dirão. Mas o incidente de ontem serve, como já havíamos previsto nesta coluna, para fortalecer vozes contrárias a qualquer acordo. Os lados a favor da sabotagem são conhecidos. Pelos israelenses, os ultraconservadores que integram o gabinete, como o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, que instou o exército a retomar totalmente os combates na Faixa de Gaza "com toda a força". Do lado dos terroristas, as alas mais radicais. Não são poucas, considerando que se trata de um grupo cuja pedra angular não é a construção de um Estado palestino, mas o extermínio de Israel.

Não são blocos monolíticos - nem a cúpula de Netanyahu, nem o comando do Hamas. Há "fogo amigo" de todo lado.

Aliás, como em política não há vácuo de poder - tão logo Israel recuou até a "linha amarela", na segunda-feira, ainda dentro de Gaza, o Hamas retomou o controle do território. Foram vários os vídeos que circularam em redes sociais, na semana passada, mostrando execuções públicas, protagonizadas pelos terroristas, de membros de clãs rivais, que prosperaram durante a guerra, principalmente lucrando com o conflito, colaborando com Israel. Modus operandi: tiros na cabeça e nos joelhos de opositores, exatamente como fizeram em 2007 ao expulsarem a Fatah do território. Nas ruas, os extremistas espalham-se para manter a ordem, voltando a ser a lei - o que reforça a percepção de que tiveram suas capacidades militares fragilizadas, mas não perderam completamente o poder de fogo. E isso é mais uma derrota para Netanyahu, que prometeu exterminar o Hamas.

O acordo de Trump foi mal costurado. Cumpriu o papel fundamental da libertação do restante dos reféns - e nisso tem méritos -, mas, ao deixar pontas soltas, sem se preocupar com o "como", abriu pouco espaço para qualquer otimismo.

É assim a "névoa da guerra", conceito atribuído ao general prussiano Carl von Clausewitz: "Tudo é muito simples, mas até o mais simples é difícil". No Oriente Médio, essa máxima se adequa com perfeição. _

Entrevista - Filipe Albano

Gerente do Instituto de Petróleo e Recursos Naturais (IPR), uma das maiores referências em captura de carbono, e professor da Escola Politécnica da PUCRS

"A empresa que menos emitir CO2 será mais competitiva"

É um mercado que estabelece limites máximos de emissões de gases do efeito estufa, traduzidos em termos de CO2 equivalentes, CO2e. Não é só o CO2, também metano, óxido nitroso, os HFCs e os PFCs, muito mais nocivos para a camada de ozônio e que contribuem para o aquecimento global. A partir desse mercado, o foco é estabelecer um sistema governamental que controle as emissões das empresas, em especial dos setores mais poluentes. O mercado de carbono tem duas vertentes: uma que o governo está envolvido, o mercado compulsório, em fase de implementação. E o outro mercado, voluntário, que já acontece em vários países, inclusive no Brasil. Porém, ele tem uma aceitação um pouco menor, e os créditos vendidos no mercado voluntário são um pouco mais baixos em valor.

Apesar de ser a mesma métrica, o preço pode ser variável. Está atrelado ao tipo de projeto técnico. Daí entram engenharia, química e geologia. O preço da tonelada removida (de CO2 da atmosfera) ou reduzida está associado ao tipo de metodologia que se usou para captura e armazenamento de CO2, o tempo que ficará sequestrado e a qualidade do processo. Por exemplo, qual laboratório foi utilizado, se usou um organismo de validação e verificação acreditado.

Exatamente. No site carboncredits.com, há o valor dos principais mercados compulsórios operando no mundo. No mercado europeu, o crédito deve custar cerca de 70 euros. Na Califórnia está em torno de US$ 40, US$ 50.

O mercado brasileiro não estabeleceu preço básico. Normalmente, se começa estabelecendo um preço básico, mas, depois, entra na lei de oferta e demanda. O mercado brasileiro ainda não estabeleceu as metodologias técnicas que vão ser aceitas aqui. Isso é uma grande chave: para que tipo de projeto vai ser aceito, se a gente vai aceitar aqui metodologias do mercado voluntário, se vamos criar as próprias metodologias da Embrapa ou de agências do governo, da ANP, entre outras.

Nos próximos dois anos, a fase é de regulamentação. Estão começando a criar as secretarias que vão tratar do SBCE. Vai ser a Receita Federal do carbono. Cada empresa poderá emitir até 25 mil toneladas de CO2. O limite mínimo é de 10 mil toneladas. A partir disso, vai ter que reportar (ao governo). Terá obrigações formais. E há sanções claras na lei, multas pesadas a quem descumprir. A sanção pode levar até ao cancelamento do registro da empresa. Há uma expectativa de que, inicialmente, estarão os setores mais poluentes: óleo, gás, energia, siderurgia e cimento.

Exatamente. Há três palavras-chave: retenção, redução ou remoção do CO2. Os três Rs.

Pode ser, sim. Ela pode comprar um percentual de crédito, mas precisa ter um percentual que seja de projetos de redução de emissões. Então, não é só "vou lá e compro". A ideia é fomentar projetos técnicos de engenharia, reflorestamento, biologia ou de geologia, que foquem em reduzir ou remover CO2 da atmosfera. _

Um dos gerentes do Instituto de Petróleo e dos Recursos Naturais (IPR), da PUCRS, Filipe Albano, explica como o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) irá contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa.

INFORME ESPECIAL

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