sábado, 8 de março de 2025

 Ter consciência do próprio valor tem sido nossa maior conquista, mas dispensar reforços é soberba

Ainda que eu tome conta de mim, não me sentirei diminuída se receber uma mãozinha

Ao ver que o Dia da Mulher cairia em um fim de semana, gelei. Teria que escrever algo a respeito. Pois cá estou, sob pressão da data e com um certo cansaço do discurso das mulheres maravilhas

Lembro de Hannah e Suas Irmãs, clássico de Woody Allen. No filme, o ator Michael Cane é Elliot, marido de Hannah, uma mulher sensata, bem-sucedida e espinha dorsal da família, interpretada por Mia Farrow. Pois Elliot se engraça com a cunhada, a mais jovem e insegura das irmãs da esposa, e justifica a canalhice: “Preciso de alguém que me ache necessário”.

Os homens consentem, apesar do espinho alfinetando o ego: mas se ela dá conta de tudo sozinha, eu sirvo para quê?

A Hannah do filme é definida como “revoltantemente perfeita”, e essa revolta se manifesta numa vingança: foi subtraído dela o direito de ter a lealdade do homem com quem se casou. Se ela não precisa dele, se ela não tem dúvidas, nem fraquezas, nem demandas que seu marido possa resolver, ora, está pedindo para ser traída ou abandonada. Numa versão século 21, estaria pedindo inclusive para ser assassinada.

Hannah também tem dúvidas, fraquezas e demandas, pois é um ser humano, e não um androide. Sua autossuficiência não faz dela um iceberg. Os antenados sabem que é estimulante conviver com uma mulher segura, que administra suas imperfeições e não faz drama por qualquer coisa. Mulheres bem estruturadas resolvem suas pendências sem recorrer ao SOS Bofe, mas nem por isso recusam parceria no cotidiano e colo nos momentos em que a barra pesa.

Quando sou abduzida pelo maldito celular, e isso acontece a toda hora, só vejo postagens de Hannahs revoltantemente perfeitas que levantam da mesa quando o homem diz uma babaquice, que perdem a barriga em 12 minutos de treino e que estão se lixando para a velhice, e o meu cansaço aumenta. Pontuo bem no quesito lucidez e autoestima, mas não sou esta Hannah toda. Quero de volta o direito de ser frágil, em meio à minha força. O direito de falhar, em meio aos meus acertos. 

Ainda que eu tome conta de mim com bastante competência, não me sentirei diminuída se receber uma mãozinha. De um homem, de uma amiga, da terapia. Ter consciência do próprio valor tem sido nossa maior conquista, mas dispensar reforços é soberba. Já é hora de aceitar que ser feliz é um trabalho de equipesem prejuízo à nossa independência. 


Barbie lança boneca em homenagem a sobrevivente da boate Kiss; entenda

Kelen Ferreira e intérprete na série "Todo Dia a Mesma Noite" vão ganhar edição especial da boneca

04/03/2025 - 18h25min

Kelen Ferreira e a boneca criada em sua homenagem.

Ester Mendes / Mattel / Divulgação

Bonecas têm as próteses nas pernas.

Paola Antonini interpretou Kelen em série da Netflix e também foi homenageada.

A terapeuta ocupacional e influenciadora Kelen Ferreira, sobrevivente do incêndio da boate Kiss em 2013, em Santa Maria, será homenageada pela Mattel com uma Barbie inspirada nela. A boneca, assim como Kelen, possui uma prótese transtibial — abaixo do joelho — na perna direita. 

Junto a ela, a criadora de conteúdo Paola Antonini, que interpretou uma personagem inspirada em Kelen na série Todo Dia a Mesma Noite, da Netflix, também será representada na coleção, que resgata a amizade feminina, lançada nesta terça-feira (4).

Mulheres inspiradoras

A edição especial foi lançada em alusão ao Dia Internacional da Mulher, celebrado no sábado (8), e busca promover o valor da amizade feminina pela campanha Mulheres Inspiradoras (Role Models).

Kelen e Paola são as primeiras pessoas com deficiência brasileiras a receberem uma Barbie inspirada nelas. Durante a gravação de Todo Dia a Mesma Noite, as duas viraram grandes amigas, e, agora, essa amizade será retratada nas duas bonecas.

— É uma honra estar nessa campanha com mulheres incríveis, principalmente (acompanhada) de uma amiga que sempre esteve ao meu lado, mostrando que juntas podemos alcançar qualquer coisa. Espero que essa boneca inspire meninas a perceberem a força que vem de dentro e que nenhum desafio é impossível de superar — disse Kelen em publicação no Instagram.

Quem é Kelen Ferreira?

Natural de Alegrete, Kelen Ferreira é formada em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Na madrugada de 27 de janeiro de 2013, ela estava na Boate Kiss, em Santa Maria, quando ocorreu o incêndio que deixou 242 mortos e 636 feridos. 

Kelen saiu da tragédia com 18% do corpo queimado e precisou amputar parte da perna direita. Na época, tinha 19 anos e passou 78 dias internada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, sendo 15 deles em coma. Em dezembro de 2021, ocorreu o julgamento do caso Kiss. Na ocasião, Kelen foi a segunda testemunha a prestar depoimento no júri. No depoimento no Foro Central I, em Porto Alegre, ela relatou traumas psicológicos, além dos físicos:

— Vivemos numa sociedade que exige corpo perfeito. Eu comecei um processo de aceitação do ano passado para cá. Eu tinha medo de sair nas ruas e as pessoas me julgarem. Só ano passado passei a usar short. Eu usava calça jeans até no calorão de 40 graus — afirmou Kellen, na época.

Atualmente, a alegretense é influenciadora digital e conta com 192 mil seguidores nas redes sociais. A boneca da gaúcha é uma das primeiras a ter uma prótese transtibial e cicatrizes de queimaduras, além da esgrimista italiana Bebe Vio, que possui cicatrizes de meningite.



07/03/2025 - 16h00min
Sara Bodowsky

Um brinde à tua vida e à vida de todas nós

A coluna deste fíndi propõe uma reflexão sobre o Dia da Mulher e a importância de não esquecer o significado da criação da data

Chama amigas e amigos ou vai sozinha, mas te presenteia com um momento que tu queira de verdade.

Oito de março foi oficializado pela ONU, em 1975, como uma data que celebra a tão cara luta pela igualdade de gênero e o combate ao preconceito e à discriminação às mulheres.

A cada ano tenho uma preocupação real de que essa ideia inicial não seja esquecida. Por isso tento sempre ler mais a respeito e escutar e enxergar o trabalho de outras mulheres. 

Para, assim, entender as diferenças entre grupos e facilitar a vida umas das outras. Talvez esse seja o caminho para transformar esse sábado em um dia de conscientização.

Então, a coluna neste fíndi vem te propor a curtir esse dia. Chama amigas e amigos ou vai sozinha, mas te presenteia com um momento que tu queira de verdade. Brinda com um drinque, um suco, uma água, à tua vida e à vida de todas nós. Por um futuro mais leve, mais equilibrado e mais feliz! 

Mulheres por mulheres

na da UFRGS em 1996 e um dos meus prazeres era descobrir a cidade e suas opções artísticas. Adorava a Sala Redenção, o cinema que fica junto ao campus central da Universidade. Foi lá onde conheci e me apaixonei por grandes nomes da sétima arte.

Pois a Sala Redenção segue em atividade, oferecendo cinema de qualidade, com entrada franca e aberta à comunidade. Neste mês de março, de 10 a 21, durante a mostra Mulheres por Mulheres, serão exibidos nove filmes com mulheres na direção e como protagonistas.

E a segunda dessa semana terá apenas filmes francófonos (falados em língua francesa), em comemoração ao Dia Internacional da Francofonia. As sessões são realizadas em parceria com o Goethe-Institut de Porto Alegre, a Aliança Francesa de Porto Alegre e a Cinemateca Francesa.

A Sala Redenção fica na Rua Eng. Luiz Englert, 333. Informações sobre a programação no site ufrgs.br/difusaocultural e também no perfil do Instagram @salaredencao. 

O Food Hall Country é um espaço que estou curtindo cada vez mais – especialmente durante a semana, quando as mesas se tornam espaço para trabalho, e as operações oferecem comidinhas, cafés, lanches e drinks muito gostosos.

Pois neste sábado a cantora e compositora Gabi Nogueira sobe ao palco do local a partir das 19h com um repertório que passa por clássicos da música brasileira como Alcione, Caetano Veloso, Djavan e Lenine, além de sucessos contemporâneos de Baco Exu do Blues e Luísa Sonza. Em 2023, Gabi teve seu talento reconhecido com a pré-indicação da canção Nem Por um Segundo ao Grammy Latino.

O espaço oferece isenção de estacionamento de acordo com o valor de consumo. O Food Hall Country fica no 2º andar do Bourbon Shopping Country (Av. Túlio de Rose, 80 - Passo d’Areia, Porto Alegre). Mais informações em @foodhallcountry.


08 de Março de 2025
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Maioria vota para manter bloqueio do Rumble

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria de votos em plenário virtual na sexta-feira para manter a suspensão da plataforma de vídeos Rumble no Brasil. Os ministros Flávio Dino e Cristiano Zanin seguiram o voto do relator, Alexandre de Moraes.

A decisão vale até que a empresa cumpra ordens judiciais e indique um representante legal no Brasil, conforme prevê a legislação.

Moraes determinou o bloqueio do Rumble, que é similar ao YouTube e muito popular entre conservadores, no dia 21 de fevereiro. Na véspera, ele havia determinado que a plataforma informasse, em 48 horas, um representante legal no país. O imbróglio tem como pano de fundo os canais do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, acusado de disseminar desinformação e ataques contra as instituições.

Ação nos EUA

No mês passado, o Rumble apresentou à justiça dos Estados Unidos uma ação contra Moraes. O processo foi aberto com a Trump Media, de propriedade do presidente Donald Trump. As empresas acusaram Moraes de censura e pediam que ordens para derrubada de contas de usuários do Rumble não tivessem efeito legal nos EUA. A liminar foi rejeitada. 



08 DE MARÇO DE 2025
CONSELHO EDITORIAL - Rodrigo Müzell

Gerente-executivo de jornalismo digital e membro do Conselho Editorial da RBS

Maratonas de cobertura

Um dos grandes desafios brasileiros é criar políticas de Estado que ultrapassem mandatos e não dependam da boa vontade dos governantes. Afinal, grandes desafios não se resolvem em quatro anos e precisam de consenso na sociedade para que sejam encarados de forma eficiente.

São maratonas, não corridas de 100 metros rasos. No Rio Grande do Sul, a reconstrução após as enchentes e o aumento da resistência às mudanças climáticas são exemplos disso.

O jornalismo é responsável por ajudar a sociedade a superar esses desafios ao provocar o debate público sobre os temas que exigem um olhar de longo prazo. Mas este papel, que é fundamental em uma democracia, também é cada vez mais complexo para a imprensa:

1) É preciso ter jornalistas nos veículos que entendam em profundidade os assuntos. Conheçam não só os desafios, mas também como funcionam os mecanismos, no setor público e no privado, que farão um projeto ter sucesso ou não. Por exemplo, ao acompanhar uma obra relevante para uma comunidade, os jornalistas precisam compreender o projeto, mas também as formas de financiamento e repasse das verbas, a costura política que leva a sua definição, as decisões técnicas tomadas. Tudo isso para fazer as perguntas corretas e, sobretudo, traduzir as respostas para o público.

2) É preciso chamar atenção para o assunto de um público que tem cada vez menos atenção disponível. Melhorar a educação, a saúde ou a economia são tarefas complicadas, cheias de prós e contras e sem uma resposta 100% certa. Tipo de conteúdo que dá alergia na dinâmica de polarização que domina as redes sociais, em que os primeiros dois segundos de um vídeo são quando o usuário decide se vê ou não o conteúdo.

É natural. Bem menos gente clicaria numa notícia sobre qual maratonista lidera o 14º quilômetro da corrida do que na matéria que informa o vencedor. Mas, quando o assunto é o desenvolvimento do lugar em que vivemos, saber a situação parcial é muito importante, e o jornalismo precisa achar a forma adequada para atrair o público.

Conhecer o que funciona melhor para cada tipo de assunto é um caminho. As experiências das redações em personalizar o conteúdo para seus leitores fiéis também ajudam. Explicar a cada um quais são as consequências dos grandes desafios em sua vida e apostar em reportagens investigativas e formatos interativos, como infográficos, vídeos e podcasts, pode ser essencial para garantir o engajamento do público.

Às vezes, é desanimador cobrir assuntos em que os avanços são lentos, as discussões são muitas, a disputa política atrapalha e as novidades não abundam. Por isso é tão importante o trabalho paciente, dentro das redações, de acompanhamento criterioso dos grandes temas: há pouca gente disposta a fazer isso. É um compromisso do qual o jornalismo não pode se abster. _

CONSELHO EDITORIAL


08 de Março de 2025
COM A PALAVRA - Ivette Brandalise

Com a Palavra

Formada em Jornalismo, Ciências Sociais e Psicologia, é a primeira mulher a ocupar um espaço de opinião no rádio e na TV no Rio Grande do Sul

"Vivemos uma crise do pensamento"

Em duas horas de entrevista, Ivette Brandalise mantém o rigor e o olhar apurado ao esquadrinhar o mundo contemporâneo. E envereda pelo fio da memória recordando momentos de sua história, que se funde, muitas vezes, com a do jornalismo gaúcho

Rodrigo Celente

 Há quem diga que vivemos na era em que a tela dos aparelhos digitais é o real. Não achas que a visão crítica das pessoas tem sido deturpada?

Hoje, quando tu falas em crítica, as pessoas entendem como briga. Quando, na verdade, essa análise crítica é fundamental, tem de ter na hora de ler um livro, ver um filme, conversar. As pessoas não entendem mais o que significa discutir. É na discussão que tu te enriqueces.

O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) dizia que as relações sociais no mundo contemporâneo se liquefazem a cada instante, que vivemos uma eterna insatisfação.

A gente está vivendo uma crise do pensamento, da consciência do eu, de quem eu sou. A gente está mais preocupada em ser interessante para o outro. Usar o cabelo, a roupa que os outros gostam. Você está sempre enxergando como é que o outro está vivendo, e aí tem de buscar fazer aquilo. E daí vem a frustração, a inveja. Na verdade, você tem de descobrir quem você é para você. Você tem que aprender a gostar de você.

Nancy Huston, no livro A Espécie Fabuladora, defende a tese de que o que diferencia o ser humano é nossa capacidade de contar histórias. Que precisamos disso para dar sentido à vida. Tu concordas?

O viver é mais intenso para quem vai construindo a sua história. Mas nem todo mundo tem condições de contar e aprovar a sua história. Às vezes, tu vives e trabalhas e fazes coisas que não gostarias. Se a gente tem capacidade e consciência daquilo que está construindo, até pode mudar de rumo, de repente. Porque, primeiro, tem de respeitar a ti, agradar você, depois o outro. A tua história tem de ser boa e produtiva para ti.

? Nasceste em Videira, no oeste de Santa Catarina. Como foi a tua infância?

Foi uma infância muito boa, porque numa cidade pequena a gente é amiga de todo mundo. Eu brincava na rua, andava de bicicleta, jogava futebol com os guris, subia em árvore.

E por que saíste de lá?

Quando eu cheguei no antigo ginásio, atualmente Ensino Fundamental, o ensino era muito fraco em Santa Catarina. Então, em 1953, eu vim para Porto Alegre, para o internato no Bom Conselho. Fiquei dois anos e meio. Depois, fui para o colégio estadual Júlio de Castilhos (Julinho).

Foi no Julinho que despertou o interesse pelo jornalismo?

Conheci no Júlio de Castilhos uma pessoa que era apaixonada pelo Jornalismo, Gladys Cotliarenko, e ela terminou me seduzindo para a profissão que ela tinha escolhido. Eu me encantei mesmo com as possibilidades do Jornalismo, de conhecer o mundo. Então, na hora de fazer vestibular, optei por Jornalismo na UFRGS e, por garantia, Ciências Sociais na PUCRS.

Como o teatro entrou na tua vida?

Conheci o Antonio Abujamra quando estava na PUCRS. Ele estava aqui a convite do Teatro Universitário, grupo amador. Na ocasião, eu estava fazendo a peça À Margem da Vida, de Tennessee Williams, com Lilian Lemmertz e Luiz Carlos Maciel. Fiz alguns espetáculos com ele, que comandava o Teatro Estúdio.

Caído o pano do teatro, ingressaste na vida de jornalista. Começaste fazendo o quê?

Comecei no Diário de Notícias. Celito de Grandi era o meu editor. Foi uma pessoa que me ajudou muito, me estimulou, me deu confiança. E cheguei, mais uma vez, por intermédio da Gladys. Ela estava passando para outro emprego. E eu te confesso que não tinha experiência. Então, no começo, foi bem difícil.

Como foi essa entrada na televisão?

A Célia Ribeiro, que trabalhava também no Diário de Notícias, me convidou para fazer o programa Revista da Semana, dentro da televisão Piratini. Foi a minha primeira experiência de TV que resultou também na minha inclusão no jornal Show de Notícias, na TV Gaúcha. Eles estavam procurando uma mulher que tivesse autoridade para fazer crítica. Eu fui a primeira mulher a fazer jornalismo opinativo em TV.

Na Rádio Guaíba, ficaste vários anos com um programa. Como foi a tua entrada no rádio?

O Flávio Alcaraz Gomes me chamou para fazer um programa, que foi batizado com o nome de Cinco Minutos com Ivette Brandalise. Durou 20 anos. Era um comentário crítico. Fui a primeira mulher a ocupar um espaço deste tipo no rádio gaúcho.

Atuaste como jornalista durante a ditadura militar (1964-1985). Vivenciaste diretamente algum tipo de censura?

Na Rádio Guaíba, o Osmar Meletti ouvia meus comentários antes de ir ao ar. Foi o Flávio Alcaraz Gomes que designou ele. Aprendi a falar e a escrever nas entrelinhas. No jornal, passei pela censura dos editores, claro, era preciso ter todo o cuidado com o que seria publicado. Lembro que tive crônicas censuradas, então resolvi falar diretamente com o doutor Breno Caldas. Pedi que os editores mandassem para ele quando achassem que poderia ter algum problema. E nunca mais me censuraram.

Qual a história do programa Primeira Pessoa, onde permaneceu por 27 anos?

Era a partir das deixas, das lacunas que eu ia emendando as perguntas e assim a pessoa ia se revelando. E o cenário escurinho, com a câmera mais fechada, deixava tudo mais intimista.

Teu encantamento pelo jornalismo tinha a ver com a ideia de conhecer o mundo. Viajaste bastante?

Eu viajei muito. Meu marido também gostava muito, então aproveitamos. Israel, Dinamarca e Cairo foram lugares impactantes. Claro, sem contar os roteiros tradicionais. Paris, Roma, Nova York, por exemplo, são cidades que eu amo. Mas, não, hoje não consigo mais. Tive um problema de circulação nas pernas, que já não funcionam tão bem. Então, a minha vida ficou mais limitada. 


PIB avança 3,4%, mas desacelera no quarto trimestre

Alta em 2024 foi puxada por forte avanço no consumo das famílias e pelos setores dos serviços e da indústria. Porém, de setembro a dezembro, a atividade ficou próxima da estabilidade. E há sinais de menor fôlego em 2025, em meio ao aumento dos juros e à inflação persistente

A economia brasileira cresceu 3,4% em 2024, a maior expansão desde 2021. Ao mesmo tempo, deu sinais de desaceleração no quarto trimestre, quando o avanço foi de 0,2% em relação aos três meses imediatamente anteriores. Os dados foram divulgados na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o IBGE, o PIB (conjunto de bens e serviços produzidos no país) chegou a R$ 11,7 trilhões no ano passado. Pelo lado da produção, os setores de serviços e indústria empurraram a atividade econômica para cima, com altas de 3,7% e 3,3%, respectivamente, na comparação com 2023. Por outro lado, a agropecuária apresentou recuo de 3,2%.

Três segmentos foram responsáveis por cerca da metade do crescimento do PIB em 2024: outras atividades de serviços, indústria de transformação e comércio.

Investimentos

Pela ótica da demanda, o destaque foi o consumo das famílias, com expansão de 4,8%. De acordo com a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, a explicação está ligada à disponibilidade de renda para a população.

- Tivemos uma conjunção positiva, como os programas de transferência de renda do governo, a continuação da melhoria do mercado de trabalho e os juros que foram, em média, mais baixos que em 2023 - analisa.

O Brasil terminou 2024 com taxa de desemprego de 6,6%, a menor já registrada. Segundo o IBGE, a taxa básica de juro (Selic) média do ano passado ficou em 10,9% ao ano (a.a.), contra 13% a.a. em 2023.

Outro destaque foi a formação bruta de capital fixo, que representa os investimentos, com crescimento de 7,3%. Embora seja uma alta superior ao consumo das famílias, tem peso menor no cálculo do PIB.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou resultado do PIB, embora o número tenha sido menor do que ele próprio previa. Lula falou em diversos discursos recentes que a economia brasileira se expandiria 3,8%.

Mais tarde, em cerimônia de entregas e anúncios para a reforma agrária em Minas Gerais, Lula afirmou que em 2025 "vai crescer mais o PIB, o salário mínimo, a renda, a distribuição de terras, a distribuição de terras para indígenas, vai aumentar mais a produção de emprego".

Perto da estabilidade

No quarto trimestre, especificamente, a economia se expandiu 0,2%, próximo da estabilidade. Para Palis, um dos motivos de o país não ter crescido mais nos últimos três meses do ano foi a inflação e a alta dos juros - medida do Banco Central para combater o aumento de preços, porém com efeito de freio na atividade econômica.

- No quarto trimestre de 2024, o que chama atenção é que o PIB ficou praticamente estável, com crescimento nos investimentos, mas com queda no consumo das famílias. Isso porque tivemos um pouco de aceleração da inflação, principalmente a de alimentos. E os juros começaram a subir em setembro do ano passado, o que já impactou no quarto trimestre - explica Rebeca. _

Em um ritmo menor em 2025 - Vinicius Coimbra

Inflação, crédito caro e incertezas na economia global devem ser os responsáveis por um PIB menor em 2025, apontam especialistas. O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz, aponta que o resultado da atividade econômica no ano passado se deu sobre forte aumento do consumo das famílias, pelos impulsos fiscais, "o que torna o modelo de crescimento insustentável e com efeitos colaterais indesejáveis, como a crescente inflação que observamos".

Segundo Oscar Frank Junior, economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, a desaceleração observada no quarto trimestre, incertezas quanto à política econômica global, com destaque para a atuação do presidente dos EUA, Donald Trump, tendem a prejudicar o crescimento brasileiro em 2025.

- Ambientes de volatilidade tornam mais difícil antever o futuro. Com menor previsibilidade, os agentes econômicos naturalmente se retraem em suas decisões - argumenta Frank Junior.

Dados do início deste ano alertam para um cenário de dificuldades. Frank Junior cita a queda, em fevereiro, do Índice de Confiança do Consumidor (ICC), divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), que apresentou o menor patamar desde agosto de 2022. Outro indicativo ruim foi o índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) de janeiro, que caiu para 47,6 pontos após 51,6 em dezembro, resultado que indica a primeira contração desde setembro de 2023.

- Não imagino que a economia brasileira entre em recessão no primeiro semestre. Teremos a contabilização da safra de grãos, que deve ser boa e contribuir para o resultado do setor primário e transbordar para outros segmentos da indústria e serviços. Mas os setores secundário e terciário vão sofrer as consequências do cenário que estamos inseridos. A incógnita é para o segundo semestre, em que poderemos entrar em recessão técnica. Devemos crescer bem menos que em 2023 e 2024 - acrescenta o economista-chefe da CDL de Porto Alegre. 



08 de Março de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

PIB e investimentos aliviam tensão do governo

Para a maioria da população , o crescimento do PIB é uma abstração que não faz diferença na sua vida (embora faça). Por isso, a boa notícia de que o PIB cresceu 3,4% em 2024 e que os investimentos das empresas aumentaram mais do que o dobro não deve mexer no ponteiro da popularidade do presidente Lula.

Os dados que mexem com a vida das pessoas compõem o índice que sintetiza a riqueza gerada ao longo do ano. Se o PIB cresceu 3,4% é porque as empresas produziram mais e isso significa mais empregos, o que também aparece no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) ou na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Emprego significa aumento da renda e isso movimenta a economia.

No início de 2024, a previsão do mercado era de um crescimento de 1,5%. O mercado erra mais do que acerta nesse tipo de previsão. Nos últimos 13 anos, acertou a previsão em seis e errou em sete.

Quem planeja investimentos não pode se basear nessas previsões, sob pena de perder dinheiro. Também não pode se basear apenas no discurso oficial, que em qualquer governo tende a pintar cenários mais atraentes do que são.

Prioridade é o preço dos alimentos

Hoje, a preocupação maior dos brasileiros é com o preço dos alimentos, que, segundo a Associação Brasileira dos Supermercados, já começou a cair.

Como os dados levam em conta a média praticada, é natural que nem todos percebam essas quedas e questionem a veracidade dos números.

As medidas anunciadas pelo governo para conter os preços são as mesmas adotadas em gestões anteriores. Não há originalidade em zerar as alíquotas de importação para forçar a queda dos preços internos. É um instrumento tão óbvio quanto aumentar o juro para segurar a inflação, que nem sempre funciona.

O governo precisava fazer alguma coisa para segurar os preços. Mesmo que tenha feito para melhorar a popularidade, o que importa é o resultado. Se a inflação cair, ganhamos todos, menos os que torcem pelo fundo do poço. _

Mais uma bomba será detonada pelo repórter Giovani Grizzotti no "Fantástico" deste domingo. Envolve licitações fraudulentas e desvio de dinheiro público. Quem tem culpa no cartório já pode ir perdendo o sono.

Giruá terá serviço especializado de atendimento à mulher

Na véspera do Dia Internacional da Mulher, o governador Eduardo Leite e a secretária da Saúde, Arita Bergmann, anunciaram, durante a inauguração da reforma do Centro Especializado em Reabilitação do Hospital São José, em Giruá, a implantação do sétimo SER Mulher no Estado. O serviço especializado no atendimento integral à saúde da mulher atenderá 22 municípios.

- Queremos chegar a 19 centros no Estado, garantindo que mulheres de todas as regiões tenham acesso - afirmou Leite, na ocasião. _

Mesmo com estiagem, irrigação não decola no RS

Chegou a 200 o número de municípios no RS em situação de emergência por causa da estiagem, menos de um ano depois do dilúvio que deixou boa parte do Estado submersa.

Por que não se guarda a água da chuva? Por que só temos 4% das lavouras irrigadas? A produtividade de uma lavoura irrigada pode ser o dobro de uma outra que depende da chuva. Mesmo assim, os programas não decolam.

Na segunda-feira, na Expodireto, o deputado Rodrigo Zucco (Republicanos) lança uma Frente Parlamentar da Irrigação. Será que adianta? Não enquanto os produtores não se convencerem de que irrigação é investimento e não gasto. _

Bolsonaro faz pedido razoável

Na defesa prévia apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) em resposta à denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente Jair Bolsonaro fez pedidos absurdos, como o de anulação da delação de Mauro Cid, mas um deles é absolutamente razoável: ser julgado pelo plenário da Corte e não por uma turma de cinco ministros.

É legítimo que Bolsonaro e outros acusados de envolvimento na tentativa de golpe, em 2022, sejam julgados pelos 11 ministros. Como não terão direito a recurso, não podem ter seu destino decidido em uma das turmas.

Da mesma forma, é importante que Bolsonaro, como qualquer outro acusado, tenha direito à ampla defesa e ao contraditório. Logo, seus advogados devem ter acesso a todo o material que embasa a denúncia na íntegra.

O ministro Alexandre de Moraes garantiu que os advogados têm acesso integral aos autos. _

Deputado instala placas com nome de Lula em obras federais

Na ânsia de valorizar os investimentos do governo federal no Rio Grande do Sul, o deputado estadual Adão Pretto (PT) pode estar criando um problema para o presidente Lula. Pretto decidiu instalar placas destacando as obras federais em andamento, com a inscrição "Obra do governo Lula". No alto, ainda colocou a marca do governo e seu nome na parte de baixo.

A lei diz que a propaganda de governo deve ser impessoal, sem contar o nome do presidente, governador ou prefeito. Mesmo que a placa seja de autoria do deputado, que é do mesmo partido do presidente, Pretto está dando munição para os adversários entrarem com ações judiciais. 

POLÍTICA E PODER

08 de Março de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Consulado dos EUA em Porto Alegre deve "sobreviver"

Coerente com seu slogan "America First" (América Primeiro), o governo Donald Trump deve cortar dezenas de consulados e outras representações pelo mundo - entre eles no Brasil. A informação foi divulgada inicialmente pelo jornal The New York Times e confirmada pela coluna junto a fontes diplomáticas, sob anonimato.

No Brasil, o principal alvo deve ser o Escritório da Embaixada dos EUA em Belo Horizonte, que não tem status de consulado, ou seja, não emite vistos. O consulado americano em Porto Alegre não está, a princípio, na lista das representações diplomáticas americanas a serem fechadas por Trump.

O prédio foi reaberto em 2017, depois de 21 anos fechado. Desde então, a representação diplomática, localizada na zona norte na Capital, tem estreitado laços entre EUA e Rio Grande do Sul e facilitado a vida dos gaúchos que desejam fazer visto americano. Há consulados também em Recife, Rio de Janeiro e São Paulo - além do escritório em Belo Horizonte e da embaixada, em Brasília.

O clima entre funcionários das representações no Brasil é de incerteza. Circula internamente a informação de que serão cortados 20% dos quadros de forma geral do departamento - o que inclui os funcionários no Exterior -, mas não está claro como isso ocorrerá.

Conforme fontes, o escritório de Belo Horizonte não fornece vistos - logo, não seria rentável, o que pode ser um dos motivos para o encerramento das operações.

Nem os consulados nem a embaixada comentam oficialmente os possíveis cortes - todos os pedidos de esclarecimentos por parte da imprensa estão sendo endereçados para a sede do Departamento de Estado, em Washington.

Redução de imagem

Ao fechar representações pelo mundo, os Estados Unidos diminuem a projeção de sua imagem e interesses globais - ironicamente, em um momento em que a China, principal rival estratégico americano, vem crescendo em influência. Atualmente, segundo estudo do Lowy Institute, os EUA contam com 271 postos diplomáticos, contra 274 da China.

Conforme a reportagem do The New York Times, os consulados mais atingidos estão localizados na Europa. Há uma lista de funcionários do Departamento de Estado compartilhada com o Congresso americano citando algumas das representações que deveriam ser fechadas: estão incluídos os consulados em Florença (Itália), Estrasburgo (França), Hamburgo (Alemanha) e Ponta Delgada (Portugal). Nesse texto, há a inclusão do que seria um consulado no Brasil - embora, possa ser a agência de Belo Horizonte.

O plano faz parte de um ajuste mais amplo promovido por Trump, que tem como assessor Elon Musk, responsável por cortes em agências e departamentos em busca do que seria considerado pela Casa Branca "desperdício governamental". _

Anulação de licença negada

A Justiça Federal indeferiu o pedido liminar de anulação da licença prévia e de instalação da construção de uma estação de tratamento de esgoto (ETE) no Rio Tramandaí, no Litoral Norte.

Trata-se de efluentes de uma obra entre Xangri-lá e Capão da Canoa. A decisão foi publicada na quinta-feira e o pedido era de anulação da licença concedida pela Fepam à Corsan. A ação civil pública foi ajuizada pelo Ministério Público Federal (MPF) e estadual em fevereiro deste ano.

Na decisão, o juiz da 9ª Vara Federal de Porto Alegre, Bruno Brum Ribas, afirmou que não vê motivos para a suspensão da licença e também não vê a existência de perigo ou risco ao resultado útil do processo. No despacho, o juiz também marcou para o dia 15 de abril uma audiência de conciliação entre as partes.

Segundo a Corsan, o despacho da Justiça Federal se alinha com a decisão da Justiça Estadual já proferida em julgamento das ações civis públicas propostas pelos municípios de Tramandaí e Imbé. Procurado, o MPF disse que está analisando a decisão e, em princípio, irá recorrer. _

Fuzileiros navais comemoram 217 anos

Em comemoração aos 217 anos de existência, o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) apresentou, no Rio de Janeiro, na sexta-feira, novos equipamentos e armas em cerimônia que marcou o Dia dos Fuzileiros Navais.

Entre os novos itens, estão o Míssil Antinavio Nacional, lançado da terra, e a viatura blindada JLTV, além dos já tradicionais carros lagarta anfíbios (CLAnf) e as viaturas blindadas Piranha, dentre outros modelos.

No evento, estiveram presentes as primeiras mulheres combatentes fuzileiros navais incorporadas em 2024 e já integradas. Também houve desfile de viaturas militares e entrega de medalhas. _

O que mais chamou atenção na Holanda

O Conversas Cruzadas de quinta-feira recebeu representantes da comitiva do Estado e de Porto Alegre para saber, principalmente, o que mais chamou a atenção do grupo e os seus principais aprendizados durante a viagem que realizaram por mais de uma semana na Holanda. _

Pedro Capeluppi - Secretário da Reconstrução Gaúcha

"É a relação entre os holandeses, a água e a preocupação de construir soluções junto com a natureza. Obter sucesso nesse tipo de estratégia requer muita cooperação entre todos. O que mais podemos usar aqui é essa necessidade de trabalhar em conjunto, de buscar e planejar soluções que têm de ser implementadas até o seu final."

Germano Bremm -Secretário do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade de POA

"Há uma necessidade de sobrevivência do país como um todo, não isoladamente a cidade. O prefeito comenta muito isso entre universidade, a academia em si, o setor empresarial, os governos, no sentido de cada um dentro da sua área expertise e produzir as respostas e, efetivamente, fazer transformação."

Marjorie Kauffmann - Secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura do Estado

"Visitamos as obras já feitas, mas também tivemos conhecimento de um momento em que a comunidade toda, as universidades, os institutos, entregaram projetos para o futuro. O que os especialistas entendem que deva ser feito para que, em 2100, os Países Baixos estejam tranquilos. Precisamos desse amadurecimento."

Bruno Vanuzzi - Diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae)

"Há um pragmatismo a respeito de como enfrentar os desafios. Aquela quádrupla hélice que tanto se fala - governo, sociedade, academia, empresas - lá realmente funciona de forma coordenada. A noção de que a mudança climática é um risco para a sociedade é muito mais presente, mais palpável, o que gera responsabilidade maior de todos os atores."

INFORME ESPECIAL

sábado, 1 de março de 2025



01 de Março de 2025 

EXPECTATIVA - Kelly Matos* 

EXPECTATIVA 

Estamos lá. Sensações de viver o clima real do Oscar 

Andar pelas ruas da cidade da cerimônia do prêmio e participar de eventos oficiais pode dar ainda mais a dimensão da conquista realizada pelo longa-metragem de Walter Salles. Entre muita emoção e elogios de pessoas ligadas à indústria, fica o orgulho de uma nação que já venceu, não importa o resultado. 

Eu me emocionei de verdade ao ver a plateia vibrar quando o clipe de Ainda Estou Aqui foi exibido no telão do auditório do Academy Musem of Motion Pictures, em Los Angeles, na quinta-feira. Era a cena da chegada dos agentes do Estado brasileiro na casa da família Paiva, quando Eunice e as crianças encontram Rubens pela última vez. Cinco filhos ficariam órfãos de pai dali em diante. 

Último abraço 

Nessa sequência, em um dos momentos mais emocionantes da obra de Walter Salles, Nalu (Bárbara Luz) chega da praia e, em sua inocência infantojuvenil, não percebe a tensão do ambiente - agora controlado por repressores. Em tempo: é possível observar a oposição entre o som da vida lá fora e o silêncio imposto pela ditadura. 

Nalu, então, sobe ao quarto para buscar uma camisa do pai e, ao percebê-lo vestindo-se formalmente, questiona para onde ele iria "todo lindo desse jeito". Com ternura, Rubens (Selton Mello) sorri e responde: "Eu já volto, filha". A pequena não sabia, mas o público compreende a sutileza e a dor daquele abraço que não aconteceria nunca mais. 

- Esse filme tocou profundamente meu coração - disse, com a voz embargada, Jennifer Fox, produtora reconhecida na indústria do cinema e já indicada ao Oscar de melhor filme. 

Pertencimento 

A Zero Hora, o produtor Rodrigo Teixeira, de Ainda Estou Aqui, contou ter testemunhado os olhos marejados de Jennifer, ao lado dela, no palco do auditório. 

E é sobre essa emoção que queria falar. De tudo que se ouve por aqui, na cidade onde o Oscar acontece. "É um filme lindo", "É como se estivéssemos naquela casa, junto com eles". Há um poder especial, impresso em cada uma das performances do elenco e das sutilezas da direção de Walter. 

E se há algo que o brasileiro sabe fazer é ser coração. Na calçada da fama, deparei-me nesses últimos dias com brasileiros emocionados, outros com a certeza de que alguma das três estatuetas, ao menos uma!, levaremos para casa. É difícil dizer, mas estamos nesse lugar: de orgulho, de pertencimento, de amor pelo cinema produzido no nosso país. 

Por isso, não há como discordar da frase da atriz Fernanda Torres, meses antes de receber sua indicação ao Oscar, quando perguntada sobre a premiação e a indicação de sua mãe, Fernanda Montenegro. Disse ela: "quando um ator brasileiro, falando português, é nomeado, ele já ganhou, pode estourar champanhe". É isso. Nós ganhamos. Mesmo antes do resultado final. E sabe de uma coisa? O Brasil merece. Nós merecemos. Nós vamos sorrir. _ 

* Direto de Los Angeles 

Quando será o Oscar e onde assistir? 

Quando: 

2 de março, domingo, a partir das 21h 

Onde: 

Dolby Theatre, Los Angeles, Estados Unidos 

Onde assistir: 

o evento será transmitido pelo canal por assinatura TNT, pelo streaming Max e pela RBS TV 

 

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